Parte 40

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DESGASTADO
BALTHAZAR

Estou cansado, e minha boca sangra. No inicio consegui vencer mas agora não sei se serei capaz de manter o mesmo ritmo. Movo-me com rapidez, porém não tão rápido quanto deveria, e assim sinto-me ser arranhado. Por isso recuo. Estou vivendo com 35% da minha capacidade máxima, e no momento parece mais que já estou em menos de 5%.
A respiração se torna irregular. Escalo até o topo da rocha mais alta, e pouso na mesma, praticamente rezando para quê consiga ter pelo menos 5 segundos de vantagem para me recuperar. Mantenho a guarda fechada, e começo a tossir. O gosto ferroso e adocicado preenche minhas papilas gustativas. Estou literalmente cuspindo sangue, e como Alicia ainda não deu sinais de ter conseguido, sou obrigado a continuar a lutar.
Largo minha espada e meu escudo. Só há uma solução para ultrapassar os 35% e chegar a pelo menos 40%. "Espero ter um bom autocontrole." Penso antes de deixar minhas unhas crescerem ao ponto de se transformarem em garras. "Espero que seja o suficiente." Prossigo ao tirar minha armadura e rasgar meu tórax para produzir o selo de Leblyz. "Espero te amar ao ponto de não ter que lutar contigo!" Termino antes de sentir que minha consciência está se esvaindo para dá espaço a raiva e a adrenalina.
_Le Veat mi!









O VERDADEIRO NOME
ALICIA

Sou preenchida por tentáculos de energia que se transformam em agulhas e entram nas minhas veias. Grito apavorada e sou elevada até a superfície do pélago onde vejo que as nuvens antes vermelhas agora são cinzas. Meu corpo dói. As águas produzidas com as almas que perderam suas consciências entram no meu organismo e se transformam no meu próprio sangue. Sinto o poder que elas produzem, e a força pulsante do coração que parece prestes a fugir do meu peito.
Quanto mais espíritos ingiro, mais a maré diminui, como se o miocárdio secasse a água a medida que o poder se adapta ao meu organismo. É um processo doloroso. Por isso não posso me mover ou as pontas afiadas vão me furar ainda mais. Respiro fundo e ao olhar em direção a terra firme, sou capaz de assistir a batalha de Baltar que aparentemente está em desvantagem, pois toda vez que mata uma criatura semelhante ao Minotauro, outras doze o atacam.
De repente o céu que parecia ter clareado um pouco, volta a escurecer, e me deparo com Asmodeus vindo em minha direção. Tento me mover horrorizada porquê o processo não está completo e ainda posso ser eliminada por ele. Mas antes que as pontas me perfurem ao ponto de ulular, algo para diante de mim. Segurando a alabarda que quase me atingiu.

_Quanta covardia.

Ouço duas vozes cruzadas e quando Baltar vira para mim, fico em pânico, pois seus olhos não estão completamente negros, em vez disso seu globo ocular é formado de sombras e suas íris são tão azuladas quanto o sangue parsaxiano.

_Tenho ordens expressas para protegê-la portanto não se preocupe.

Ele disse e soube que não estava mais diante de Balthazar. Mas sim de outra coisa, uma parte cruel dele da qual certamente queria distância. O ser volta para a batalha, e o encaro boquiaberta. A lenda dos seres Baal e Zebub era real, e de fato meu protetor demoníaco, havia se dividido em duas metades. Sim, o nome dele nunca foi Balthazar Mendes de fato, mas isto não vinha ao caso no momento. O quê importa é até quando Belzebu ficará sob controle.

O Executor
LEBLYZ

A garota não para de me olhar como se não confiasse em mim, e isso me incomoda, pois não estou aqui para lhe ferir e precisamos agir em conjunto, se quiser sobreviver. Atraio Arax para longe dela, e lutamos sem parar. A lança da alabarda quase me atinge. Todavia evito o golpe ao me defender com a espada que roubei de um dos membros abatidos. O quê o leva a pular para trás na tentativa de não ser desarmado.
Sorrio. Talvez lutar contra Baltar fosse fácil. Mas comigo é totalmente diferente. Eu sou uma máquina de matar que destrói tudo o quê aparecer na minha frente. O sangue. A morte. A dor deles me fortalece. Sendo assim não adianta esperar alguma piedade da minha parte, pois certamente não irei conceder tal compaixão. Não é do meu feitio. Avanço sedento pela adrenalina da luta, e isso faz com que Arax fique intimidado. É óbvio que vou vencê-lo.
Meu oponente ofega demonstrando descontrole, e em seguida chama o seu exército, ou o quê sobrou dele, para me atacar. Isso me faz gargalhar ao ponto de largar o instrumento de batalha, para me arremessar contra o vento, e quando o faço, deixo um rastro vivo de sangue na terra arenosa. Baltar estava preocupado demais com Alicia e suas próprias limitações. Por isso esqueceu do quanto somos fortes, mesmo com a energia mais fraca.

_Isso é tudo? Baltar realmente deve ter perdido o jeito para me trazer por algo tão insignificante quanto...

Olho nos olhos do meu adversário que emana ódio e desespero.

_Você.

Completo alegremente e o sujeito de olhos azuis fica exasperado ao ponto de seus glóbulos ficarem vermelhos como os de um demônio original.


NOSSA MÚSICA
ALICIA

O Mar está aparentemente no limite da metade. As almas continuam a mergulhar dentro de mim, e ainda que as agulhadas doam. Só consigo pensar no quê deu em Balthazar para deixar seu demônio interno no controle. Será que estava fraco ao ponto de apelar para o seu pior eu? Fico a analisar enquanto assisto Asmodeus perder a cabeça por conta das habilidades de Belzebu que não só luta de maneira impecável, como também lança milhares de moscas e besouros que se transformam em soldados. Mesmo sendo o pior dos executores, é impossível não admirar seus movimentos, porquê parece que é incapaz de ser atingido por qualquer golpe.
"Alicia eu menti." Sou acometida por uma lembrança e assim esqueço do ambiente em que me encontro para ir até ao passado. Estou sentada na beira da cama do Instituto Vidal. Mas não me lembro deste dia em específico. Por isso fico desconfiada e o assisto como se fosse o novo lançamento de 2021. "Não sou eterno como Uno, e se algum dia alguém encontrar a minha fraqueza, quero que faça algo por mim." Ouço ele sorrindo de maneira sapeca.
"Te trazer de volta com a necromancia?" Brinco com um ar maldoso e o mesmo ri desconsiderando a ideia. "Não. Se alguém como eu falecer não terá um corpo ou consciência para reviver, assim sendo mesmo que queira fazer tal coisa, não é possível." A resposta dele me dói o peito, e no lugar da desconfiança vem a curiosidade, por esse motivo me aproximo para escutá-lo melhor.
"Então o quê a vossa senhoria. Divindade suprema do Céu e o Inferno anseia?" Novamente tiro sarro, e ele me olha com seriedade. "Quero que você cante a nossa música." Diz um pouco melancólico e fico tão confusa quanto meu eu passado. "Bad Liar? White Wedding? Come Undone?..." Falo as três primeiras que me vem a mente, e ele sorri. "Ela ainda será lançada mas se chamará Legacy." Explica e tenho um mal pressentimento, como se esta música simbolizasse algo ruim que estava por vir.


LUTA
LEBLZ

Continuo a brigar e devido as provocações Arax se tornou um inimigo veloz ao ponto de parecer apenas um vulto. O quê tornou a briga interessante. Entretanto está sugando tanto de mim que logo Baltar voltará a assumir o controle. Pulo. Giro. Pego impulso para desferir golpes. Mas Arax está tão cheio de fúria que seu corpo não sente o impacto dos meus punhos ou a dor provocada por lhe rasgar a carne "Desculpe. Só que não quiser ficar sem a garota vai ter que voltar a lutar. É com você agora."

_Bal Reacor!

Volto ao meu corpo como se tivesse acordado de um sono pesado, e por pouco o meu rival não me machuca. "Obrigado Leblyz por quase nos matar!" Penso ao escapar de ser dividido ao meio, e revido a pancada, com alguns movimentos calculados. Entretanto por um erro de cálculo, escorrego e o inimigo me acerta em cheio, fazendo-me deixar uma poça de sangue, enquanto tento estancar o ferimento com a mão livre.
Corro para me recuperar. No entanto o homem animalesco me persegue pronto para me destruir. A mão dele fica prestes a me atingir. Me desloco saltando o máximo que consigo. A ferida não se fecha. De fato Arax não estava blefando quando disse que sua alabarda foi forjada com a foice de Saryl e agora literalmente sentia as consequências por subestimá-lo. Alguns Arakinis me agarram no ar e sou jogado contra o chão.
Minha cabeça é pressionada contra o solo árido. Os Arakinis me seguram para que Seu Senhor dê o golpe de misericórdia. É como se o amassem e fossem capazes de fazer qualquer coisa por ele. Olho nos olhos de um deles e posso ver o seu passado. O quê aquele homem bovino foi antes de ser o lacaio do usurpador. É triste. Pois este era um professor de filosofia que conheceu o suposto amor da sua vida, o qual lhe prometeu afeto e união eterna, desde que se sacrificasse em um círculo mágico. Ele o fez e como prêmio ganhou essa condição de zumbi subserviente até o fim dos tempos ou da existência daquele que o enganou.
Ouço o som da lâmina prestes a me partir. Fico absorto porquê meus soldados estão parados. Porém quando esta está a um centímetro de me ferir algo a paralisa, e por isso levanto o queixo, tentando enxergar o quê aconteceu para que minha execução fosse adiada.

_Se vai lutar contra ele que seja de forma justa!

A voz de Alicia ressoa tão alto que nem parece tão distante quanto de fato está. Fecho os olhos para enxergá-la, mas não consigo ver nada, porquê há uma névoa densa encobrindo as rochas, onde um dia esteve o Mar dos Inocentes que vagarosamente está deixando de existir.

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