Pesadelo

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_Yor-San? _ a voz de Loid me fez parar de súbito, mas talvez eu devesse ter corrido, fugindo de suas perguntas. Me viro e dou de cara com meu falso marido que me olha confuso. _ o que faz aqui?

_ eu estou..._ o que uma mulher como eu estaria fazendo ali? A outra eu, não a assassina que saia sorrateiramente da cena do crime. O que uma garota normal faria em um antro de perdição como esse?_ me desculpe Loid-san_ digo me curvando _ mas uma mulher precisa de certas... coisas.

Os olhos dele não escondem o espanto por me encontrar ali, nem pela roupa que eu estou usando, nada muito vulgar, mas definitivamente insinuante, afinal, o foco do lugar são os rapazes, as mulheres são apenas clientes, junto de vários homens.

_mas o que você está fazendo aqui? _ não achava que ele fosse o tipo de cliente deste lugar, mas alguns homens escondiam muito bem seus desejos por outros homens, era para isso que casas como esta existiam.

_ o dono é meu cliente, e me chamou aqui hoje._ muito vago, mas seu trabalho não permite muitos detalhes.

Ele segura meu braço e me puxa para fora, mas não fala mais nada, nem quando caminhamos pela rua apinhada, nem na viagem de carro até nossa casa. Ele nem olha para mim, e tudo o que consigo pensar é que nossa família de mentira chegou ao fim, por um deslize meu, mas, era melhor que pensasse em mim como uma pervertida do que deixá-lo descobrir a verdade sobre aquela visita.

Loid estaciona o carro na rua, em frente a nossa casa, e o sigo em silêncio para dentro.

_ precisamos conversar, mas tome um banho antes._ ele vai para o quarto, fechando a porta ao passar, e faço o mesmo. Realmente precisava de um banho para tirar o cheiro daquela lugar, cheiro de cigarro, perfume barato e sexo.

Sai do quarto meia hora depois, não queria parecer que o evitava.

_ você não pode frequentar esse tipo de lugar._ falou assim que cheguei a sala _ Sei que não somos um casal de verdade, mas, se você for vista em uma casa como aquela, todo nosso esforço terá sido em vão.

_ me desculpe Loid-san, não vai acontecer novamente, na verdade, nada aconteceu lá._ Ele pareceu se tranquilizar e sorriu para mim, mas o sorriso não chegou aos olhos.

_ sei que nosso arranjo acabou me favorecendo mais do que a você, e me sinto culpado por ignorar suas necessidades._ discretamente observei o loiro, o terno se moldava perfeitamente ao seu corpo, as mãos repousavam juntas entre os joelhos.

_ não se preocupe, não farei nada que possa prejudicar a imagem dessa família, se... você ainda quiser continuar com nosso arranjo._ cruzei as mãos em frente ao corpo, em um gesto de resignação.

_ talvez esteja na hora de mudar um pouco o arranjo, para que você não precise procurar por companhia fora dessa casa..._ Ele não olhou para mim ao propor aquilo, mas mesmo que por conveniência sua oferta era tentadora.

_ não precisamos chegar a esse extremo._ sorri sem graça, e o sentimento realmente era sincero. Me levanto e volto para meu quarto, antes que ele diga outra coisa sobre aquele absurdo.

Me jogo em minha cama, abraçando o travesseiro. Não consegui ignorar a oferta dele, com certeza teria outro sonho nada puritano esta noite, fazia meses que eu não procurava companhia, e simplesmente pensar naquela possibilidade era uma tortura, mas aquilo podia arruinar toda nossa convivência.

Um deslize e tinha colocado tudo a perder. Porque ele estava justamente naquele lugar, naquela hora? A casa de prazeres ficava a mais de uma hora dali, deveria ser longe o suficiente para não apresentar risco, mas eu realmente não pensei na possibilidade de encontrar algum dos pais, muito menos meu suposto marido. Talvez fosse hora de melhorar os disfarces, pois tinha uma vida de verdade agora para proteger, mesmo que fosse uma vida falsa.

DeslizeOnde histórias criam vida. Descubra agora