Uma vez, durante um caloroso e aconchegante domingo, enquanto minha família alegremente conversava na varanda depois de mais um almoço animado, me encontrava perdida em pensamentos aleatórios e imaginários como qualquer criança beirando seus sete anos de idade como super-heróis, corridas em pistas flutuantes e caçada a animais exóticos.
Para uma criança, tudo vira brincadeira. A imaginação, literalmente, não tem limites! E, acredito eu, que seja a maior dádiva para um ser humano. Não precisar se preocupar com o amanhã, pois o amanhã sempre será melhor; sem precisar lutar todos os dias para ser bom em algo, pois já somos perfeitos em tudo; não precisar lidar com emoções desconhecidas e sentimentos turbulentos, pois tudo é sempre uma aventura e sempre teremos alguém ao nosso lado, seja para proteger ou ajudar.
Ah...! Uma das melhores fases da vida. Infelizmente, esse pode até ser um pensamento egoísta, pois, nem todas as crianças do mundo têm a oportunidade de viver uma infância feliz e agradável mesmo com poucos recursos a sua disposição. A violência, o medo, a dor, a tristeza, a raiva...por isso mantenho minha esperança nos pequenos pontinhos de luz que chegam ao mundo, óbvio que nada impede que no meio de nossa caminhada venhamos a desenvolver pensamentos que possam ajudar a limpar pelo menos um pouco essa mancha sombra que mancha o planeta.
Voltando ao caloroso domingo e aos pensamentos aleatórios de uma criança de sete anos que balançava os pés animadamente na varanda de madeira da casa imaginando uma corrida intergalática entre dois dinossauros verdes, na qual quem ganhasse poderia ou não salvar a Lua. Os pensamentos estavam a toda, quando como um passe de mágica, ou melhor dizendo, como uma freada brusca de um carro no meio da pista, esses pensamentos se foram quando o pequeno ser humano escutou uma pergunta no meio da fala dos mais velhos—já que crianças estão observando tudo o tempo todo, mesmo que não parecendo—que lhe fez questionar o sentido do pouco tempo de vida que tinha se passado.
"—O que é amor verdadeiro para você?"
Seu avô questionou sua prima mais velha que estava prestes a casar com um rapaz poucos mais de cinco anos mais velho. Era um homem bem sucedido, com uma empresa famosa, bem conhecido, gentil, inteligente, educado e muito bonito chegando a parecer um daqueles modelos internacionais. Mas, isso não importava no momento. O que importava para a pequena Harumi Yoshida era porquê diabos eles estavam falando de amor verdadeiro. Existia um amor falso? Mas, amar não significa ser bom com a outra pessoa? Amar não envolve cuidar e estar sempre ao lado? Se amor é algo que sentimentos, como podemos perder? Ele não está dentro de nós? Bom, era o que o vovô falava naquela época e quando a vovó foi visitar a Lua e acabou comprando uma casa lá.
Sabe, amar é um troço tão complicado que é melhor não amar. Certa vez, o vovô disse que nos dias de hoje, quando um casal se quebra eles jogam fora e arrumam outro, mas que na época dele não se jogava fora um amor, mas se consertava. Dizia que o amor verdadeiro era um amor quebrado, espatifado pelo tempo, corroído pela saudade, amassado pela dor, rasgado pela raiva, porém remendado pela felicidade de estar perto, pelo calorzinho no coração e as borboletas na barriga.
Naquela época, eu não entendia muito bem o que o vovô queria dizer com tudo aquilo de quebrado, rasgado, remendado...amor não era um pedaço de pano, ou era? Bom, talvez. Amor é complicado e não possui um significado concreto como outros sentimentos. Demorei muitos anos para entender o conceito de amor, o que era amar, como amar e ser amado. Esse sentimento que poucos entendem o verdadeiro significado quase acabou com a minha vida, me bateu de tantas formas diferentes que achei que nunca poderia levantar novamente. Contudo, a vida, a minha vida, a vida dele, a nossa vida estava lá para nos ajudar a levantar e a seguir em frente.
Parando para pensar, será que eu realmente aprendi o que é o amor verdadeiro?
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Amor Quebrado
Romance"Você está apenas tentando se convencer de que está no caminho certo." Yuji Itadori até pode ser um personagem meio bobão e até mesmo considerado um alívio cômico para alguns, mas em muitos momentos suas falas acertam a alma e ficam lá, presas como...