Em algum ano entre 1890-1892, era março e a inconfundível floresta tropical da Mata Atlântica sitiava as ilustres cidades do interior do Sudeste, o canto ensurdecedor dos Arapapás, o nado rude das capivaras e a reunião estupenda dos micos realçam a sua beleza ineficiente para o desenvolvimento de outra espécie ilustríssima que vivia naquela região: o humano
Numa parte dessa floresta, mais especificamente em uma pequena madeireira de madeira tropical nomeada Santa Lúcia, um homem irá lutar ferozmente contra a selvagem floresta que atrapalhava os esforços de seu enriquecimento, Jorge Barreto e Bocaiúva, um cafuzo, fruto da relação entre um escravo a pouco liberto com uma indígena que não houve de ter sido exterminada, era um homem confiante, vaidoso e se dizia brilhante como o sol, os companheiros de madeireira o chamavam de Narciso, todavia detestava ser chamado desta forma e retornava com xingamentos cada vez mais intensos dependendo de quem o chamou assim. Seu sonho era enriquecer e sair do trabalho árduo e mal pago de lenhador, o que era totalmente diferente de sua realidade em que dificilmente acharia uma forma de ascender socialmente para a esplendorosa riqueza
Um dia estava fazendo seu trabalho um pouco longe dos "limites" da madeireira, o que não era incomum já que a maior parte daquele lugar não tinha nenhum tipo de outra propriedade a vários hectares de distância e pouco era informado aos funcionários sobre até onde ir, já que a propriedade era quase feita na ilegalidade pela falta de documentação e alegação jurídica de sua existência que não houvesse sido adquirida de forma indevida por meio da corrupção de funcionários públicos pela família que se autoproclamou dona daquelas terras(o que não era incomum entre os ilustres donos de terra), nesse ponto, Jorge passeava por perto de um pequeno córrego d'água, mas a calmaria da sua caminhada com seu velho machado era interrompida por um som insuportável, os pássaros antes aconchegados em suas árvores agora voavam em desespero, os macacos se deslocam tão rápido de galho em galho que pareciam ser raios e os gritos de um deles era quase tão alto quanto o som da explosão de uma dinamite, naturalmente tudo aquilo gera um sentimento estranho e Jorge fica paralisado pela curiosidade e vê uma cena medonha para os olhos humanos
Jorge puxa de suas costas uma Winchester 44 que havia pego de seu patrão e olha para o festim aterrorizante que uma onça realizava com o pobre macaco que não teve a oportunidade de fugir pelas árvores e foi agarrado pela força do predador, Jorge poderia ignorar e simplesmente permitir que a onça terminasse seu pequeno banquete e deixar que a natureza tomasse seu violento, porém, incrivelmente incomum e belo curso. Mas, não a nada mais intrínseco ao espírito humano do que intervir em algo por mera curiosidade para ver o desenrolar dos fatos, Jorge atira com sua Winchester mirando na cabeça da onça que só fazia seu dever fundamental como ser vivo, Jorge não tinha o costume de atirar, quer dizer ele até gostava de matar alguns pombos urbanos(Pombos Portugueses) para vender a restaurantes chiques dizendo ser pombos selvagens, mas isso não vem ao caso, a trajetória da bala foi totalmente diferente do esperado e acabou acertando de raspão a ponta da orelha esquerda do animal
A onça corre em desespero, mas Jorge já havia colocado em sua mente que poderia vencer aquela onça e vender seu couro, a onça parecia um índio Goytacá e em um momento de desespero logo se joga a um pequeno lamaçal com agua próximo como uma medida de autopreservação, ela se torna quase invisível dentro da água, a única coisa que dava para ver era o sangue que saiu do corte feito pelo tiro, a água que antes era meio barrenta estava completamente vermelha como a casca de uma maçã recém colhida, tentando se localizar usando a mancha de sangue que ficou na água, Jorge efetuava diversos tiros na tentativa de abater a onça, mas, a água barrenta do lamaçal e o sangue tapava muito bem a sua localização real. As balas do rifle se acabam e Jorge é levado pela falta de balas e o medo de acabar de vez com o caro rifle dão um motivo mais do que suficiente para a desistência de caça ou pelo menos da tentativa, mas Jorge não era o tipo de homem que desistiria de todo um caso por um único problema, a partir do momento em que essa onça entrou em seu caminho ela selou seu momentâneo tempo na terra
A teimosia era outra característica muito presente na personalidade de Jorge, o dia amanhece, Jorge voltou de seu cortiço com uma Perereca (Garrucha) Rossi autêntica que havia conseguido de um velho amigo Gaúcho e com uma pexeira que guardava para fazer pequenos trabalhos como açougueiro e de capinar lotes, fez o possível pra ir de encontro com a onça, jogou carne velha na chão, fez alguns Arapapás fazerem barulho em busca de atrair o felino e não conseguiu de forma ou maneira o encontrar, mas, o destino recompensa o mau indivíduo e Jorge acha um caminho de sangue e pelos que aparentava ser de um macaco-uivador(bugio)
Jorge corre com euforia seguindo o caminho de sangue e pelos de macaco que havia sido feitos, na esperança de achar o algoz felino que ele havia selado a orelha, Jorge conjecturou que a onça em que estava a procura provavelmente gostava de caçar macacos, talvez pela comodidade por ser uma presa de fácil abate ou por outros motivos mais complexos e que por meio daquele rastro poderia facilmente achar a onça específica no meio de tantas na assustadora Mata Atlântica
Jorge corre pela densa floresta até que o caminho de sangue e pelo se encerra, o semblante eufórico de achar sua presa se muda para o de um rastreador completamente frustado até sentir uma forte presença o observar em meio a densa matada que cercava a área onde estava, uma astuta caçadora de oportunidade parte com tudo para cima do caçador, Jorge dá o tiro mais certeiro de sua vida usando a garrucha, mesmo assim a bala acerta o chão e só serve como uma forma de evitar que desse o pulo mortal para a carótida de Jorge, a onça tenta se reorganizar e esconde-se na mata
Os tiros que Jorge efetuava de sua garrucha eram como vidro caído iam para todos os lado da densa mata onde o animal tentava se esconder, em um toque de estupidez e uma má análise de que o animal estive-se o temendo ele decide ir atrás da onça e desisti de atirar de forma incerta com a arma, o cérebro selvagem parece ter vencido o cérebro civilizado pela primeira vez e o tolo humano é atacado com tudo pelo animal que não consegue morder seu pescoço mas deixa os dois lutando como dois bêbados, fazendo perereca que estava em um suporte na sua calça cair, mas o humano não era como uma simples capivara e não se renderia tão facilmente, ele pega uma grande pedra no braço que ainda não estava imobilizado pela luta e bate a pedra com tudo na cabeça do forte animal
A onça fica em um estado de confusão, mas não se curva a morte e dá um arranhão de quase amputar o braço esquerdo de Jorge, tudo o que ele teve tempo de fazer era tentar afugentar ela com sua pexeira usando seu outro braço e tentar torcer para que ela não quisesse tentar terminar o serviço, a onça que já havia sido ferida e enfraquecida o bastante com a pedrada pontiaguda na cabeça e o ferimento do tiro (que havia infeccionado graças a os insetos tropicais) desisti e foge lentamente com uma pose de quem preparava um bote para a matar
Jorge estava cansado e fraci, seu andar era capenga como o de um velho sem uma bengala, se sentia como nunca seu orgulho havia deixado: completamente derrotado e inútil, aquele sentimento era algo que a sua natureza era desacostumada a o entregar.
Jorge entrou na mata já com uma sentença de morte, mesmo que não estivesse a uma enorme distância de qualquer ajuda humana, nenhuma medicina no mundo poderia livrar ele da situação em que estava, andando capenga ele ouve o esturro da onça que havia acabado de lutar, ela tentava intimar um jacaré de papo amarelo (que facilmente seria exterminado por uma onça adulta, mas naquela condições ela não poderia matar nem uma anta filhote direito) ele vai devagar como uma lesma para situação em que estava e no fim, usando toda a energia que ainda havia em seu corpo ele decide levar a predadora junto com ele e se joga nela para que caísse na mandíbula do jacaré, que só realiza seu dever e a fecha no clássico movimento brutal de alavanca.
No fim, o homem superior agiu como um asselvajado e usou sua força e não seu próprio instinto de tentar ao máximo se preservar (mesmo que soubesse que seu fim provavelmente seria a morte) simplesmente aprendemos que o indivíduo determinado loucamente a um objetivo irá cumpri-lo mesmo que sua esteja acima de seus instintos, ética ou código moral, está história não é meramente sobre uma onça lutando contra um tolo ganancioso, mas sim da natureza humana entra em embate contra algo que não está em seu controle.
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A Caçada da onça
Short StoryA disputa entre um homem e uma força natural, nada será capaz de deter este infeliz conflito