Capítulo III

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Bom dia, raios de sol!!

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         Com treze anos, Theodora começou a se sentir desconfortável consigo mesma. Agora as roupas doadas que recebia eram usadas aos montes para esconder os seios que estavam começando a ser aparentes. Os cachos nunca eram soltos do coque. E ao contrário de suas amiguinhas de sala, ela não se interessava em saltos altos ou vestidos, e nem mesmo em garotos.

         A jovem se sentia estranha e anormal, e escutava isso e coisas ainda piores de sua mãe e de alguns alunos na escola. Carla era a pior de todas, uma garota da sua sala que era o completo oposto de Theodora. Carlinha, como era conhecida, já aos treze usava maquiagem, argolas e várias joias, e usava o uniforme de tamanho menor para destacar as curvas que começavam a aparecer. Além é claro de ter os materiais mais caros e andar sempre com o uniforme brilhando. A garota parda, com cachos cheios e pretos, assim como seus olhos, não perdia a oportunidade de mexer com a ruiva. Sempre a chamando de Maria Macho, mendiga, estorvo, entre outros apelidos maldosos.

        É claro que a Theodora, com seu coração enorme não revidava, afinal, ela já havia visto a mãe de Carla na escola, e a única diferença dela para Anastácia era o dinheiro, Sofia era tão má quanto. No fundo Theodora sabia que sua colega de classe apenas replicava as coisas horríveis que sua mãe dizia e que provavelmente aquele estilo tão exagerado era consequência disso também.

         Mesmo sendo tão nova e tendo passado os últimos três anos sofrendo, a adolescente era compreensiva e sempre procurava o melhor nas pessoas, mesmo que por fora aparentasse ser alguém fechada que nunca sorria ou chorava, que nunca reagia a nada. No fundo, ela era apenas uma garotinha assustada tentando sobreviver ao mundo cruel sozinha.

UM ANO DEPOIS

         Sua mãe teve um coma alcoólico e foi parar no hospital, e por leves momentos, Theodora desejou que ela não voltasse viva de lá. Mas isso não durou muito, por pior que Anastácia fosse, era sua mãe, e apenas estava doente. Além do claro alcoolismo, depois de ter sido presa por atentado ao pudor, a mulher foi encaminhada para um tratamento psiquiátrico obrigatório onde foi diagnosticada com depressão severa. Desde o diagnóstico, a adolescente de quatorze anos passou a ser a responsável por medicar sua genitora, que sempre a recebia com gritos e tapas e que na maioria das vezes se recusava tomar os remédios.

         Os papéis da família perfeita haviam sido totalmente invertidos. A filha era responsável por prender a mãe em casa para que ela não saísse para beber e tomasse suas medicações. A mãe quando conseguia fugir, bebia tanto a ponto de cair, ou ficar nua. Dessa vez, ela estava tentando tirar a própria roupa quando caiu desmaiada de tanta bebida, em frente ao bar onde havia sido proibida de entrar.

         Anastácia passou alguns dias internada na área psiquiátrica depois disso, e por essa razão, Dora foi obrigada a ir ficar com seu pai, agora casado com a amante de anos atrás e esbanjando dinheiro. Mário agora tinha um casal de gêmeos recém nascidos com a esposa, e simplesmente odiou a ideia de ter sua primogênita em casa perto deles. Foram dias torturantes para a pequena Dora, que preferia mil vezes os gritos da mãe do que o descaso do pai, que apenas aparecia para pagar a pensão. 

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