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Era o capataz com o coração mais horrível que já vi. Sempre andava com sua espingarda e chicote nas mãos.
Observei que nunca deu um sorriso para ninguém. Sempre maltratava os escravos como se fossem porcos.
Mamãe ficou encarou o carrancudo, com seu instinto de mãe protetora
– O que quer aqui? – Ela cruzou os braços.
– Não interessa sua imunda, saia da minha frente – tentou andar em minha direção, mas foi impedido pela mamãe.
– Você não vai relar um dedo em minhas filhas!
– E quem disse que são suas filhas? É propriedades do meu Senhor! Ele faz o que bem entende com cada um aqui. Agora saia da minha frente! – Respondeu com muita fúria
– Não entregarei nenhuma delas até você me falar o que veio fazer aqui.
– Como eu disse, não é da sua conta. Saia ou terei que tomar medidas drásticas – Falou de forma arrogante.
– NÃO VOU! – Gritou rudemente.
Ele tirou a espingarda da sua cintura, batendo nela e machucando seu rosto. Malaika me abraçou mais forte, como se pudesse proteger de todo o perigo.
Ele foi se aproximando da nossa casa.
– Hora de ir embora, Niara – Seu sorriso era cheio de maldade.
– Ela não vai – Minha irmã respondeu com os olhos fixos nele.
– Mas é claro que ela vai – Sem paciência, apertou meu braço, deixando-me de pé.
Malaika tentou pegar novamente um dos meus braços. Não funcionou. Ele tinha muito mais força que ela.
Fui arrastada com brutalidade. Eu me debati, balançando o corpo todo com todas as minhas forças.
Tive uma ideia na hora do desespero. Mordi o braço dele com tanta força, que urrar de dor.
Aproveitei a oportunidade e corri para minha mãe, que estava com o olho sangrando. Ajudei a levantar.
Ela me abraçou em frente ao corpo. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. Meu corpo tremia tanto, que nem o abraço da minha mãe acalmava o desespero que estava.
Mas a alegria dura pouco.
Ele se recompôs, vindo cheio de furor e ajeitando sua espingarda
– Já perdi toda minha paciência com vocês! – Mamãe tentou não deixar ele me pegar novamente, mas foi uma tentativa falha.
Me pegou, jogando meu corpo sobre os seus ombros. Comecei a gritar desesperadamente por socorro.
Avistei ela e Malaika se ajoelharem juntas para chorarem.
– Cale a boca sua garotinha irritante. Se você não fechar a boca, vou matar toda sua família.
Calei-me na hora. Mais lágrimas vinham com força e era impossível evitar.
Como será a reação do meu pai e de Kito quando souberem que estou indo embora contra minha vontade para um lugar desconhecido?
Chegamos em frente à casa do Senhor. O capataz me jogou em frente ao Sr.Monroe, junto com um outro Senhor desconhecido.
– Aqui está Sr.Monroe.
– Perfeito! Agora pode ir cuidar dos meus outros escravos – Disse ao capataz. Pegou no meu braço com muita violência – Aqui está seu presente, James – Me entregou a ele.
E naquele momento, senti na pele como é ser propriedade dos outros.
– Obrigado, meu querido amigo. Vai ser muito útil para minha casa!
– Com certeza – Sorriu com a fala de seu companheiro.
– Tenha um bom dia, Sr.Monroe! – Acenou se afastando, indo até a carroça segurando meu braço com firmeza para não conseguir escapar.
– Até breve, James – acenou a ele.
Meu novo senhor me colocou sobre a carroça com cuidado. Olhava somente para baixo, pois mamãe dizia que não podíamos olhar aos nossos senhores profundamente. Somente quando eles falavam parar levantar a cabeça.
– Saiba que nunca vou te machucar. Você vai ser bem tratada em minha casa – Sorriu com os lábios. Pareciam ser sinceros. Assenti com a cabeça, mas algo falava no fundo do meu coração que suas palavras não eram verdadeiras.
– Vai demorar três dias para chegar na fazenda. Será uma viagem tranquila – falou, subindo na carroça, segurando as rédeas.
Concordei balançando a cabeça e abaixando segundos depois, chorando silenciosamente.
Minutos antes, reparei na sua aparência. Ele era um homem alto, com os olhos idênticos aos meus, azuis igual a cor do céu.
A barba dele era bem engraçada. Me segurei para não rir da cara dele. os cabelos eram bem claros como o mel.
Começamos a ir em direção ao meu novo destino. Quando começou a andar, olhei reto vendo mamãe tentando correr para alcançar a carroça, com Malaika, Kito e papai.
Ele a impediu, porque era desnecessário correr. Foi consolada por eles.
– Filha! – Papai gritou – Seja forte, arco-íris. Um dia vamos nos reencontrar. Use tudo o que te ensinei! Eu te amo.
– Te amo mais, Papai! – Falei com a voz embargada.
Sr.James olhou para trás com o olhar frio, voltando novamente para o que estava fazendo.
Todos sumiram da minha vista.
Nunca mais os verei.
Comecei uma jornada sozinha.
Sem as pessoas que eu amo.
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Liberdade Esperada
SpiritualNo século XVII, os africanos enfrentavam a escravidão nos Estados Unidos, sendo forçados a fazer trabalho de mão-de-obra nas fazendas. Em Tennessee, a família de Niara era escravizada na fazenda de Sr. Monroe. Mesmo com todas as dificuldades, sempr...