Inverno de Ondina.

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   Me divertir junto com o Kimura nunca foi uma tarefa difícil. Fomos criados em um lugarzinho pouco conhecido do Japão, tínhamos nossa própria vivência assim como nossas próprias regras. Nosso pai veio de fora, um jornalista convidado pela nossa mãe para fazer uma reportagem sobre nossos costumes. Eles não imaginavam, no entanto, que daquela noite de risadas entre os campos de girassóis, nasceria um amor que atravessaria barreiras.
  Era um amor impossível, nosso pai por ser Brasileiro e não aderir a cultura de nosso mãe como o centro da matriz de sua vida, foi completamente impossibilitado de seguir dando continuidade a aquele surto amoroso que podia vir futuramente. Ele teve que partir de Ondina, lugar onde vivíamos. Mas após estudar bastante sobre a próxima escolha que ia tomar, optou por voltar e aceitar todas as condições para ter a mão de nossa mãe em casamento.
  Então foi isso, poucos anos depois após esse acontecimento, nasceu o primeiro fruto da relação dos dois. Kimura, foi o nome que minha mãe escolheu, ele se mostrou um recém nascido muito dócil e assim que se iníciou nas artes marciais, oque era obrigatório em Ondina, foi o melhor aluno que a academia já havia tido. Ele brandava espadas, lanças e arcos como ninguém, jamais havia perdido uma batalha corpo a corpo contra às outras crianças e quando atingiu seus treze anos não foi diferente. Kimura era o orgulho de Ondina, forte e veloz como um touro, foi reconhecido por várias capitais como o descobrimento do século, o melhor espadachim que o Japão já teve a oportunidade de registrar em vida. E assim seguiu-se até que alguns meses depois eu nasci.
  Eu, diferente de Kimura, sempre fui uma criança elétrica e pronta para criar problemas. Na academia não deixava tanto a desejar, porém sempre fui comparado ao meu irmão em qualquer coisa que eu fazia. Por esse motivo me sentia na obrigação de ser perfeito em tudo que fazia, me aperfeiçoei muito bem nas artes das espadas, e Kimura me ensinou o básico do combate corpo a corpo, nossa relação sempre foi essa, ele era o mestre ao qual eu devia seguir e eu um bom observador pronto para aprender quando fosse possível.
  Anos se passaram e os invernos rigorosos atingiram Ondina, nossos pais desapareceram após uma densa nevasca que tomou conta de todo Japão. Kimura e eu começamos a sobreviver por conta própria, ele se tornou líder de nossa aldeia e eu continuei treinando para alcançar o nível dele quando fosse mais velho. Toda Ondina cuidará de nós como filhos, Kimura era dotado de força e comandava como ninguém, porém eu tinha a gentileza de nossa mãe e por isso as pessoas se sentiam mais abertas a conversar comigo sobre os plobemas que às cercavam. Eu amava cada um dos cidadãos de nosso pequeno vilarejo, mesmo que não fossemos reconhecidos por nenhum outro governo, apenas o fato de nos mantermos unidos em conjunto fortalecia nosso vínculo como uma imensa família. Por nossa região ser repleta de rios e solos férteis, éramos constantemente atacados por bárbaros e outros governos que queria tomar nossa terra, Kimura nos defendia em batalha de forma majestosa, até eu mesmo tive a oportunidade de lutar ao seu lado quando os inimigos resolveram atacar próximo ao nosso lar.
   Até então tudo se mantia pacato.
  Mas uma nova ameaça surgiu, um governo com um potencial imenso, que nem mesmo os melhores guerreiros de nossa cidadela poderia vir a ameaçar. Eles tinham novas tecnologias e fortes laços com outros estados, e ameaçaram nos atacar caso Kimura não se juntasse a eles como um estrategista tirânico. Meu irmão se recusou, não só isso, ele jurou guerra contra aqueles estados inimigos e mesmo sabendo da derrota, voltou para casa e mandou que fossem preparadas centenas de armas para o combate. Crianças foram chamadas a guerra, até mesmo pessoas que nem sequer haviam tocado em uma espada foram obrigados a se preparar, Isso não acabaria bem para Ondina, e Kimura sabia disso.
   Em uma manhã, fui abordado por um rapaz que se dizia vir do governo inimigo, ele me parou enquanto eu trabalhava no campo e disse as seguintes palavras. " Nossa nação não tem a menor intenção de atacar Ondina, mas o seu líder está a ponto de criar uma guerra onde somente poderia vir a ter um vínculo, ele precisa ser parado e somente você pode fazer isso. Prometemos não atacar Ondina, caso vc traga uma prova da redenção de Kimura."
   Chovia muito aquela madrugada, uma tempestade enorme se aproximou e a correnteza do rio descia ferozmente.
  Bati na porta do meu irmão, minha espada tinha um aspecto gelado em minha bainha, como se ela soubesse oque estava por vir. "Kimura." - Eu disse. - "Desculpe irmão." Um trovão rugiu ao longe quando a porta se abriu. Kimura dormia profundamente, papéis estavam jogados por todo lado, centenas de nomes de pessoas que haviam sido mortas nos últimos dias estavam pintadas nas folhas que se aglomeravam no curto ambiente. Kimura não era mais um líder, era pior que os outros, os "inimigos", me aproximei com lágrimas nos olhos. -" Ondina é meu lar irmão".

O sol nasceu no horizonte na manhã seguinte.
Uma neblina cobria toda Ondina.
Notícias de que os irmãos samurais haviam desaparecido rondava toda Ondina, assim como as boas novas de que o reino inimigo havia recuado suas tropas.
Minha terra estava em paz.
Mas já não era mais minha terra.
Então eu parti, viajei para longe em busca de um novo objetivo.
Eu já não tinha mais nada a perder.

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⏰ Última atualização: Jul 23, 2022 ⏰

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