Capítulo 7 - Lian, o estrangeiro apaixonado

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Temos dois segundos. Aponto ela assim que a vejo. Todos parecem seguir meu dedo numa fração de segundo. O apresentador a está trazendo até nós.

Nosso tempo acaba.

— Prontinho, viu? Conseguiu um grupo a tempo. Te falei que íamos conseguir — Diz ele.

Meu grupo parece conseguir respirar outra vez.

— O quê?! Eu nunca pedi para... achei que ia me salvar, me tirar daqui!

— Eu te salvei de perder. — O apresentador dá dois tapinhas no ombro dela e a deixa conosco todo orgulhoso de si.

A garota começa a dar outro piti. Olha para o nosso grupo e resmunga palavras que nunca pensei que uma nobre diria. Começa a andar em círculos e reclamar sozinha das chances de todos morrermos. Ela não sossega. É um metro e meio de puro ódio. É a personificação do pessimismo. Ela é... incrível.

Toda a dor dos cortes parece sumir, acho que começo a sorrir... e então não vejo mais nada.

***

Ouço vozes, mas não consigo entendê-las direito. Tento abrir os olhos, a claridade atrapalha o processo.

— Se ele morrer, vamos todos ser eliminados? — Um garoto de cabelos castanhos claros pergunta.

— Eu não sei. — A menina ao seu lado responde.

— Ele acordou. — O burguês bravo de braços cruzados encostado na parede à minha frente resmunga.

Eu me sento devagar.

— Cê tá bem, cara? — O primeiro garoto pergunta.

Concordo com a cabeça. Não tento responder em sua língua, pois sei que nada importa, posso nem mesmo ter sotaque, eles vão olhar para mim e me julgar por não ser daqui. Ignoro esse fato e olho ao redor, parece que estou num pequeno chalé de madeira. Também reparo nos meus cortes recentes, foram todos limpados e cobertos por panos. Pelo visto eu desmaiei, aqueles desgraçados me cortaram com lâminas banhadas em veneno, isso explica o meu desmaio. O que eu queria explicar é como eles tiveram tempo da arranjar armas.

— Eles nos mandaram pra cá, temos que esperar um mês até a próxima prova. — O garoto diz ao notar minha confusão. — Podemos treinar pra ela, o único problema é que não nos disseram sobre o que será. Só deixaram uma dica, uma charada que já até esqueci.

— Para de perder tempo, ele não entende o que você está falando. — O burguês murmura.

Fecho a cara. É por causa de pessoas assim que esse mundo não vai para frente.

— Talvez ele não saiba direito a nossa língua. Só que parece entender o que falamos. — A garota de cabelos volumosos rebate.

— Como sabe disso?

— Ele parece ter percebido que você é um idiota. — O filho do príncipe diz, descendo as escadas.

Seguro um sorriso enquanto o burguês começa a ter um ataque de raiva.

— Não é bem assim. — Uma garota com roupas selvagens que nem sabia que estava ali murmura ao lado do irmão. Todos se calam. — Qualquer um que olha pra cara dele percebe isso.

Os ataques de raiva do garoto voltam e me pergunto se antes mesmo de eu acordar ele já falou alguma besteira de burguês de classe alta. Algo como ele achar merecer títulos e essas coisas inúteis. Eu também quero ir longe aqui, mas não pelos títulos.

Do nada um ataque de raiva muito maior eclode acima das escadas. Não demoro nem meio segundo para perceber quem está surtando, não demoro um milésimo de segundo para correr em sua direção.

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