Capítulo Trinta e Três

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Acordei com Arthur balançando meus ombros. Meu colchão estava confortável como nunca. Eu não queria acordar. Não queria acordar principalmente porque sabia que seria um dia desgastante, mais que os anteriores. Havia algo que estava deixando minhas costas coladas ao colchão, e não era a preguiça como muitas iriam afirmar — e já afirmaram — era algo grudento como areia movediça, pesado como concreto. E doloroso como espinhos. Era tudo isso. Eu não sabia explicar melhor. Só tinha vontade de deixar o dia passar sem mim, que eu ficasse aqui, para dormir de novo e desejar que amanhã possa ser relativamente melhor.

Meus olhos doeram com a claridade. O sol estava forte e parece que não havia chovido como se o mundo fosse acabar de madrugada. Levei um tempo para perceber que o rosto à frente, que me acordou sutilmente, não era o de Arthur. É rosto de Vinci.

E ele está com Denis. E Ícaro.

— O que vocês... — pisquei e esfreguei os olhos. Minha mente ainda girava e meus olhos doíam pela claridade — Como entraram?

— Arthur deixou a gente entrar — Denis diz.

Todos eles estão de farda, jeans e tênis. Mochila nas costas.

— Estou atrasado?

— Quase — Ícaro diz. Acho que é a primeira vez que ele vem aqui. É a primeira vez que estamos tendo uma conversa, na verdade — Você ainda pode tomar banho e comer. Mas só se levantar agora.

Assenti àquela ideia. Mas ainda assim, meu corpo estava pesado. Minha boca ardia e eu sentia os requisitos de lágrimas nas minhas bochechas. Respirei fundo, uma única vez e me levantei, dando graças aos céus por estar de calção e camiseta.

Meu banho não demorou tanto. Não havia ninguém no banheiro comigo, e eu apreciei o silêncio junto a água caindo. Foi bom tomar banho. Sempre é bom tomar banho. O problema é que quando cheguei ao meu quarto, apenas Vinci estava lá. Já vestido, apenas peguei meus tênis e as meias e me sentei na cama.

— Bom dia, raio de sol — digo, sorrindo.

Sorria de volta, por favor, não invente de me agradecer agora. Agora não. Só sorria...

E ele sorriu.

E me mostrou o desenho que eu fiz.

— Você conseguiu registrar bem minha beleza.

Meu coração acelerou ao mesmo tempo em que me levantei. E com isso me desequilibrei por não estar com os tênis calçados. Vinci impediu que eu caísse de cara no chão quando me segurou pelos ombros. A folha de papel amaçou com um barulho. O rosto dele se contorceu em uma careta quando consegui me equilibrar.

— Me desculpe. Amassei a folha.

— Não tem problema. Pode ficar, se quiser.

— Obrigado. — Ele dobrou o desenho e pôs no bolso — Eu adorei. Pena que não sei desenhar. Eu tentaria desenha você.

Faço uma careta como a que ele fez há pouco.

— Não acho que ficaria legal.

— Por que não? — Vinci se senta em uma das cadeiras à mesa. Sua postura é relaxada, diferente da minha, que é tensa ao ponto de quebrar.

— Não acho que eu ficaria legal em um desenho. Quer dizer, acho que ficaria estranho. Só isso.

Ele balançou a cabeça, negando e sorrindo.

Seus olhos analisaram meu rosto por alguns segundos e depois disso, eu esperei que ele dissesse que sabia que eu tinha ido até o dormitório dos funcionários para falar com o pai dele. Esperei de tudo, de todas as formas de lições de moral, de como eu fui imprudente me metendo nos problemas dele. Eu aceitaria cada palavra dele sem retrucar mesmo tendo em mente o que Allan me disse. Eu não tinha o direito de me meter. Eu só não esperava que Vinci não tocasse nesse assunto.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora