THE HABIT I CAN'T SEEM TO KICK

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Alguém está batendo na porta.

Harry já sabe quem é, por isso ele ignora, dando voltas ao redor da sala enquanto esfrega os dedos num tufo de cabelo da nuca — um hábito ruim de infância. O movimento ajuda-o a pensar com clareza. Mas neste momento, precisamente, Harry não tem clareza de nada, tudo não passava de uma grande névoa espessa de irritação.

As batidas cessam por ora, dando lugar ao celular vibrando furiosamente na mesinha de centro, parecendo desafiá-lo, o que não é de todo uma surpresa. Louis pode ser bastante insistente quando quer algo, então o rapaz simplesmente desiste de bancar o difícil e destranca a fechadura com ombros caídos e olheiras profundas abaixo dos olhos.

"Não se incomode em pedir desculpas, só — argh, entra logo", Harry avisa quando já está de costas. A coisa toda é patética e ele tenta, mesmo, não se odiar demais quando Louis fecha a porta atrás dele, limpa os pés nos sonhos de Harry e se atira no sofá, com o peito estufado, sorrindo feito um lobo faminto naquela jaqueta de couro que arranjou no brechó.

"Adorei a recepção. Cheia de suspense e tal", ele zomba e cruza as pernas. Mas muda a postura rapidamente à medida que percebe que o outro não compra a provocação nem senta-se ao lado dele. "Ok, eu não devia ter te largado sozinho na festa ontem. Fui um babaca."

"Esse não é o problema, Louis." Nunca era. Harry é capaz de sentir uma dor de cabeça vindo. Merda. Ele não tem nenhuma aspirina.

"Eu poderia ter avisado", Louis tenta de novo, mais brando agora. "Os caras da banda me chamaram."

"É, eu vi tudo."

"Espera. Tudo?"

"Tudo."

Ele não revela que permaneceu nos fundos, lambendo as feridas, supervisionando-o à distância cheio de pena de si mesmo. Louis sempre foi ruim para bebidas — só precisava ter certeza de que ele não faria alguma besteira que o fizesse se arrepender depois, o que naturalmente já é uma justificativa boa o suficiente (certo?).

Silêncio.

Harry busca pelos cigarros no bolso da calça surrada, ansiando algum alívio, mas não há nada lá além do isqueiro vermelho. E então ele quer realmente gritar quando Louis lhe estende o maço, que havia esgueirado para ele na noite passada, quase vazio. Deus, aquilo deveria durar por mais três dias.

"Wow — você tá puto de verdade."

Ele franze a testa, "O que?"

"Está fazendo a coisa com o cabelo desde que cheguei aqui."

Harry fica quieto e acende um cigarro. Ele quer argumentar, mas com Louis tudo se torna uma guerra perdida, embora ele reconheça ser complacente com o comportamento de merda do jovem. Ele já fez isso antes e fará outra vez, como um acidente de carro que ele consegue ver, mas é impossível de evitar.

Louis, em contrapartida, está preocupado. Ele apenas tem que consertar isso. Aos poucos, ele vai se aproximando com cautela, como quem chega perto de um animalzinho ferido, até que os joelhos de ambos estejam se encostando. Ele prende um sorriso orgulhoso quando Harry não protesta, só deita a cabeça em seu ombro, suspirando contente feito um gato quando é puxado para os braços de Louis e recebe um carinho lento nos cachos revoltos, "Você tá todo tenso, amor."

"Tão tenso..."

"Eu deveria te ajudar com isso, huh? O que você acha?"

"Sim, sim, deveria", responde Harry, manhoso e extremamente satisfeito com a atenção, cedendo fácil. No fundo, ele bem que gostaria de ter mantido a pose por mais algum tempo, mas ele é fraco (tão fraco) e possui zero de autopreservação e talvez, só talvez, ele vá chorar sobre isso agarrado ao travesseiro. A verdade é que nada importa quando Louis sugere que eles se deitem um pouco, assistam O Exterminador do Futuro pela enésima vez, com as cortinas fechadas e garrafas da pior cerveja que ele encontrar no mercado da esquina.

Mais tarde, com os créditos do terceiro filme rolando, um Louis bêbado e sonolento pousa os lábios contra os de Harry, como ele faz desde aquela tarde no sótão da casa dos pais dele, conduzindo o beijo, lento e afetuoso, com aquela preguiça característica de quem deseja prolongar um instante.

Os dois se encaram e Harry quer se jogar do terraço do prédio pois há tanta ânsia ardendo dentro dele que é como se ele fosse morrer ali mesmo, "Você beija todos os seus amigos assim?"

"Nah, só os fofos" Louis ri, piscando demorado, prestes a cair no sono. "Só você."

SUICIDET91: ONE-SHOTSOnde histórias criam vida. Descubra agora