repetir?

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somos todos vencedores? ou perdedores na mesma medida?
a humanidade é realmente cruel ao ponto de ferir os sentimentos de alguém, seja por meio concreto ou abstrato?
o cheiro putrefato da esperança contida em milhares de almas descartadas se propaga entre os muros erguidos a partir de seus corpos estilhaçados e de sonhos impedidos que já não me fazem tão mal assim.

a desgraça é rotineira quando vive-se cercado por animais corruptos, nascidos em requintados viveiros, sem ao menos saber a dificuldade que se encontra no início diário do caminhar.
até mesmo na monotonia das ruas vazias, presentes no entardecer do inverno, uma coruja te resguarda de bem longe. com seus olhos atiçados e atentos, ela lhe mostra inconscientemente o que fazer, para cair diretamente as garras do inimigo, escritas com letras engarrafadas e miúdas na coluna incolor e desprezível do jornal, te dando um tchauzinho pela janela do carro.

poderia ser qualquer um deles. até mesmo seu melhor amigo poderia rebelar-se como um traidor caso meneasse as informações de um jeito descuidado e espalhafatoso.
riria dizendo que era louco e tomaria um pouco do refinado chá, na cabine do rapaz bigodudo de alta patente, persuadindo-o com o agradável de se ouvir. ele te deixaria atravancado nos fundos de um saco, esperando a fumaça dos lábios baixar para acertar-lhe a cabeça com a bituca do cigarro e promover-se com certa prontidão.
nem mesmo a benevolência do criador que nos resguarda poderia ajudar, visto que este não seria capaz de punir devidamente quem da melhor maneira criou.

o traidor sacar-ia sua arma e lhe atingiria no peito com um tiro certeiro no coração. não um tiro com balas de chumbo. mas sim com uma daquelas que se vê nos romances exagerados dos livros, no mais profundo espaço do desejo carnal e da satisfação. aquele que nunca fora estudado, nem mesmo pelos renomados cientistas.
acabar-iam-se perdidos em meio a tantas sensações infundadas nas entranhas e pensamentos confundíveis passageiros do cérebro. mas não sou assim.

e quer saber? esses teus olhos pintados na penumbra da noite não são capazes de me enganar! muito menos estes teus cabelos espatifados e esse teu jeito de boa moça.

sei muito bem que não devo ceder a quimera de cair de amores sem ao menos medir esforços por quem me apunhalar-ia pelas costas e jogaria-me aos porcos na primeira oportunidade, banhando-se de meu sangue com as costas encurvadas contidas numa cadeira de rodas, na ilusão fascínia da vitória. então eu afirmo e reafirmo “eu te amo, mas amanhã isso há de passar”.

𝄖 é efêmero ✧ lesserafimOnde histórias criam vida. Descubra agora