2. A pedreira

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A pedreira, onde o corpo teria sido encontrado, ficava na divisa das aldeias Bororó e Jaguapiru que formam a Reserva Indígena de Dourados. Ela era formada por um grande paredão de rochas e terminava em uma lagoa.

Havia várias viaturas policiais no local quando eles chegaram. Inclusive uma de peritos em exame do local e corpos. Caíque estacionou o carro um pouco afastado e desceram até às pedras perto do lago, onde todos estavam. Alguns policiais tentavam manter afastados os curiosos que se aglomeravam e se apertavam tentando saber as notícias.

— Era mesmo o corpo da menina que estava desaparecida? — perguntou Caíque a uma pessoa que estava mais à frente.

— Não era o corpo da jovem que estava desaparecida. É de uma menina. O policial disse que deve ter uns dez anos.

Ao ouvir isso Anajé soltou o ar que nem sabia que estava prendendo. Que bom que não era Lauany, pensou de forma egoísta, para em seguida voltar pensar em onde ela poderia estar e se a mesma coisa não poderia ter acontecido com ela.

Eles ainda conseguiram ver os policiais retirando e levando o corpo. O grupo descobriria depois que o corpo encontrado era de uma menina de onze anos, que tinha sido embebedada, estuprada e assassinada.

Assim que os policiais terminaram seu serviço ali e se retiraram, deixando faixas que proibiam o acesso ao local exato onde o corpo fora encontrado, as pessoas também começaram a se retirar. Era cerca de meio dia, estavam com fome e foram para casa.

O grupo de Caíque também já estava saindo quando Thor começou a latir. Conseguindo se desvencilhar da guia que o prendia, correu até a uma grande pedra que ficava junto ao paredão.

— Thor! Não! — disse Kaluanã, de 6 anos, correndo atrás do cachorro.

— Kaluanã, não! — disse a irmã Açucena de onze anos, que até ali estava paralisada pelos acontecimentos.

O cachorro latia furiosamente parado em frente à grande pedra. O grupo se aproximou e perceberam um colar indígena no chão. Ítalo, amigo e colega de classe de açucena, também de 11 anos, pegou o colar e mostrou.

— Será que era da menina que morreu? — perguntou. — Como a polícia não viu isso aqui?

Anajé pegou o colar e observou. Suas mãos tremiam.

— Não. Esse colar não era da menina encontrada morta. Esse colar era da Lauany. Eu mesmo que fiz e dei para ela. Ela esteve aqui.

Thor deu a volta à pedra. Kalu foi atrás. Açucena acompanhou os dois porque ela não podia deixar seu irmãozinho se embrenhar perto do paredão da pedreira.

O resto do grupo, por um instante, pareceu paralisado olhando o colar, sem acreditar. Então reagiram e foram atrás dos outros. 


As noivas de RatanabáOnde histórias criam vida. Descubra agora