Quebrando o Gelo

Segredos

— 1, 2, 3, sorriam!

A treinadora apertou o botão da câmera e uma foto em grupo foi tirada. Ela tinha uma câmera profissional na mão e em sua frente estava a sua turma, todos juntos no gelo com os seus patins e sorrisos nos rostos. Faltava um mês para a competição e os alunos estavam muito cansados com o treinamento pesado todos os dias, às vezes passando dos limites, mesmo que Liara pedisse para que fossem para casa. Apo era o seu aluno mais dedicado, o que sempre ficava uma ou duas horas a mais praticando. Mas aquela era a vida que escolheu. Ele não podia reclamar do cansaço, de como o corpo doía, das dietas que precisava seguir rigorosamente quando percebia que não estava no peso ideal para patinar. Aquele era o sonho de Apo. No futuro tudo valeria a pena.

O ponto era que todos já estavam muito próximos, até Bible que não treinava com frequência se sentia muito bem na companhia de todos eles. Apo vivia uma luta interna por causa dele, aliás. Ele queria conversar com Bible sobre o assunto das drogas, mas aquilo não era da sua conta e Mile poderia ficar chateado consigo caso se intrometesse, e Apo agora começou a construir uma amizade com Mile. Não queria estragar o que tinham. Eles treinavam juntos quando a aula acabava e trocavam dicas de como um determinado passo deveria ser feito. Conversavam pelo Instagram e trocavam vídeos de gatos fofos. Mas eles nunca saiam juntos sozinhos, talvez porque ainda não se sentiam confortáveis para aquilo. Ainda existia algum tipo de muro impedindo que tivessem intimidade um com o outro.

A aula estava prestes a começar. Liara pediu para que os alunos mostrassem que tipo de coreografia fariam e que tipo de música tocariam na apresentação da próxima competição. Apo estava ansioso para mostrar para a treinadora como evoluiu e como estava se esforçando para perder o medo de fazer movimentos complicados. Ele teve muita ajuda de Mile e o agradeceria um dia por aquilo. Ao menos a ansiedade que estava sentido era boa, um sentimento de que tudo poderia dar certo na sua apresentação, um pouco de esperança preenchendo cada canto dentro de si. Não tinha nada a ver com o nervosismo que sentia quando estava perto de entrar no gelo.

Apo fez questão de ser o primeiro aluno a mostrar o que preparou para a treinadora. Ele tinha um coreógrafo particular contratado pelos seus pais que o ajudou a criar uma coreografia. Queria que estivesse bom o suficiente para receber elogios de Liara, porque precisava da aprovação dela para se sentir confiante e seguir em frente. Ele se preparou para aquele dia por meses, até comprou uma roupa nova. Um casaco azul e uma calça bege. Azul combinava com Apo. Ele era um garoto bonito, o mais bonito da turma, era o que os seus amigos diziam, mesmo que não soubesse se estava sendo caçoado ou não. Ele era alto e forte, mas não de um jeito exagerado. Estava na medida. Tinha uma cintura fina e ombros largos, um peitoral forte que sempre ficava marcado nas blusas. Em resumo, tinha o que chamavam de corpo perfeito.

A pista de gelo ficou vazia quando Apo se posicionou no meio dela. Não era um horário comum, então a treinadora, a equipe e outros patinadores estavam presentes, poucas pessoas. Mas Apo não se sentia desconfortável com multidão, então ele continuou relaxado, respirando fundo e alongando o pescoço para assumir a posição inicial antes de começar o seu programa. Quando a música soou por todo o ambiente, ele seguiu o ritmo agitado e sensual da batida, patinando por todo o rinque, os braços sempre se encontrando e as mãos passando pelo corpo, como se estivesse performando em algum palco para milhares de pessoas.

Apo procurou por Mile na arquibancada. Quando o encontrou, ele estava lá, sorrindo, e Apo dificilmente o via sorrir daquele jeito. Apo retribuiu o sorriso, sentindo que Mile estava torcendo por ele. Não poderia continuar o encarando para não se desconcentrar, mas sentiu o olhar de Mile em si durante toda a coreografia e pôde quase sentir a vibração dele quando deu um salto e pousou com perfeição, abrindo o sorriso ainda mais, sentindo orgulho de si mesmo por não ter hesitado. Ele riu quando ouviu Perth e Barcode gritarem animados e baterem palmas, ficando sério logo em seguida para completar a sua sequência.