Um Estranho eu Permaneço

Capítulo Único - Escolha Estranha

  Faz um tempo que notei isso. Na verdade era só questão de tempo até eu perceber, isso ia vir á tona cedo ou tarde mesmo...afinal, quando se chega a certa idade você começa a notar seu lugar em meio as pessoas.

  Você costuma ver se é igual ou diferente dos outros, ou se você faz parte de um meio social, vê se possui as mesmas idéias ou não das pessoas que fazem parte deste mesmo meio.Mas mesmo com essa "diversidade" de visões, eu percebi que pra você se encaixar na sociedade você precisa ser diferente.

  Você não pode ser uma pessoa estática socialmente, você precisa agir fora do normal, e se movimentar com idéias e ideais para apoiar minorias, ou ideais próprios, e mostrar que você não é só mais um Zé ninguém. Você precisa se estabelecer, e pra isso você precisa fazer algo diferente.

  Viver em uma sociedade onde as pessoas escolhem ser diferentes parece meio contraditório né? Afinal, se todos escolhem ser diferentes então ocorre uma massificação, fazendo com que todos percam essa individualidade.

  E você tem que lembrar que está lidando com indivíduos, então as vezes pode ocorrer de notar pessoas que distorcem uma visão para usá-la de forma conveniente, ou pode ocorrer de você ver coisas contraditórias, tipo pessoas corruptas fingindo ser contra corrupção, ou pessoas que pregam sobre moral agindo de forma imoral. Essa questão vai muuuuuito longe...

  Conviver nesse meio da forma como eu vivo é meio complicado e que gera estranheza, e ainda tenho que sempre justificar o do porque não estou agindo como alguém "diferente".

  Existe algumas coisas que as pessoas apontam sobre mim, e que tais coisas deveriam me mover a fazer algo em holofotes, tipo entrar em discussões de política, moral, sexualidade, gênero, questões raciais e vários outros.

  Eu entendo sobre esses assuntos, e sei muito bem como lidar com eles então... só isso não basta? Eu realmente não me importo em gritar em holofotes, porque já tem várias pessoas fazendo isso, e sinceramente, acho que eu só quero ficar quieto na minha.

  • Eu tenho um nome mas isso não importa.
  • Eu tenho 16 anos, e isso não importa.
  • Eu sou muitos bom nos estudos, em todas as matérias, mas  
    isso não interessa.
  • Meus pais fazem parte de um comitê de manifestações   
    contra corrupção e injustiças políticas, e isso não me
    interessa.
  • Eu tenho um namorado, mas isso também não importa.

  Tudo que diz respeito á mim eu não faço grandes cerimônias, e isso é o que indaga as pessoas...

  —Você é um jovem que não quer participar ativamente sobre questões ideológicas?
  - Ah, sim eu não costumo me interessar nisso, gosto de ficar no meu lugar mesmo...

  —Você é um garoto tão inteligente, pode arranjar trabalhos incríveis, como médico, advogado, cientista, físico ou químico!
- Bem, realmente, mas na verdade eu tenho interesse em trabalhar como artista, eu adoro desenhar e ilustrar hehe.

  —Seus pais fazem parte de um comitê de manifestações contra corrupção política, porque não segue o caminho deles?
- Eu não gosto muito de debater sobre política, eu fico com dor de cabeça.

  —VOCÊ GOSTA DE GAROTOS, DEVIA ENTRAR PRA COMUNIDADE LGBT E AJUDAR EM DISCURSSÕES E SE TORNAR UM SÍMBOLO PARA VÁRIAS PESSOAS!!
- Bom, eu realmente tenho um namorado *beijo amor*, mas eu nunca me questionei muito sobre ser gay, bi ou pan, eu só conheci ele na escola, vi que tínhamos coisas em comum, comecei a gostar dele e aceitei isso. Eu apoio a comunidade lgbt, mas também não sinto muita vontade de fazer parte dela.

  Ouvia muito isso e sempre tinha que dar as mesmas justificativas. Muitos dizem que só estou disperdiçando tanto conhecimento, e provavelmente estão certos...eu poderia ajudar no desenvolvimento de vários indivíduos. Mas acho que já há várias pessoas que podem fazer isso. Não digo isso por não me importar com os outros, digo porque sei que há várias pessoas boas por aí.

  Antes eu também sempre ouvia alguém falar que achava estranho minhas atitudes, e sempre me chamavam de estranho. Antes eu não sabia o que pensar ao ouvir isso, mas minha visão começou a mudar depois de um tempo.

  Eu sou um estranho.
  Não sou igual, não sou diferente, sou um estranho.
  Eu adotei essa palavra para definir a mim mesmo em meio aos outros, e isso sempre parece fazer muito sentido.
  E agora pra todos, inclusive pra mim, um estranho eu permaneço.
  Pra minha vida inteira um estranho eu permanecerei.

  Ei...isso em si não é ser diferente? Hehehe