GUSTAVO BAEZ entrou na Clínica Geral, uma sala branca, espaçosa, e limpa com azulejos pretos e ásperos no chão, com duas fileiras de cadeiras almofadas - também escuras - grudadas ao longo das três paredes da sala de espera, encarando o balcão de informações.
Logo à entrada do lado esquerdo estava uma máquina com as senhas. Ele procurou, minuciosamente, no ecrã da máquina a opção Odontologia que encontrou no último botão do lado direito. Após premir o botão, Gustavo resgatou o seu pedaço quadrado de papel acabado de imprimir do queixo do ecrã. Ele olhou para a sua senha - B25 - e depois para a televisão, grudado na parede paralela à entrada, que servia como informante das respectivas senhas que estavam sendo atendidas naquele momento. Gustavo soltou um sopro de angústia apercebendo-se que teria que esperar mais tempo do que imaginado.
Na terceira linha na televisão estava a senha B17 e Gustavo sabia que quando se tratava de consultas em uma Clínica Geral, o tempo e as consultas moviam lentamente.
O rapaz desviou o olho do ecrã para o balcão de informações tangente à porta de entrada, paralelo a máquina de senhas.
Trabalhando no computador estava uma jovem, seu uniforme branco de tecido fino - com linhas finas azuis na vertical - mostrando o azul-escuro do seu soutien, a placa da mesma cor com o nome Sara Bristol em branco e ao lado da placa, as entradas que os intervalos dos botões faziam revelavam mais detalhes da renda florida do soutien.
Gustavo apercebeu-se que estava fitando os seios da secretaria - que ainda tinha toda a atenção no ecrã do computador - mas por mais graciosos, robustos e atraentes eles fossem, o rapaz desviou o olhar, primeiro para o pescoço liso de pele caramelizada, depois para os lábios finos que juntos formavam um coração e redondo – de cor rosa – pintados por um produto de cor suave - bochechas delineadas e rosto maquilhado, que aparentavam não ter mais do que vinte e cinco anos de idade e seus olhos, redondos, de cor avelã, de cílios longos e femininos - que ainda estavam fixos no ecrã do computador sem se aperceber da presença do rapaz a meros dois metros de distância - e por ultimo seu cabelo dourado e ondulado que terminava antes de tocarem os seus ombros.
A tosse de uma senhora idosa, sentada num dos bancos mais próximos ao balcão, despertou Sara do transe do ecrã e ao aperceber-se que o rapaz permanecia à entrada, sem mover a cabeça, desviou os seus olhos para os olhos negros de Gustavo, a seguir para o seu rosto juvenil e atraente de pele achocolatada com uma barba que não fora feita há duas semanas, seu cabelo curto, sua postura erecta e inquieta e seu estilo de roupa que não era comum naquele bairro – AllStar Converse vermelhos, calças de ganga azul-escuro, camisola branca com a gola de cor avermelhada em trespasse, cujo as mangas encontravam-se contraídas à meio do antebraço do rapaz.
Ele ao aperceber-se que a loira o fitava deixou escapar um sorriso embaraçado seguido de uma leve mordida no lábio inferior. A secretária sentiu suas bochechas aquecerem-se e um nó no estômago; uma estranha sensação de euforia repentina.
Ela suspirou fundo com uma expressão profissional e séria e tentando manter afastado o estranho cortejo de Gustavo, escondeu a sua vontade de sorrir, não que ele não fosse do seu agrado, mas pelo fato de já ter outro rapaz em sua vida e respeitar seu vínculo para com ele. Ela virou o rosto inteiramente para o rapaz sem desviar o seu olhar dos olhos de Gustavo.
- Posso ajudar? – Ela perguntou com o ar profissional sério, intacto e com um sotaque britânico escondido.
Gustavo abriu a boca para falar - Sara seguiu os lábios redondos e lisos atentamente como se estivesse hipnotizada - mas hesitou mordendo o lábio novamente antes de juntar os lábios no canto esquerdo.
Ele olhou para os dois lados procurando alguém que talvez quisesse assistência profissional, mas as pessoas estavam todas sentadas entretidas com suas revistas ou crianças, alguns com os telefones nas orelhas e outros enterrados mentalmente nos tablets.