Capítulo 14

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Há memórias que se tornam em lágrimas
Junto ao medo de voltar a amar
Minha voz se perdeu
Até o sentido ao falar
É só te escutar, é só te olhar
Para o amor recomeçar
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Todos se encontravam atordoados pelo o que havia acontecido durante a madrugada, até mesmo quando a manhã surgiu por completo com o sol brilhando lindamente, não pareceu o suficiente para fazer nenhum membro do Palácio dar atenção.

Ninguém está seguro.

Eram esses os pensamentos da maioria, principalmente de Ivor que sentiu um forte medo crescendo dentro de si, um medo que parecia incinerá-lo de dentro para fora, misturado com uma vergonha irritante de ter sido tão ingênuo.

De qualquer modo, era possível ouvir a cada quinze minutos os passos pesados de guardas trocando de posição e, de alguma forma, isso servia de consolo para todos os que sobreviveram. Assim que tudo terminou, Ivor mandou Mila buscar Louis em sua casa, ela conseguia notar o cansaço nos olhos do rei e algo que parecia frustração.

Mas ela ignorou. Afinal, aquilo não era problema dela. O que mais a deixava infeliz era o sangue, já seco, espelhado por todo o seu corpo. Enquanto caminhava pelas ruas, sentiu olhares assustados a sua volta, todos se perguntando o que a deixou tão suja de sangue, alguns até mesmo abriam caminho para ela com os olhos arregalados.

Os sussurros eram de teorias sem cabimento. Mila ouviu alguns homens comentando:

- Ela matou o rei? Esse caminho que ela tá fazendo vem diretamente do Palácio...

- Como ela pode andar tao descaradamente na rua desde jeito? Bastarda.

- Nunca a vi por aqui, deve ser alguma puta que foi paga pra deitar com o rei e aproveitou pra matar ele.

Esse último em questão chamou sua atenção, Mila se virou para trás, com os olhos fixos em um homem que sorria divertido, mostrando a falta de dentes que tinha na boca. Assim que seus olhares se encontraram, ele ficou sério e cruzou os braços, com um olhar duro. Mila apenas sorriu com escárnio e voltou a andar, puxando a capa que usava para trás para revelar duas espadas pequenas embainhadas no coldre.

O suficiente para calar todos que a vissem.

Quando chegou na Catedral, notou fiéis sentados em bancos, de cabeça baixa enquanto Louis fazia a oração da manhã na companhia do seu sucessor, um homem que parecia ter a mesma idade de Rendrik. Ele foi o primeiro a ver Mila e cobriu a boca antes de soltar um grito, Louis notou seu comportamento e olhou ao redor da igreja, vendo Mila caminhar para o seu escritório sem chamar a atenção.

- E com isso, encerro nossa oração matinal. Que Deus os abençoem! - Louis disse e desceu do palco com a ajuda do seu sucessor - Não comente com ninguém o que acabou de ver! - Ele sussurrou se afastando.

Mila notou alguns papéis jogados em cima da mesa, com o que parecia ser um ritual de preservação e, embaixo, uma pintura simples. Ela afastou o papel de cima, curiosa, e pegou a pintura. Era uma mulher bonita, cabelos ondulados e ruivos, branca e com pintinhas espalhadas ao redor do rosto, ela parecia séria, seus olhos estavam abertos mas transmitiam cansaço, sua boca se retorcia em um sorriso desanimado.

Onde eu vi essa garota?

Mila fechou os olhos por alguns segundos e então lembrou de Margot, não do seu nome em si, mas da jovem que era assustadoramente semelhante à da foto. O dia em que esbarrou nela foi a primeira vez que a viu, e sentiu uma sensação estranha, a segunda foi...

No Palácio!

Ela estava lá, mas Mila nem mesmo a notou. A dor de cabeça voltou, como um incômodo, mas ela ouviu uma voz feminina, baixa e quase inaudível, sussurrar dentro da sua mente em uma melodia sofrida.

A Lenda das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora