Capítulo sete, sobre a menina do cabelo espetado

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Era quase tão irritante quanto o humano das letras faltando.

Ou não – porque essa seria uma proeza realmente difícil de conseguir.

Mas talvez ela chegasse bem perto.


Ela se chamava Lisa, como você deve se lembrar, e nos dias seguintes havia sido transformada em uma espécie de assunto absurdamente dispensável e desprezivelmente recorrente no dormitório do humano loiro bonitão.


Adivinhe quem estava lá também?

Exatamente.


E para minha total e completa alegria, era ele quem sempre começava com os resmungos monótonos e repetitivos.


-Mas por que ela fez aquilo, Henry? – esse era o mais novo mantra sagrado que o tal Ian havia decidido adotar como lema de vida.


Era uma espécie de obsessão.

Quase uma tortura compulsória.

Talvez além de irritante ele também fosse masoquista, afinal. Ou talvez esse também fosse só mais um consenso da espécie.

Desprezível.


-Ian, ela não fez nada demais. – o primo loiro repetia pela milésima vez, impaciente.

-Como não?! – o outro explodiu. Era incrível como eu parecia odiá-lo ainda mais quando ele ficava bravo daquele jeito. Os olhos sérios repuxados, as sobrancelhas incrivelmente moldadas cerradas, sulcando um vinco em sua testa. – Ela agarrou o Tony, caso você não tenha notado!

-E você estava agarrando a Ângela, então cale a boca, por favor.

O grandão parou pensativo.

-É diferente.


Não, não era diferente.

É incrível como os humanos adoram se separar do resto da espécie. Como se tudo o que é aplicável ao resto do mundo, não fosse válido para um deles.

Talvez seja uma forma que eles conseguiram de se sentirem especiais.

Lamentável.


-Eu nem queria estar com a Ângela naquela noite, em primeiro lugar.


Sábias palavras, as dele.

Pena que era tarde – como sempre é.


 Mas vamos voltar à protagonista desse capítulo.


Às vezes fico me perguntando se a agarração toda naquela noite teria sido a responsável pelo desfecho do humano que eu odiava. Às vezes fico me perguntando o que aconteceria se a menina Lisa não tivesse se engalfinhado com o moreno Tony na frente do Ian garanhão arrependido.


Mas são penas questionamentos.

Apenas suposições.

Apenas incertezas.


-Me diz o que eu faço, Henry.

O loiro revirou os olhos e cruzou os braços.


Um adendo:

Conselhos são exatamente o tipo de coisa que as pessoas pedem quando sabem a resposta, mas preferem fingir que não.


Não houve tempo de responder.

O celular dentro do bolso do loiro em questão começou a gritar uma musiquinha irritante e ele o puxou com um movimento rápido.


-Quem é? – o primo grandalhão quis saber.

Henry jogou o celular na direção dele, que o pegou com a mão esquerda sem dificuldade alguma – como se aquilo fosse alguma coisa muito difícil de fazer.

Eu me esgueirei pelo quarto, e precisei ficar na ponta dos pés para olhar por cima dos ombros largos e insanamente definidos do humano desprezível. Só precisei de um segundo para me afastar novamente, com um desejo repentino de arremessar o celular longe.


Lisa.


-Por que você jogou isso pra mim? – o moreno alto perguntou encolhendo os ombros. Sinceramente, eu realmente odiava a lerdeza dele.

-Atende. – o outro falou com calma.

-Atendo nada, ela ligou pra você. – finalmente uma ação remotamente parecida à sensatez. – Além disso, não quero falar com ela.


Com essa declaração, ele arremessou o celular de volta para as mãos do primo, que o atendeu com um sorriso de reprovação em resposta.

A conversa foi rápida.


 -O que ela queria?

-Dar uma idéia. – o humano Henry respondeu guardando o aparelhinho de volta no bolso. – E tenho a leve impressão de que você vai gostar.


 Uh-oh, talvez não.

O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora