Era por volta das sete horas da manhã quando meu celular começou a soar por conta do despertador que eu tinha colocado na noite anterior. Confesso que faz tanto tempo que ouço esse toque, que é inevitável não me sentir ansiosa toda vez que ele toca, como se fosse a trilha sonora perfeita da minha ida ao abate (o abate, nesse caso, seria a escola).
Acho que apenas consegui dormir por conta de um chá extremamente forte japonês que havia comprado numa loja de conveniência meio duvidosa há algumas semanas.
Acontece que eu não consigo parar de pensar sobre o que mandar para a CarlArts. Eu me deparo que ainda estou com o notebook ligado na mesma página de admissão para o curso e eu me encontro na mesmíssima posição: com um bloqueio mental/criativo absurdo. Sem contar que as pessoas da escola cismaram que eu sou um tal de KingPun, alguém que está "vandalizando" a escola com a sua arte, e agora o Instagram não para de me notificar que fui marcada em alguma publicação dele. Obrigada, Tim.Arte precisa ser subjetiva, mas a arte do KingPun é subjetivamente boa, enquanto a minha é objetivamente... Defeituosa. E ela se encontra assim no pior momento possível! Eu realmente preciso estar na minha melhor fase para conseguir entrar no programa de verão da CalArts, o meu curso dos sonhos, literalmente, já que de tanto pensar nisso, estou até sonhando.
Eu olho a proposta de projeto pela milésima vez na semana: De acordo com sua preferência, mostre-nos o seu momento mais feliz.
- É sério isso? Que proposta vaga de merda. - Pensei alto. Proposta vaga de merda, essa, que vai determinar se eu tenho chance de entrar em uma das escolas mais concorridas no país, o que vai determinar se eu tenho um futuro em artes completamente.
- Mas sem pressão... - Eu disse em um suspiro.
Eu peguei o tablet para dar uma olhada no que já tinha desenhado, tentando analisar mais uma vez se algum daqueles desenhos poderiam se encaixar no meu momento mais feliz.
Como responder essa pergunta impossivelmente impossível? Sei que é clichê, mas e se meu momento mais feliz foi quando eu me assumi pra minha mãe? Lembro que, naquele dia, ela estava tão agitada pois algum cano tinha dado problema embaixo da pia da cozinha. E apesar de conhecê-la muito bem, eu não fazia ideia de como ela poderia reagir, por isso falei em um momento que ela estava distraída.
- Tá bom, agora pode virar pra direita. - Eu disse, com o manual de instruções em mãos, sentada num banquinho perto do balcão, enquanto a minha mãe estava meio torta numa posição que não parecia muito confortável, tentando arrumar o vazamento do cano. - Também, eu acho que sou gay. Na verdade, eu tenho certeza que sou.
Aparentemente o que eu disse deu certo, pois ela se virou para me olhar depois de um certo tempo, colocando a ferramenta na base do armário. Nesse meio tempo, a coitadinha também conseguiu bater a cabeça. Ela estava muito agitada nesse dia.
- Ai... - Ela colocou a mão na cabeça numa tentativa falha de fazer a dor passar. - A Barbara da casa ao lado é gay!
- Ok? - Eu disse, meio confusa, tentando entender o que isso tinha a ver comigo.
- Desculpa, minha primeira reação foi mencionar outros gays que a gente conhece. Meu amor, estou tão feliz por você! - Ela estampou um sorriso gigante no rosto, procurando minha mão para fazermos nosso toque especial. Nós sempre fazíamos ele quando ela estava profundamente orgulhosa de mim. Ela sempre me apoiou em tudo.
- Paige! - Ouço ela me chamando, me despertando da memória em que havia ficado presa por alguns segundos. - Vamos, sem salgadinhos de maconha antes da escola. O Dillon está quase chegando, você vai se atrasar.
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O Amor Está Nas Cores
FanfictionEssa é a história sobre uma garota que decide entrar para o time de atletismo de sua escola com a intenção de resolver um mistério e finalmente dar o grande passo em relação a garota mais popular da escola, Gabriela Campos, por qual ela mantém uma p...