Parte 26

0 0 0
                                    

OPORTUNIDADE I
Jonas

Estou atrasado pro trabalho. Por conta de outra surpresa de Juliana que na hora do almoço me levou até o motel mais próximo, para curtimos nossa relação como casal, só que exageramos na dose, e acabei perdendo a hora.
Alicia é a primeira paciente da fila. Ela está de pé. Com os olhos semicerrados, e os braços cruzados, parecendo detestar a presença da minha namorada que também não colabora, e fica a sorrir descaradamente para a mesma, como se quisesse puxar briga.
Mas antes que alguma discussão se desenvolva entre as duas, dou um beijo no rosto de Ju e me recomponho. Quando abro os olhos Amato já está de costas para nós, se encaminhando para o consultório, tão rigidamente que é possível ouvir o marchar das solas de seus sapatos.

_Boa tarde.

Digo por pura compostura. Só que a mesma nem sequer responde. “Está com ciúme ou é impressão minha Lícia?” Sorrio ao pegar a prancheta.

_Está tudo bem Amato?

_Claro. Melhor impossível.

Ela revira os olhos com desdém e me sinto impelido a cavar ainda mais fundo. Se ela gosta de mim eu quero saber.

_Certo. Teve alguma alucinação recentemente?

_Acho que sim.

_Mesmo? Descreva-a para mim.

Digo olhando um pouco absorto. Se a situação é grave é melhor parar de provocar e ajudar.

_Estive no laboratório secreto. Onde meu médico me beijou e eu retribui, achando que ele gostava de mim. Só que agora sei que é um canalha que faz isso com qualquer uma. Então devo ter alucinado mesmo.

As palavras dela fazem a prepotência renascer dentro de mim. Estou vivenciando o clássico momento do amor que nasce da rejeição?

_Aquilo foi um erro.

Jogo verde para colher maduro, e pelo ranger de seus dentes tenho certeza de que atingi o meu objetivo.

_Você tem o Klaus, e se não for ele, é o Balthazar. Eu tenho que seguir em frente. Não é?

Acabo me deixando levar pelas emoções, e solto uma ironia cruel. Ao ver os seus olhos me arrependo amargamente. Ela está furiosa.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OPORTUNIDADE II
Jonas

_É.

Uma única letra sua liberta o pior de mim. Ela estava tentando me vencer. Mas eu não estava disposto a deixá-la ganhar. Por isso me sinto impelido a me aproximar. Saio de trás da mesa. Sento-me na cadeira da frente, e deixo que meus dedos ergam sua face de modo que olhe no fundo dos meus olhos.

_Sendo assim não há porquê demonstrar tanto ciúme.

Digo em voz baixa, e aquilo a pega de surpresa. Aparentemente não esperava que dissesse tal coisa tão diretamente. Entretanto para disfarçar ri, realizando o pior tipo de atuação que já vi.

_Ciúmes de ti com a Juliana Carvalho?! Quem tá surtando é
você agora!

Praticamente grita. Como se fosse um urro interno que precisava expressar. Está descontrolada, e gosto de vê-la assim. Ela pisou em mim. Me massacrou. E me manipulou para ficar fora da cadeia, achando que não sentiria nada. Contudo foi surpreendida por seu coração e agora se arrepende de suas artimanhas porquê sabe que me perdeu. Sinto o gosto da vingança, e esse sabor é tão irresistível quanto chocolate amargo. Portanto não quero parar de atormentá-la.

Silence Onde histórias criam vida. Descubra agora