- então você tá querendo me dizer que esses tal de sofias são os pais da fake news?
Era o que Chan perguntava a Minho naquela noite fresca de junho. Aquelas falas do estudante de filosofia pareciam complexas demais aos olhos do Bang, que se identificava bem mais com as áreas biológicas e exatas.
Quase tudo que Lee Minho dizia, de fato, era um pouco complexo. Na realidade, talvez Minho era composto de um amontoado de complexos.
- primeiro que são sofistas, e sim, é exatamente isso! - exclama o Lee entusiasmado por ter com quem comentar sobre seus assuntos favoritos de sua área - é basicamente um foda-se o que é certo e o que é errado, pois já que a verdade não é absoluta e sim relativa, não importa se é mentira ou não, importa se você sabe como convencer uma pessoa de que você está certo.
- você tem certeza que você só fuma fora da faculdade? - Bang lança a pergunta e ganha uma risada de Minho.
Ele gosta dessas conversas da madrugada com aquele pequeno escritor filósofo, gosta até mais do que deveria. E ele sabe que o Lee compartilha do mesmo sentimento de conforto quando eles ficam até tarde conversando sobre o tudo e o nada que esses caras que Minho estuda tanto dissecam a séculos.
E apesar de não entender bulhufas, ele continua prestando atenção em cada palavra que Minho diz, pois se sai da boca dele é porque deve ser apreciado por Chan.
- eu particularmente não sou lá muito chegado nessas ideias dos sofistas - Minho continua falando após seu acesso de riso, deitando-se sobre a cama ao lado do Bang - e respondendo à sua pergunta, eu não seria capaz de fumar dentro do campus.
- hm não sei não, mas diga porque não gosta dos sofias.
- é sofistas - Minho corrige, ouvindo um "que seja" de Chan e rola os olhos voltando a sua argumentação - porque eu acho que a gente tem que tomar cuidado com esse negócio de relativizar as verdades. É por isso que tem acéfalo hoje em dia que é de direita, fica contestando a ciência e acreditando em terra plana por exemplo.
Chan ri e Minho não consegue segurar o seu sorriso ao ver que é o motivo da gargalhada gostosa do outro. Ele gosta de fazer as pessoas rirem, principalmente se "as pessoas" incluem o Bang.
- ok, você tem um ótimo argumento. - concordou após cessar seu riso.
- obrigado. O Seungmin disse que eu levo a filosofia muito a sério quando eu falei isso pra ele.
- eu concordo com ele. - Chan se ajeita melhor na cama, abraçando a lateral de Minho e encostando o queixo nos ombros do rapaz.
- mas filosofia é pra se levar a sério! - o Lee contesta emburrado - se não fosse pra levar a sério, não seria matéria que cai em vestibular, não teria um curso específico apenas pra estudar isso.
- eu acho que ele disse no sentido de você levar as coisas muito ao pé da letra.
- só porque eu critico aqueles gregos metidos a cursinho pré-vestibular? Eu não acho que sou tão radical quanto vocês pensam, vocês que são uns bundas moles acomodados. - reclama cruzando os braços e fazendo bico, isso faz o coração de Chan derreter tanto, ao ponto que ele nem percebe que apoiou o rosto na palma da mão para admirar melhor o rapaz.
Ao perceber que estava sendo ferrenhamente encarado pelo nada discreto Bang, Minho limpou a garganta e disse, tentando parecer irônico:
- tire uma foto, talvez dure mais.
- não há nada como presenciar isso. - Chan responde no ato.
- presenciar o que? - Lee comete o erro de se virar para olhar para o Bang e lhe falta ar quando vê Chan com aquele sorriso irritantemente perfeito.
- você. Eu gosto de estar com você.
Minho desvia o olhar sabendo que vai corar e cai na risada, uma risada tímida e boba, repleta daquilo que ele insiste em negar por medo de se envolver.
Respira fundo, sem o encarar diretamente e rebate com: - desde quando você é tão gay?
- idiota. - Chan devolve, entretanto ri - desde o momento em que passei a conviver com você.
- não foi não, eu não sou assim. Odeio demonstrar afeto por seres humanos, isto inclui o senhor, Christopher Bang. - Minho fala em tom de provocação, sabendo que o mais velho tem um fraco gigantesco por ele o chamando de "Christopher".
Chan engole em seco e decide ignorar o quanto sua respiração acelerou, o quanto seu coração bateu mais forte, o quanto sua pele se arrepiou, o quanto as borboletas em seu estômago farfalharam. O interior do Bang estava em polvorosa, mas ele não podia cair na tentação daquele provocadorzinho fajuto, ele não se permitiria.
- me odeia tanto que praticamente mora no meu dormitório. - Chan diz.
- você é o único que me aguenta tagarelando depois de meia noite. - Minho responde, se ajeitando melhor na cama e virando o rosto para Chan - e eu não te odeio. Odeio ter que demonstrar sentimentos, é completamente diferente.
- entendi essa parte. Mas você sabe que mesmo odiando, você acaba demonstrando né? Porque vir pro meu dormitório toda noite pra dormir agarrado comigo é praticamente um "tenho sentimentos por você".
- aham, vai nessa. - rolou os olhos como se desdenhasse, no entanto Minho sabia que era exatamente o que acontecia.
Quando ele virou o rosto para Chan, o rapaz ainda o encarava com aquele brilho no olhar de quem tinha tudo o que sempre sonhou, e aqueles tipos de detalhes sobre Chan o deixavam ainda mais difícil de rejeitar.
No entanto ele precisava sempre se desvencilhar do Bang, para seu próprio bem e de Chan, ambos sabiam como eram complicados demais um para o outro.
Enquanto Chan queria alguém para sossegar, Minho precisava de alguém que o acompanhasse. O Bang veio da Austrália, havia se estabilizado e finalmente encontrou seu lugar no mundo na Coréia e nos olhos daquele rapaz metido a filósofo.
Mas o mundo de Chan ainda queria conhecer o mundo.
Lee tinha um mundo inteiro para desbravar, tinha um espírito livre e leve, e suas memórias eram limpas como um papel em branco, que ele sentia a necessidade de colorir visitando museus, parques, monumentos históricos, conhecer culturas novas, aprender uma nova culinária, uma nova língua.
Minho levou sua mão até o maxilar de Chan e fez um carinho com o polegar, dizendo:
- você sabe que hoje eu posso me declarar pra você e em seguida pegar um avião para Veneza e viver de pescados e poesias?
- isto parece algo que você faria. - Chan ri colocando sua mão sobre a de Minho.
- e é por isso que não o faço. Eu sei que sou imprevisível e que no momento em que eu precisar ir, eu vou te deixar. - Lee responde, parecendo chateado.
- com ou sem declaração sua, eu sei que é tudo recíproco. - Chan encosta suas testas fechando os olhos - nós dois sabemos disso, não somos idiotas.
- a verdade pode ser o que eu quiser se eu souber me convencer de que somos apenas amigos - ele diz baixo, sentindo a respiração do Bang engatar. Ele ficava magoado, Minho tinha certeza, contudo Chan tentava não externar aquilo.
Ele respirou fundo, deu um beijo na testa de Minho e disse:
- sabe que parafraseou os tais sofias né?
- são sofistas, Bang Chan!
Chan riu e abraçou Minho para que dormissem juntos e o Lee se acomodou naquele abraço quente e aconchegante com um sorriso pequeno, que dizia mais do que as três palavras que carregava no coração, enquanto o Bang, apesar de tudo, sabia que quando seu mundo resolvesse viajar o mundo, Lee daria um jeito de o incluir nas suas aventuras, Minho sempre fez isso.
Minho era um moço incompreendido, como ele mesmo se dizia ser, mas no fundo ele sabia que Chan era o único que compreendia cada pedaço seu de complexidade.
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N/A: espero que gostem desta oneshot, primeira vez que escrevo uma one com o shipp dos meus utts, fiquei feliz com o resultado.
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after midnight talking | minchan
Fanfiction[amt | minho e chan | skz | concluída] As conversas de depois da meia noite com Minho não faziam o menor sentido, mas Chan até que gostava de perder o sono com aquele estudante de filosofia aspirante a viajante. Gostava até demais. ≡ disponível some...