Dead, Novembro de 1988
Alguns dias se passaram desde que cheguei, mas, para minha tristeza, nós ensaiamos poucas vezes. A maior parte do tempo eu e Euronymous ficávamos sozinhos em casa, já que Hellhammer não morava lá e Necrobutcher saía para trabalhar em... seja lá onde ele trabalha. Eu, obviamente não tinha arranjado outro emprego além da banda, pois sou recém chegado no país, e Euronymous me disse que não trabalhava porque estava juntando dinheiro para abrir uma loja de discos, dinheiro esse que conseguia com com os shows do Mayhem... e com ajuda dos pais dele também. (Sinceramente, se ele trabalhasse, não iria conseguir juntar isso mais rápido? Bom, não é da minha conta).
Por ficarmos juntos o dia inteiro, acabamos ficando um pouco mais próximos... ele era legal quando não tinha ninguém por perto, mas agia de maneira muito estranha quando mais alguém estava na casa.
Em uma das nossas conversas, perguntei se ele não tinha namorada, porque... nessas primeiras semanas que eu estou aqui, nenhuma garota havia vindo, nem ele havia saído para encontrar alguém, mas ele disse que não. Que não tinha tempo para "perder com garotas". Bom, parece que encontrei alguém tão solitário quanto eu.Ainda assim, mesmo que houvessemos nos aproximado um pouco, eu não ficava conversando com ele o dia inteiro. Na verdade, eu passo grande parte do tempo no meu quarto. Tentando me fazer de surdo para fingir que não estou incomodado com as músicas eletrônicas insuportáveis que ele ouve... Eu pensei que conseguiria melhorar um pouco meu humor mudando de ares, mas parece que tudo continuou a mesma coisa. Continuo me sentindo horrível do mesmo jeito... e continuo com os mesmos costumes que minha mãe não gosta, ou seja, me cortar; mas eu não queria ouvir comentários de algum dos caras da banda, então passo a maior parte do tempo com blusas compridas.
Hoje, ao amanhecer, desci para comer alguma coisa, porque eu já estava começando a me sentir fraco, faziam alguns dias que eu não comia. Eu não estava com fome realmente, mas sabia que precisava de algo. Então comecei a caçar alguma comida nos armários, mas só me deparei com caixas de cereais vazias... eu não queria preparar alguma refeição elaborada logo cedo, então decidi que iria sair para comprar algo. Por sorte o dinheiro que trouxe das minhas economias e de uma ajuda que meus pais deram estava longe de acabar, então eu poderia me dar o luxo de comprar as besteiras que me dessem vontade (porém estou torcendo para fazermos um show logo... eu sei que esse dinheiro não vai durar para sempre).
Peguei um casaco meu que eu havia deixado jogado no sofá e as minhas chaves. A casa estava vazia hoje. Necrobutcher avisou que não dormiria aqui, e... bom, Euronymous estava, mas em seu quarto, eu acho.
Fiz o caminho que agora já me era familiar até o mercadinho mais próximo. Ao chegar lá, peguei meu cereal favorito e resolvi dar uma volta para dar uma olhada pelas prateleiras e ver se encontrava alguma coisa que me desse vontade de comer.
Me vi parado em frente a geladeira, encarando as bebidas, me questionando se eu deveria levar algo para Euronymous e ser um bom amigo ou só... não me importar, como ele parece fazer comigo.
A abri, peguei um suco e encarei por mais alguns segundos a última prateleira, onde ficavam as garrafas de Coca-Cola... e no fim, peguei. Era engraçado pensar que até agora, nossa amizade se resumia em refrigerante...Peguei e fui até o caixa pagar, para em seguida caminhar até a casa.
Durante todo o curto trajeto, minha mente estava tomada por duas coisas: a primeira era a torcida para que um carro passasse por cima de mim, e a segunda era o questionamento se eu sou muito idiota por tentar agradar ele.
Bom, preciso confessar que eu achei ele bonitinho, mas eu também achei ele meio babaca... bem babaca.
De qualquer forma, eu já estava com a garrafa, então tanto faz. É só uma bebida, afinal.Quando entrei, percebi que havia algo meio diferente... um casaco que eu não fazia ideia de quem era no sofá da sala, e pude ouvir uma voz até então desconhecida na cozinha. Me dirigi ao cômodo lentamente, com um pouco de receio já que eu não estava em um dia bom, não queria ter que me apresentar para alguém, mas precisava ir pra lá. E ao entrar, encontrei Euronymous e... seja lá quem fosse aquele cara, conversando.
Os dois se viraram para mim, eu dei um sorriso meio sem graça e um bom dia em seguida, depois fui até a mesa deixar as coisas.
- err... oi, meu nome é...
- Ah, você é o Pelle, Øystein me falou de você.
O estranho deu um sorriso esquisito, e de canto de olho pude ver que Euronymous estava com uma cara meio... diferente; parecia mais nervoso que o de costume.
- Meu nome é Varg. eu e Øystein estávamos conversando sobre tocarmos alguma música juntos. Eu tenho uma banda também, pensei que seria legal fazermos algo juntos, poderíamos vender mais. Hm, eu ouvi dizer que você canta muito bem... poderíamos também, mais tarde, tocar algo juntos, o que você acha?
Ele deu o mesmo sorriso esquisito outra vez, eu não conseguia compreender porquê eu estava me sentindo tão desconfortável, mas tentei agir naturalmente.
- Ah... hm... obrigado. ehh... hoje? É que eu não estou me sentindo muito bem, sabe... ahm... eu até ia avisar Euronymous de que eu não estou muito disposto... sabe? Caso fossemos tocar hoje, mas podemos ver, é, algum outro dia
Forcei outro sorriso e mudei de assunto rapidamente, para poder também sair desse cômodo o mais rápido que eu conseguisse.
- Euronymous! Eu comprei pra você.
Tirei a garrafa da sacola e olhei para ele, que pareceu conter sua felicidade, ele apenas me respondeu um "legal" e se virou para abri-la
- Então tá, Kristian, a gente vê isso. Eu não tô muito bem hoje também, sem contar que precisamos falar com o resto do pessoal da banda.
Euronymous falou, seguido pela resposta do... Varg, ou Kristian, sei lá
- Você tá me mandando embora??
Ele deu uma risada estranha e se aproximou de Euronymous, lhe deu um tapinha nas costas e negou com a cabeça
- Tá, tá bom. Eu volto semana que vem então. Esteja menos irritadinho quando eu aparecer de novo, de preferência.
Enquanto eles conversavam, eu já estava terminando de preparar meu cereal, o coloquei em uma tigela e estava enchendo-a de leite quando Varg direcionou sua fala a mim
- Até mais também, Pelle. Espero que possamos nos conhecer melhor em breve.
Aquele sorriso outra vez... eu me sentia meio mal até olhando para isso. Credo, parecia que ele tava dando em cima de mim... eu concordei com a cabeça e me despedi também.
Ele então deu mais um tchau para Euronymous e saiu. Øystein esperou até ouvir a porta da sala se fechar e se virou para mim- Aquele cara é insuportável pra caralho. Se ele continuar enchendo minha paciência eu vou acabar arrebentando ele... mas obrigado pela coca, Pelle!! Você faz meu dia!
Ele deu um sorrisinho e saiu da cozinha... adoravelmente assustador como ele muda de um segundo para o outro.
Enfim, peguei minha tigela de cereal e subi para o quarto, precisava de um longo tempo sozinho depois dessa coisa esquisita.
Euronymous, Novembro de 1988
Eu estou tão feliz com a chegada de Ohlin, claro que preciso sempre manter minha postura, mas ele é tão lindinho que as vezes eu não consigo resistir a... não ser mau. Ele era bem tímido, diferente de mim na verdade, mas sinto que nós nos damos bem, mesmo que ele passe grande parte do tempo em seu quarto. Sempre que ele saía, me trazia refrigerantes... Ah, Como eu fico feliz. Mais ninguém faz isso por mim...
Hoje quando me levantei, não o encontrei pela casa, então supus que ele havia saído, mas para minha terrível supresa, encontrei Kristian chamando no portão, um cara que conheci há um tempo e que estava me enchendo o saco. O que mais me irritou foi a maneira que ele olhou para Pelle. Eu poderia quebrar a cabeça dele no meio.
Tentei fingir que estava tudo bem, porém... eu sei que demonstrei estar irritado. Não me importo, eu já estava antes.Quando vi Pelle subindo para seu quarto, resolvi deixá-lo lá por algum tempo, mais tarde eu irei lá para conversar com ele.
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dearest
Fanfiction"Meu nome é Per Yngve Ohlin, mas eu prefiro que me chamem pelo meu apelido: "Dead"; ou para os mais íntimos, Pelle. Eu amo Black metal e odeio minha vida. Um dia eu ainda pretendo criar coragem e acabar com tudo isso."