Parte 22

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INDIGENTE
Richard Santeiro

São 9:15. O mesmo homem se
levanta do papelão e se prepara para mendigar. Seus dentes são podres, a roupa está rasgada, e fede tanto que é possível perceber que sofre de algum problema mental grave. Ele sorri com esperança ao estender sua mão, mas fora uma moça visivelmente ateia, ninguém se importa com a sua patética e repulsiva existência.
A noite cai. Com os trocados que a dama lhe deu, o sujeito vai até um bar onde compra um saco de biscoito e um copo de suco. Então quando a madrugada chega retorna ao lugar onde dormira antes, e se ajeita para outro dia miserável de sua vida. Porém desta vez o Senhor tem outros planos para ele.
Eu sou esse Senhor. Arax o príncipe da desonra, ou como esses idiotas ousam me chamar: Asmodeus o Senhor da Discórdia, também conhecido como Richard Santeiro, o grande amor falecido de Rosana Rosalina.
Corto a língua viscosa do sujeito, impedindo-o de falar. Depois o atiro no piso, enquanto o sinto se debater como um peixe fora d'água. Ele grunhe feito um gorila. Só que diferente do símio não tem forças para me deter. Por isso bato sua cabeça no chão até sangrar, e depois o liberto. Esta é a minha parte favorita de um rapto, e não quero abrir mão do meu prazer.
O verme desesperado rasteja pelo piso, sujando-se com o vermelho da própria vida. Há luzes ligadas. Tem pessoas nas janelas que estão ouvir e ficam a fofocar em vez de fazer alguma coisa para salvá-lo. Estão cansados da sua presença, e ainda que digam "Meu Deus", no fundo me agradecem por tirar o lixo da rua.
O desgraçado continua a tentar sobreviver, e tem mesmo a expectativa de quê vai escapar de mim. Entretanto quando chega ao meio fio, um estalo é ouvido e o próprio desfalece em meus braços, como se fosse um porco abatido para matar a fome.
Com o uso dos meus dons desapareço do local, e arrasto o cadáver do "sem nome" para dentro de uma das minhas magníficas estruturas de ferro, onde outros indigentes estão presos em caixões de cristal há meses, sem que ninguém dê falta dos mesmos. Já que graças ao meu poder principal, a empatia dos humanos se tornou praticamente inexistente.
Logo quando um humano olha para o mendigo, ele não vê alguém que precisa de auxilio, e sim uma pessoa preguiçosa que não aprendeu com a obstinação dos deficientes físicos, dos quais a maioria é formada por meus submissos.
Visto que se uma pessoa sem braços ou pernas consegue realizar feitos magníficos, é impossível admitir que quem tem membros intactos, seja incapaz de fazer o mesmo. É incrível como a conquista de alguns gera um desamor tão grande nos humanos que descontam no seu próximo.
Jogo o último macaco pelado que faltava, e fecho os 9 caixões, clicando num botão vermelho que também enche os recipientes com a essência dos arcontes e o sangue de minha irmã. Todos despertam e agonizam até a morte, enquanto são derretidos para se transformarem em combustível para a máquina que está á todo vapor.
Só que apesar de cada transformação radical que fiz no organismo destes inúteis, a única coisa que consigo gerar é uma fagulha de luz que se apaga tão rápido quanto um sopro. O quê me deixa bastante frustrado, já que isso significa que preciso daquela puta inútil, ou meus planos nunca vão funcionar.

 O quê me deixa bastante frustrado, já que isso significa que preciso daquela puta inútil, ou meus planos nunca vão funcionar

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