TOMORROW| Timothée Chalamet

SIXTY TWO

Timothée

"Você é um imbecil." Ellie disse ao telefone, enquanto eu descia as escadas da mansão. "É a data mais importante do nascimento do seu filho, e você vai estar em Miami porque vai a uma festa da Família da Erica?"

Eu era um idiota e sabia muito bem disso, mas também entendia que meus sentimentos por Erica estavam cada vez mais incômodos desde o dia que eu a vi.

"Olha, eu sei que isso é a maior idiotice e que eu poderia cancelar, mas..."

"Mas nada!" Ellie gritou. "Você vai cancelar essa festa, querendo ou não, se Astrid for importante para você."

Uma das mulheres abriu as portas da mansão para mim e eu desci o hall de entrada até a limusine.

"A Astrid é importante para mim, mas a criança..." Eu hesitei engolindo o seco, não queria ser sincero comigo mesmo, mas havia uma preocupação em receber essa criança. "A criança é o que nos une agora, eu não quero ser pai tão jovem, eu só tenho vinte e um!"

"Devia ter usado camisinha então!" Ellie devolveu furiosa.

"Tudo bem!" Gritei de volta, desligando o telefone. Olhei pela janela, a imagem da rua sendo deixada para trás deslizando tão depressa, recebi uma mensagem de Ellie: seu pau no cu, desiste da festa.

Eu ri e joguei a cabeça para trás para relaxar, não queria que Astrid ficasse sozinha nessa festa que Gentlyn estava dando, mas a mídia estaria insuportável quando soubesse que eu estava pronto para ser pai, era disso que eu tinha medo. Que todos soubessem que minha vida agora seria de um pai ao lado de uma mulher que conheci bebado em uma festa, eu queria primeiro me casar com ela, ter o nosso tempo, a nossa vida e depois pensar em uma criança, eu era patético demais.

   Fui deixado em frente à agência onde Hailey me esperava do lado de dentro, passamos pelas catracas e fomos até a produção de pessoas que estavam reunidas para o ensaio de fotos, Hailey segurou minha bolsa no ombro e colocou na cadeira onde havia meu nome.

    Passei a língua pelos lábios devagar e analisei o local com um olhar sugestivo, eu estava um pouco confuso com esse ensaio, eu não sabia muita coisa sobre a nova coleção de roupas da Calvin Klein, mas também não estava interessado nisso para me informar, apenas vesti as roupas que estavam na arara e pousei com a modelo loira para alguns flashs que demoraram mais do que eu havia previsto, me sentei na minha cadeira e peguei meu celular para mandar uma mensagem para Astrid.

Desculpa por sair daquela maneira, eu fui um idiota novamente, podemos jantar hoje à noite?

  Ela visualizou e não respondeu, saindo da conversa depressa, quando Astrid estava chateada era muito difícil reverter a situação, eu teria que fazer mais do que um simples jantar, teria que colocar a festa para outra hora e dizer a ela que estava disposto a estar no chá de bebê. Era a revelação do sexo do meu filho, eu não podia ser tão egoísta assim.

"Hailey." Falei. "Pode ligar para Astrid para mim?" Hailey se aproximou e pegou meu celular, ela se afastou o bastante para que eu não conseguisse vê-la. Ao retornar, ela me entregou o celular.

"Ela não atende." Disse e me entregou uma garrafa de água gelada.

"Vamos mais uma vez." Uma das mulheres atrás da câmera disse e retornamos aos ensaios até o final da tarde.

                                 *

"Astrid! Vê se atende essa porcaria que você chama de celular!" Gritei, recebendo um olhar furioso de Hailey dentro da van, deixei um recado e mil mensagens, respirei fundo e fracassei novamente como um namorado, eu não queria que Astrid pensasse que não me importava, porque eu me importava com ela e muito, nunca tive ninguém por perto para me importar e agora Astrid é meu ponto mais fraco.

"Problemas amorosos?" Hailey riu e levou uma bala até a boca.

"Claro." Respondi com deboche e guardei o celular no casaco.

   No exato momento senti meu celular vibrar e o peguei depressa com a esperança de que fosse Astrid, mas não era, era Gentlyn.

"Mãe." Falei e ouvi seu soluço estranho que já me despertou uma sensação estranha no peito. "O que aconteceu mãe?"

"A Astrid, perdeu o bebê."

  Eu engoli o seco na garganta e fiquei completamente estagnado no meu lugar, olhei para Hailey e senti a sua tensão olhando para mim, minhas mãos começaram a tremer imediatamente, queria entender o que estava acontecendo.

"O que diabos aconteceu?" Perguntei.

"Fomos ao médico hoje fazer alguns exames e simplesmente recebemos a notícia que Astrid teve um aborto espontâneo faz dois dias."

  Merda.

Merda.

Merda.

   Abaixei o celular devagar encarando Hailey, estava com os olhos lacrimejando mal enxergando o rosto de Hailey quando ela me sacudiu pelos ombros tentando me fazer voltar a postura.

"Mãe." Sussurrei. "Onde vocês estão?"

"No hospital, Astrid está abalada. Você devia vir para cá, estamos no centro."

"Estou indo." Desliguei o telefone, pedi para Hailey mudar o trajeto e fomos direto para o centro, eu mal conseguia respirar direito sentindo os pulmões se fechando depressa, meu corpo se reprimindo, era culpa minha, era tudo culpa minha, Astrid deve estar muito mal agora e eu nem estou do seu lado para acompanhá-la, como sempre.

"Astrid." Olhei ao redor ao entrar na recepção do hospital, todos lançaram olhares para mim até que um deles eu a encontrei, ela se levantou. "Astrid, eu sinto muito, amor." Murmurei com cuidado, eu a puxei para um abraço e seu corpo amoleceu em meus braços, sentia sua agonia se reprimindo enquanto estava grudada ao meu peito, ela não sentia nada e eu não podia fazer nada por ela. "Eu te amo muito, me perdoa. Eu sinto muito" ela balançou a cabeça e parecia cansada, com bolsas rochas ao redor dos olhos.

  Olhei para a minha mãe que estava de cabeça baixa, com as mesmas lágrimas pesadas nas bochechas redondas, eu me sentia inútil, incapaz de dizer palavras reconfortantes para as duas, porque as amava muito e sabia que elas estavam destruídas e lá no fundo, eu também estava.