Expresso de Hogwarts, primeiro de setembro de 1971.
Remus estava de saco cheio de toda aquela merda relacionada a magia e o que quer que fosse. A ideia de passar horas e horas trancado em um trem idiota cheio de garotos e garotas igualmente idiotas tagarelando e sendo idiotas o desagradava profusamente. Pior, lhe dava náuseas.
A forma como seus pais e todos os outros o tratavam, como se ele fosse de vidro ou feito de açúcar e iria quebrar ou derreter na primeira dificuldade que chegasse era o pior de tudo. Remus odiava se sentir assim, inocente, indefeso, ingênuo.
Ele se lembrava do dia em que o diretor da escola, Alvo Dumbledore, chegou em sua casa para explicar a seus pais como funcionaria suas luas cheias em Hogwarts (e que nome ridículo para uma escola) e de como o velho barbudo o tratou como se ele fosse uma espécie em estudo. Naquela mesma noite, seus pais passaram um tempo em seu quarto conversando com ele sobre magia, estudos e amizades e coisas assim. Bom, vamos resumir a "coisas assim" porque Remus não se lembra nem da metade do que os velhos Lyall e Hope tentaram conversar com ele aquele dia, ele estava muito ocupado tentando usar a força da mente para levitar uma meia até a gaveta do guarda-roupa.
Bom, de qualquer forma, Remus não tinha muito o que fazer, teria que ir para essa tal Hogwarts e passar sete longos anos estudando sobre alguma coisa que ninguém liga mas que envolve varinhas, magias e novas experiências. Parece um sonho, certo? Mas não para Remus, porque ele sabia que era diferente. Ele sabia que o que ele tinha não era uma "habilidade" possuída por todos os bruxos. Sabia que poderia estudar todos aqueles anos e se tornar alguém importante e influente no final ou terminar a escola e virar um delinquente e entrar para alguma gangue ou passar o resto de seus dias catando lixo nas ruas de Londres. Não parece muito animador.
Os meses se passaram desde março de 1971 e logo eles estavam em setembro. Remus estava parado em frente a porta da sala de estar da pequena casinha onde morava com os pais, segurando um bilhete de trem.
1 DE SETEMBRO DE 1971
Expresso de Hogwarts, Estação Kings Cross, plataforma 9¾
Que estupidez. Qualquer ser humano que tivesse o mínimo de conhecimento intelectual sobre a vida saberia que não existe nenhuma plataforma 9¾ em Kings Cross. Ou aquilo era algum truque ou os donos dessa escola eram muito burros ou algo assim.
"Remus, venha se despedir de seu pai!" Lyall exclamou impaciente.
Remus revirou os olhos com tanta força que jurou que eles cairiam do rosto e rolariam pelo chão. Seu pai era sempre desagradável com ele. Assim, claro que ele o amava nos primeiros anos de sua vida, mas depois do "pequeno incidente" que aconteceu quando o garoto tinha cinco anos, Lyall apenas começou a ignorá-lo, para não dizer detestá-lo. Sua mãe sempre dizia que Lyall era um homem que não tinha noção das consequências de suas ações e sempre destruía a vida das pessoas por isso. Remus gostava de acreditar que Hope se referia exclusivamente ao problema dele, mas era inevitável pensar que sempre havia um toque de desabafo pessoal nessas palavras.
Depois de todos os cumprimentos, Remus voltou para a sala onde sua mãe e seu malão já o esperavam para levá-lo à estação. Havia um toque de excitação naquilo tudo: finalmente se ver livre de ter que aturar a grosseria do pai o ano inteiro.
Ele observou cada detalhe da paisagem quando estava dentro do carro com a mãe, enquanto ela falava pelos cotovelos, reclamando sobre alguma coisa e Remus não estava nem aí. Mesmo assim, ele respondia educadamente porque Hope o havia criado com educação e respeito aos mais velhos.
"Não sei o que se passa na cabeça do seu pai. Gastou nossas economias em um carro de segunda mão. Essa lata velha mal funciona direito. Acredita que na semana passada eu passei quinze minutos tentando ligar o motor!"
Remus só concordava, não disposto a gastar suas energias e responder de forma adequada.
Quando finalmente chegaram lá, ele sentia que nunca tinha ouvido alguém falar tanto quanto ela.
Remus olhou ao redor e correu pela estação, procurando pela tal 9¾, deixando Hope gritando e tentando segui-lo. Parou entre as plataformas nove e dez, parecendo confuso e se voltou para a mãe, ofegante atrás dele. Hope era jovem, mas sua família tinha histórico de problemas cardíacos. Além disso, não passava de uma trouxa, não tinha a magia ao seu lado para lhe ajudar.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma mulher alta surgiu atrás dele, agarrando seu ombro direito grosseiramente. Remus se virou, erguendo uma sobrancelha.
Walburga Black pigarreou, ladeada por dois meninos de peles claras e cabeleira escura. O mais alto deles tinha o cabelo mais longo, atingindo a nuca e usava vestes pretas pesadas, com o símbolo da escola. O mais baixo tinha o cabelo mais curto e usava uma camisa social branca e uma calça de alfaiataria na cor preta. Ambos pareciam que iam jantar com o ministro da magia.
"Hã, com licença" a voz ríspida de Walburga se dirigiu a ele. "Saia da frente, garoto. Meu filho precisa passar". E o empurrou para o lado.
Remus engoliu toda a sua raiva para não lançar um "desculpe madame, mas seu filho por acaso é o príncipe da Inglaterra?". Em vez disso, observou atencioso enquanto o garoto de cabelos mais longos parou em uma certa distância da pilastra e depois correu em direção a ela. Remus fechou os olhos, esperando a colisão do menino com a pedra, mas ela não aconteceu. No minuto seguinte, ele não estava mais lá. A mãe e o irmão mais novo o imitaram e logo tinham desaparecido também, como se nunca tivessem estado lá. Remus arregalou os olhos e decidiu segui-los. Se afastou um pouco da pilastra e depois correu como se não houvesse amanhã, empurrando o carrinho. Um segundo depois, quando Remus tornou a abrir os olhos, estava diante de um gigante trem. Expresso de Hogwarts, 5972, era o que estava escrito na frente da locomotiva.
***
"Adeus, Remus" despediu-se uma Hope com os olhos cheios de lágrimas.
"Tchau mãe, nos vemos no natal. Agora eu realmente preciso ir, esse trem está fazendo um som estranho" e correu.
Remus saiu tentando encontrar uma cabine vazia. Como não encontrou, sua nova meta era encontrar uma cabine que tivesse pessoas menos idiotas. Resolveu entrar na última cabine, no fim do corredor. Arrependeu-se imediatamente ao ver o filho de Walburga direcionar seus olhos azuis como gelo para ele. Bom, agora não restava opções senão entrar na maldita cabine e rezar para os meninos dentro dela não serem insuportáveis como a mulher.
Remus entrou e acenou para os meninos dentro dela, sorrindo educadamente. Todos eles sorriram de volta e o filho de Walburga imediatamente estendeu a mão para ele.
"Sou Sirius Black. Desculpe-me pela arrogância da minha mãe, ela age como se fôssemos os reis da Inglaterra. E você é?"
"Remus Lupin" respondeu, apertando a mão estendida de Sirius.
Os outros garotos se apressaram a cumprimentá-lo também. James Potter era o mais alto, cabelo rebelde e pele parda. Peter Pettigrew era o mais baixinho e rechonchudo. Todos muito amigáveis.
Quando enfim se sentou ao lado de James e exatamente em frente a Sirius, Remus parou para analisar o garoto mais atentamente. Observou a forma como ele parecia a vontade com seus novos amigos, como as vestes da escola serviam direitinho nele, como seus olhos azuis se iluminavam, acompanhando seu sorriso. Remus sentiu um frio na barriga. Encantador.
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encanto┃wolfstar
Fanfictionencanto 1. quem ou o que agrada, atrai, deslumbra por suas qualidades (p.ex., beleza, inteligência, simpatia). 2. forte atração sentida por tais boas qualidades de alguém ou de algo. 3. o efeito que Sirius Black tinha sobre Remus Lupin. Atenção: os...