Prólogo

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                        Maria Flor
 

 

As minhas mãos estavam trêmulas, era um peso enorme em cima daquela caneta. Eu sabia que àquelas palavras tinham que ser muito boas pois poderiam ser às últimas. Estava há um turbilhão de pensamentos negativos sobre a cabeça e escrevendo ferozmente no verso da nossa foto em família.

— Você me ouviu, querida? — o José me perguntou tocando no meu braço e me desconcentrando dos meus pensamentos.

— Estou concentrada na carta, amor, ela merece alguma coisa pelo menos. — olhei pra Agatha deitada e adormecida na cama.

Pensar que pode ser a última vez que veria ela, quebrava comigo em mil pedacinhos, mas não podíamos mais fugir do maldito do meu pai, ele era muito poderoso, muito mais doque eu e o José éramos. Eu não tenho medo de morrer, eu tenho medo de perder ela.

— Eu vou resolver isso sozinho, meu amor, eu vou matar aquele desgraçado e nunca mais teremos que ouvir dele de novo e ele nunca mais incomodará nossa família. — fiz Sh com o dedo na boca, chamando atenção para ele não acordar a Agatha.

— Cuidado pra ela não acorda.— respirei fundo buscando palavras pra descrever como meu pai era, por mais que ele já saiba. — A realidade é que você não tem chance alguma sozinho ou com o João, ele é meu pai eu o conheço muito bem, ele vai esfolar a pele de vocês dois sem dó e aí serei só eu pra proteger nos duas sozinha. — falei olhando minha bebê dormir. Estava angustiada, queria muito acreditar que a veria de novo. — Eu era a preferida dele, acho que ele até me amava. Mas o amor para pessoas ruins é uma fraqueza, na verdade não só para pessoas ruins, pra todos. — dei um tempo continuando. — O João tem que estar aqui pra tirar a Agatha do Brasil e levá-la para Espanha, já deixei a documentação pronta, se tudo der errado.

José me abraçou limpando minhas lágrimas.

— Fomos muito bem nesses 12 anos né. — sussurrou no meu ouvido. Ele é apaixonado pela nossa filha, o jeito que ele olha ela, mostra o significado do verdadeiro amor, e não aquilo que o doente do meu pai achava que sentia por mim. — Precisamos ir agora então, já está na hora. — José limpou as lágrimas do seu rosto, foram poucas as vezes que eu o vi chorar nesses doze anos de casados e de nascimento da nossa filha.

Dei uma última lida na carta, me desabando em lágrimas, tentando ser o mais silenciosa o possível pra não me quebrar mais aqui mesmo.

Minha filha Agatha,


Você é impressionante, é a criança mais incrível que uma mãe poderia pedir, você não é só incrível, é brilhante, é esperta, é inteligente, é durona com quem merece, é gentil, é justa, poderia ficar o dia inteiro escrevendo o quanto você é especial. Eu sei que você vai usar todas essas qualidades ao seu favor, se protegendo de todo o mal e seguindo um caminho do bem. E filha, você sempre me perguntava o meu pedido em todos os meus aniversários depois de soprar as velas, meu pedido todos os anos é que você sempre seja feliz. Eu e seu pai te amamos muitos, você é às nossas vidas.

                                                                                                                                                                                   Mamãe.

Deixei a foto junto com todos os documentos que ela precisasse para sair do país com o tio, limpei às lágrimas que insistiam em cair, me concentrando em ser forte, por minha família, dei um beijo nela olhando rapidamente em seu rostinho. O José fez o mesmo, ele estava acabado assim como eu, temíamos por nossas vidas. Meu pai sempre foi um homem muito imprevisível. Pedi que a Vera ficasse de olho nela por mim de noite ou até que eu voltasse. Se não dermos notícias em três dias isso significa que estamos muito ferrados, e o João virá buscá-la. Sai do trailer chorando e abraçando o José, carregávamos o mesmo sentimento, compartilhávamos da mesma dor.
                                   ⭐

O AssaltanteOnde histórias criam vida. Descubra agora