capítulo único

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Because now
Cupid carries a gun
Now, now
Cupid, Cupid carries a gun

A música tocava alto na van e Kid batucava contra o volante enquanto o resto da banda dormia tranquilamente nas beliches que ficavam no meio do veículo. Estavam seguindo rumo ao novo palco que subiriam para cantar suas músicas originais e que eram aclamadas pelo público em uma euforia deliciosa de se ver. 

Os aplausos, os gritos, as pessoas chamando seus nomes era uma loucura muito boa de se viver, uma emoção indescritível a qual Kid não trocaria por nada, afinal, era a realização de um sonho.

— Your cupid no longer carries a gun — comentou Law ao seu lado, as pernas compridas se apoiando no painel do carro. — Você tem mesmo que colocar essa música em toda viagem? 

— Claro que tenho, lembra dos bons e velhos tempos — falou com sarcasmo, sua mão ajeitando o retrovisor para verificar que os demais ainda dormiam apesar de sua conversa. Não queria que eles escutassem enquanto falava com Law, mesmo que já não fosse necessário esconder seu relacionamento com o cupido, ou melhor, ex-cupido. — Quando se vê um cupido armado pela primeira vez, não esquecemos nunca... 

— Tanto não me esqueceu que estou aqui com você... Maldito caso perdido que nem a artilharia mais pesada resolveu — provocou Law com um sorriso sacana. 

— Se eu fosse tão perdido assim, você teria desistido e procurado outro trabalho, mas você ficou e gostou do que provou. — Kid fez um biquinho e sons altos de beijos apenas para provocá-lo. — Quem é que não sabia beijar mesmo? Deu uma bitoquinha e já caiu de amores aos meus pés. 

— Vai a merda, Eustass-ya, você sabe que o primeiro a se apaixonar aqui foi você. Admita. Eu mirei certinho no seu coração. — Law apontou seu dedo indicador e o médio em direção ao peito de Kid, um de seus olhos se fechou como se mirasse e pow, um tiro invisível disparou de seus dedos. — Bang bang. 

— Tu spari a me bang, bang — cantarolou e girou suavemente o volante, virando em uma extensa curva da serra que subiam para chegar na próxima cidade. — Não admito o que não é verdade. Você foi o primeiro a se declarar. 

— Claro, um brutamontes como você não sabe falar de amor sem que tenha um exemplo para seguir... Só estava ensinando ao meu assistido como se fazia. 

— Se quer falar de amor, fale com o Marcinho — Kid cantou e riu alto de como o ritmo de funk parecia tão estranho em sua voz, tão discrepante. — Acho que ensinou mal, preciso de novas lições. 

— Não consegue resistir a vontade de cantar quando estamos juntos? Isso é o que o amor faz, Eustass-ya, transforma tudo em música e emoção. 

— Porra, isso foi muito gay, Trafalgar... Isso é o que o amor faz... Só sei cantar com você... 

— Dançar, não cantar — corrigiu a letra da canção.

— Tanto faz, dá na mesma merda.

— Não dá não, até porque você nunca me chamou para dançar. 

— E deveria? — questionou Kid com um sorriso provocativo e Law lhe deu um leve tapa no braço. 

— É o mínimo que deveria fazer depois que eu deixei de ser um cupido 'pra viver essa vida de humano nômade com você e sua banda de garagem — comentou Law mostrando o dedo do meio para o maior que se inclinou para mordiscar a ponta do dígito do outro. 

— Ah, qual é? Vai dizer que não gosta? Você é quem mais se diverte nessas viagens, fica sentado apreciando a paisagem, ouvindo música, conversando... 

— Ter sido um cupido me deu essa vantagem, tenho uma desculpa muito boa para não dirigir, afinal, não tenho carteira de motorista. — Law deu de ombros e levou seus dedos para os fios grossos e avermelhados, acariciando-os sutilmente. 

— Eu posso te ensinar a dirigir se quiser, não é tão difícil assim... E conseguir uma carta é o de menos agora que somos famosos. 

— Hm... Que proposta tentadora, mas prefiro continuar de passageiro e ter um chouffeur particular só para mim. 

— Folgado... Só para você, é? Não sabia que era tão possessivo — disse Kid em um tom insinuante, uma de suas mãos largou do volante apenas para apertar a coxa do menor. — Tem medo que uma de suas balas tenha atingido outro alguém por engano? 

— Foi modo de dizer... Se tivesse atingido alguém, tenho certeza que a pessoa desistiria. Tem que ter muita paciência para lidar com você. 

— Então por que não desistiu? Você não é lá muito paciente — debochou Kid mostrando a língua e colocando as duas mãos no volante, seus dedos pressionando com certa força o objeto.

— Porque eu sou um completo idiota — afirmou e Kid bufou com a resposta, Law conseguia o fazer se sentir de 0 à 100 em questão de segundos, ir de apaixonado para irritado em um piscar de olhos, mexia com seu interior de uma maneira que nenhum outro conseguira. — Me apaixonei pelo meu assistido e larguei tudo o que tinha para ficar ao lado dele. Há algo mais idiota do que isso? O amor realmente deixa a gente besta. 

Kid gargalhou alto e bagunçou os fios negros por curtos segundos. 

— Fazemos coisas estúpidas por um sonho — comentou Kid e Law retirou os pés do painel, se ajeitando no estofado. 

— Ou pelo sonho de quem a gente ama... 

Os dois permaneceram em um silêncio confortável depois disso, a paisagem passava tranquila do lado de fora e aos poucos a serra estava por se findar. 

— Obrigado por acreditar no meu sonho — falou Kid um bom tempo depois, seu olhar se mantendo reto para a estrada, não desviando nem um segundo sequer. — Acho que não estaríamos aqui se não fosse por você. 

— Agora deu para falar loucuras... Claro que estaria aqui, vocês têm garra o suficiente para irem para onde quiserem. 

Kid balançou a cabeça em negação e Law lhe deu um leve empurrão no ombro como um aviso de que estava errado e dizendo bobagens. 

— Você já percebeu que a maioria das músicas que escrevi são sobre você? Estava completamente sem norte para escrever qualquer coisa antes de você, Trafalgar.  Se não fosse por isso, eu provavelmente estaria no meu quarto, trancado e em depressão por não conseguir fazer nada bom o suficiente e concluindo um curso que nunca tive interesse — comentou Kid e o silêncio cresceu entre eles. Law queria dizer algo, falar que era a mais pura falácia, que Kid iria sim escrever algo incrível sem sua presença, que teria feito tanto sucesso quanto agora, mas não mencionou nada, talvez por não precisar ou pela expressão do outro demonstrar que não queria complementos ao seu desabafo, à sua declaração. 

Havia sim um fundo de verdade em tudo o que Kid dizia, mesmo que Law não quisesse dar o braço a torcer e tomar parte da conquista do ruivo para si. Fora depois que conheceu e se apaixonou por Law que sua vida mudara totalmente, como se o outro o erguesse em cada momento. 

Foi um longo caminho até ali, até estarem sentados naquela van rumo a um novo destino, prontos para escutarem os gritos da platéia e as vozes cantando em coro suas canções. Havia caído em desespero por muitas vezes, acreditado que nunca fariam sucesso ou que era um sonho desperdiçado, anos e anos de prática para acabar no esgoto, mas sempre que caia, Law estava do seu lado para o levantar mais uma vez, para dizer com seu jeito sarcástico e irônico que deveria acreditar.

Law sabia exatamente como fazê-lo se erguer e Kid acreditou veementemente que nada nem ninguém poderia derrubá-lo, nem ele mesmo poderia, afinal, tinha o moreno ao seu lado, seu cupido particular e o motivo por não ter desistido até ali. 

Law era a única razão, aquele que o apoiava mesmo que de seu jeito sarcástico, debochado e provocativo. Com o amor que sentia por Law, nada poderia derrubá-lo, nem mesmo seus demônios interiores e a inconstante sensação humana de sentir-se insuficiente sem razão.

— Ei, Trafalgar, aceita dançar comigo no palco essa noite?

— Você sabe que sim. Adoraria dançar com você pelo resto das minhas noites humanas.

Drag me downOnde histórias criam vida. Descubra agora