O universo é extenso, amplo, inigualável e inalcançável. Existe tão pouco que sabemos sobre ele que parece impossível não nos sentirmos inferiores e mais impossível ainda não nos sentirmos sedentos. Das poucas coisas que conhecemos do universo, o tempo deve ser aquilo que mais anseio desvendar. Como surgiu? Porque passa? Como passa? E como é possível que algo não palpável consiga exercer tanto poder sobre tudo? O tempo que conhecemos como cruel e apressado, modifica tudo à nossa volta de forma constante, influencia tudo sem darmos por nada. Às vezes surge demasiado rápido, outras demasiado lento e por vezes nem parece passar, apesar de o fazer, como uma eterna ironia pessoal contra nós seres. Graças à existência desta constante, nada parece durar tempo o suficiente, pessoas que desaparecem rápido demais, acontecimentos que surgem sem esperarmos e sentimentos que fogem dos nossos dedos como se fossem grãos de areia na nossa palma. Este tempo que é tão inconstante quanto provocador é tudo aquilo que nos faltava.
Conhecermo-nos foi quase como o destino, qual a probabilidade de ficarmos com quartos vizinhos num hotel com quase quatrocentos quartos distribuídos em oito andares? Acho que nunca saberei tendo em conta a minha falta de habilidade em matemática, mas o que sei de certeza, é que foi atração instantânea. O teu corpo digno de uma escultura, os teus cabelos cor do mel e os teus olhos esverdeados combinavam perfeitamente com os meus fios pretos e orbes azuis. Quando o verde e o azul se mesclaram, nem o universo nos poderia parar. De repente, os safaris e animais selvagens não pareciam tão interessantes enquanto o teu cheiro se espalhava pelo meu quarto, e se eu tivesse que percorrer mais uma vez todo o caminho até à África do Sul só para provar dos teus lábios novamente, eu o faria. Mas apesar de os nossos corpos se entrelaçarem tão bem, os nossos seres eram incapazes de se conectar. A tua personalidade arrogante e o meu eu orgulhoso entravam em conflitos constantes que sempre acabavam com beijos agressivos e roçares ardentes, só para depois de tudo inventarmos promessas vazias e um futuro que nunca existiria, pactos sussurrados que funcionavam bem para a mente, mas eram uma traição para a alma.
Todas estas disputas diárias e luxúria incessante, trouxeram-me o pensamento que de provavelmente nós éramos os seres mais selvagens de todo aquele continente. A tua falta de sensibilidade e a minha falta de despreocupação levaram-nos a esta situação da qual eu não pretendia sair, mas que no fundo era inevitável. Dentro daquele quarto nós não tínhamos nomes, histórias passadas ou pessoas à nossa espera, mas era fora dele que as mensagens que não paravam e as ligações que fingíamos não ouvir traziam consigo um balde de água mais gelada que as lagoas que visitamos. E porque o tempo passava e trazia com ele a lembrança de que nada é duradouro, o nosso último dia desta relação criada sem precedentes ou sentimentos chegou ao fim. O teu semblante mais conformado do que triste ficou marcado na minha memória quando entrei naquele avião.O Tempo não é algo assustador? Grandioso ao ponto de ser capaz de influenciar até o sentimento mais poderoso que existe entre nós e ainda assim tão insignificante que nos faz esquecer de sua existência. Um paradoxo estrondoso e instigador. Mas deixa-me dizer-te, existem coisas que se não o deixarmos alterar, ele não é capaz de tocar. E é por isso que te peço, por meio desta carta ridícula que soa mais como uma divagação e consolação para o meu ser do que uma carta de despedida, que te lembres de mim. Que não esqueças da visão de meu corpo, vestido no vestido branco longo que me imploraste para vestir, enquanto os meus cabelos negros esvoaçavam com o vento da tarde e as minhas orbes azuis refletiam o pôr do sol. Que não apagues da memória os meus lábios tingidos de vermelho e as minhas bochechas rosadas. Que te lembres de mim nem que seja nos teus sonhos tão selvagens quanto as horas que passamos juntos. Assim, se o Tempo cruel e avassalador existir, e puder alguma clemência distribuir, os segundos amontoados que nos foram retirados, irão ser repostos em noites afim, e a única coisa que te virá à mente será o azul que há em mim.
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Wildest Dreams
RomanceSobre o tempo cruel que nos escapou. Será uma carta para ti ou uma divagação do meu ser? Apenas uma história baseada em Wildest Dreams - Taylor Swift