Está quente, uma coisa que seria incomum no inverno, se você não morasse no Brasil, onde salvo algumas exceções é verão nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. O ventilador da loja faz o menu dos lanches caírem no chão, o que me tira da posição de atendente e colocar as placas de volta no lugar. Como já fiz tudo o que eu podia fazer eu bato as minhas unhas no balcão da loja e verifico se a quantidade de chicletes está em dia, quem sabe eu não sujo alguma coisa? Só para o tempo passar mais rápido. Como aqui não tem TV ( por um motivo que eu não consegui explicar, só tenho algumas teorias, tipo para os três funcionários não terem nenhuma distração, ou talvez seja porque ultimamente só tem notícias ruins e a novela da Globo, muito provavelmente isso não compensa mais um gasto com a conta de luz). Arrasto a garrafa de água para perto de mim, abro a tampa e bebo, o líquido refrescante desce pela minha garganta me fazendo lembrar de um dia de praia, algo que eu não sei mais como é o cheiro.
Paro de beber quando eu noto a presença de um cliente na loja, é um adolescente tímido, abriu a porta e ficou admirando as cadeiras por um segundo antes de vir falar comigo.
– O que deseja, perguntei.
– Tem trident?, o menino respondeu.
– Tem sim, custa R$ 2,50.
– Me vê um de melancia
Me agachei e peguei a pequena cartela vermelha clara e dei na mão do jovem.
– Hey, você sabe qual é a pira desta casa?
– Na verdade, eu sei pouco sobre isso.
– Tipo o que?
– Que era propriedade da família Matarazzo, e que eles tinham uma reputação meio azeda na cidade. E um belo dia eles decidiram sair.
– E porque ninguém gostava deles?
– Bem essa é uma pergunta um tanto difícil de responder, pois ninguém afirmou categoricamente ser um desafeto deles, contudo era fato que eles eram um... Esquece você é muito novo para ouvir isso.
– E porque eles eram ruins ?
– Ricos né?, querem tudo do melhor em troca do menor custo possível.
– Entendi, mas você já entrou lá dentro, meu primo disse que tem um pé de maracujá muito bom no terreno.
– Não tenho tempo para isso. Dei uma leve risada.
– Que pena, enfim não quero te atrapalhar, tenha um bom dia de trabalho.
– Obrigado, e a criança me entrega o dinheiro.
Confesso que eu acho estranho o interesse repentino que as pessoas têm por essa casa velha, até porque caralhos é só uma casa, eu sei que quem morava aí não eram pessoas de bom coração, entretanto, tem muita gente de caráter questionável por aí, na boa eu acho que isso é falta do que fazer. A mística envolvendo essa residência é tanta que agora mesmo tem uma garota tirando fotos da casa de cima em baixo.
E depois da lanchonete,
E abriu a porta e tirou uma foto de mim , e foi embora.
Sem dizer uma palavra.
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Naquela Rua
RomanceLorena trabalha no seu novo emprego, uma lanchonete que fica em frente à um casarão que volta e meia atrai atenção do público, por ser a antiga residência de uma família muito importante que morou na cidade, mas uma curiosa em especial vai tomar a a...