Há muitas coisas estranhas no mundo. Uma delas é a vida, que se dá de maneiras inesperadas.

Em uma São Paulo que, atualmente, se mostra uma das 3 maiores cidades do mundo- pelo Brasil não ter participado da 4ª guerra mundial e seu notável papel na pandemia de 2244, a qual seus estudos avançados de nanotecnologia foram cruciais para produção acelerada de vacinas para as várias variantes do vírus, e pelo uso correto das águas subterrâneas do aquífero guarani, que foram trazidas para superfície em um momento que esta se tornara o novo ouro, dólar, cripto moeda, Renminbi; tudo depende da correção monetária vigente-. Usando, finalmente, as riquezas naturais nacionais, o Brasil tornou-se uma importante potência.

Com o avanço das eras e das máquinas, as pessoas ficaram cada vez mais aceleradas e ansiosas, agravando, assim, problemas como a solidão. A ideia de manter relações interpessoais estando tão ocupadas, atrasadas ou com pouco tempo parecia algum tipo de... besteira. Em resposta, e em uma tentativa quase desesperada para diminuir as baixas, a peça que era a causadora de todo aquele efeito dominó, foi uma solução. A tecnologia foi usada para fechar a ferida que abrira. Assim a primeira rede adaptada da inteligência artificial foi criada. Desse novo avanço surgiram os andróides.

Os androides eram máquinas criadas para suprir as carências humanas. Os mais rebuscados como médicos, juízes e os amigos - usados para fazer companhia às solitárias pessoas que, ao se cansarem, bastava desligar. A estes eram designadas as mais complexas tecnologias, como o uso de qubits e 6G, pois necessitavam parecer mais humanos, parecer que tinham algo a mais do que dados, parecer que se importavam.

O que não era verdade para as outras classes. spCo-12 era um entregador, levava pacotes e tocava palavras amigáveis com destinatários, palavras que queriam ouvir, cuidadosamente analisadas e selecionadas do, quase infinito, banco de dados mundial que tinha acesso. Possuía aspecto humanóide de metal - um metal resistente e leve, que 97% das reservas mundiais se encontram no Brasil-, pois as estatísticas mostraram que pedaços de metais que lembram braços com dedos deixam os clientes mais confortáveis do que garras.

Em uma certa manhã, spCo-12 levava um pacote quando, incrivelmente, o deixa cair, preocupado retira-o do chão e verifica se está danificado. Preocupado? Algo surpreendente aconteceu, ele acabara de ganhar uma consciência.

Uma máquina ganhar consciência é algo que fere várias leis do universo, uma coisa que nunca tinha acontecido antes na história, e se aconteceu foi muito bem escondida, pois os humanos não estão preparados para isso - e nunca estarão-, mas spCo-12 não entendia isso.

Olhando lentamente para o pacote em suas mãos, não tinha certeza do porque ele caíra, e nem porque o levava para alguém, mas, afinal, essa era sua função. "Função." Uma voz saiu de seus alto falantes, sua voz usual, calma e jovial. Falava pois não sabia pensar, nunca o tinha feito. "Foi para isso que nasci... Mas eu não nasci, fui criado... Criado para entregar". "Olá Cris." disse acenando ao olhar para uma criança que o observava boquiaberta. Identificando seu perfil na nuvem, que apesar dos 12 anos já era bem vasto, estava indo ao médico, teve dor de garganta na noite anterior. As crianças andam sozinhas sem preocupação, pois eram guiadas por suas amas e observadas por câmeras, não havia um ponto cego na área central da cidade e androides policiais patrulham cada perímetro, a criminalidade naquela parte era próxima a zero. "Vamos Cris, este deve estar com defeito." , disse o robô, puxando a criança para o posto de saúde mais próximo.

Sem que pudesse controlar, spCo-12 toma seu caminho até o destino do pacote, seguindo sua programação. Miguel Roberto, 112 anos, um senhor com os primeiros fios brancos e poucas rugas aparece para receber a encomenda. Seu perfil foi traçado, não gostava de muitas palavras, apenas que entregasse o pacote e dissesse "Bom dia.", mas o perfil não mais importava. "O que o senhor acharia se eu falasse que seu pacote caiu no chão, eu o recolhi rapidamente", disse a máquina. Miguel olhou para o relógio holográfico de sua pulseira, entrou na casa e fechou o portão. spCo-12 não achou aquilo bom, mas não tinha dados o suficiente para entender o que acabara de acontecer, e nem teve tempo de analisar, pois começara a se mover em direção à distribuidora para pegar outro pacote. O que se repetiu todo o dia, todas as horas, pois, essa era sua função, era o que fazia e o que fazia era "Chato."

Então 12.Onde histórias criam vida. Descubra agora