Você ainda é inocente

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Lilian nunca correu tanto para chegar em casa. A mensagem de James ainda ecoava em sua mente. O que ela faria à noite? O que faria? Qual seria seu compromisso? Não se lembrava de nada para usar como desculpa. Aliás, ela queria ter uma desculpa para não o encontrar? Não saberia responder a esta pergunta.

Ela subiu as escadas que levavam ao quarto quase pulando, para chegar mais rápido no andar de cima. Trancou-se lá dentro e, com a cabeça entre as mãos, se obrigou a pensar no que queria, no que deveria fazer. Qual sua maior prioridade naquele momento? Certamente seria resolver as coisas com Mary. As duas eram amigas há algum tempo e haviam se aproximado tanto uma da outra que se tornaram inseparáveis.

Provavelmente, não existia ninguém no mundo que poderia entendê-la tão bem quanto Mary e ela sabia que tinha pisado na bola. Mas também estava muito confusa em relação a tudo o que havia acontecido e não sabia lidar com a situação. Mary envolvera seus sentimentos na história, e ela não sabia o que fazer.

Se falasse com Mary, ela seria obrigada a confrontar todas perguntas que fazia questão de jogar para o fundo de seu cérebro, sem responder. Ela não queria ter de lidar com nada daquilo. Preferia fingir que não havia acontecido a ter de pensar no que aquele beijo significara para ela própria.

Ainda assim, Mary era sua amiga. Não merecia aquele tratamento. Lilian sabia disso. Ela não poderia, jamais, colocar sua amizade acima do medo bobo de ter gostado daquele beijo.

Ela, então, tomou o banho mais rápido de sua vida e foi almoçar. Talvez por já ter passado de meio dia há uma boa meia hora quando ela chegou na cozinha, teve que almoçar sozinha. Benjamin já tinha voltado ao escritório ― essa semana ele teria que passar ainda mais tempo lá, ajeitando sua ida a Londres ― e Petúnia estava na casa dos colegas, ensaiando para o Desfile de Inverno de sua equipe.

Ao terminar de almoçar, Lilian apenas escovou os dentes, botou o celular no bolso do short e rumou em direção à casa de Mary.

Seu coração disparava, enquanto percorria o curto caminho que separava sua residência da dela. O que diria Mary quando a visse? Será que iria perguntar o que Lilian achara do beijo? Ela não queria ter que responder àquela pergunta. Respirou fundo, tudo daria certo. Tinha que dar.

Tocou a campainha e esperou alguém vir abrir a porta para ela. Tomou um susto, no entanto, quando quem apareceu não foi Mary, mas sua mãe.

― Oh, querida, ela acabou de sair para o ensaio do Desfile de Inverno.

Ai, caramba! O ensaio!

Lilian havia esquecido completamente do compromisso, e ela era quem estava organizando tudo. Como tinha sido tão irresponsável? A noite anterior ofuscara todas as suas outras preocupações, incluindo o Desfile de Inverno, que seria no fim de agosto ― o mês mais frio do ano, na cidadezinha em que ela morava.

A menina agradeceu à mãe de Mary pela informação e só passou em casa para pegar o celular e a mochila da escola, e seguiu, apressadamente, para casa de Alice. Esperava mesmo que não chegasse muito atrasada e que Frank conseguisse dar conta de tudo. Também maquinava um jeito de ter um tempinho a sós com Mary, para pedir desculpas e resolver a situação chata que ficara entre elas.

***

― Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? ― Marlene lançou um sorriso irônico para Lilian, ao abrir a parta da casa de Alice, e, em seguida, deu um grito, para que todos pudessem ouvir: ― Nossa amada líder chegou, galera!

Lilian entrou na casa um pouco encabulada por estar atrasada e perceber que todos estavam esperando por ela.

― Nossa, já estávamos ficando preocupados ― disse Alice, desvencilhando-se da tentativa de organizar o ensaio para abraçar a garota. A recepção de Frank não foi tão calorosa assim, ele apenas lançou um olhar feio de reprovação para a colega.

Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora