Missão

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_ Mas, como você veio parar aqui? É... sei lá... uma coisa tecnológica? Espiritual? - quis saber Michael, ainda me olhando sem entender.

Eu não tinha muito para explicar... na verdade, o que eu tinha era algo tão íntimo, que não sabia se eu queria entrar nisso.

_ Olha... acho que tem mais a ver com espiritual, mas eu sei que eu não morri, então não tem nada a ver com espírito, e nem alma penada... mas acho que precisamos ser mais diretos, porque, não me entenda mal, mas, eu tenho que voltar. - disse, tentando ser o mais gentil possível.

Eu estava sentada na cama ao lado de Michael e de repente ele me olhou com grande curiosidade.

_ Você tem alguém esperando você? Você é casada? - perguntou, na lata.
Eu precisei rir... acho que ele ia ficar bem decepcionado.

_ Michael... não é sobre mim! - eu disse, contrariando o que o mensageiro havia me dito.
Ele ainda tinha um sorriso tímido no rosto e eu percebia que buscava o tempo todo olhar nos meus olhos. E eu, como boa autista que era, tentava evitar.

_ Ok, tudo bem. Mas olha para mim e só me fala quem é você. Já sei seu nome, me diz, sei lá, o que você faz, com quem mora... - insistiu, segurando minha mão.

Eu nunca imaginava que ele gostava de ficar perto das pessoas assim... isso já estava me incomodando.

Me esforcei para não afastar-me. Não queria ser rude.

_ Ok... eu moro em São Paulo, no Brasil. Sou professora. Lá eu tenho uma filha, de quatro anos, um marido, e tenho, 38 anos. É isso. - disse.

Michael piscou algumas vezes.

_ Uau! Você é mais velha que eu?! - disse espantado.

_ Lá! Lá em 2022...

Aí ele parou de rir.

_ Meu Deus... 2022... eu vou ter....- e começou a fazer as contas mentalmente, erguendo os olhos e como quem conta mentalmente.

Eu precisava interromper esse cálculo. Era a hora de falar sério.

_Você não terá idade nenhuma em 2022, Michael. Não se as coisas não mudarem agora.

Os olhos dele, que até então brilhavam de curiosidade, se apagaram. Ele era o retrato da decepção estampado na minha frente.

_ Eu vou morrer em 2022? - perguntou.

Eu me levantei. Senti que ia começar a chorar. Como a gente conta sobre a morte de alguém com a pessoa ali, em vida, saudável, te olhando?
Era isso que eu ia fazer.

_ Se as coisas não mudarem... daqui 4 anos, você vai começar a morrer em vida Michael, e não tem nada a ver com a saúde. Tem a ver com quem você deixa entrar na sua vida, tem a ver com as pessoas que você vai deixar entrar em Neverland. - eu disse, caminhando pelo quarto e já sentindo minha voz subindo de tom, impulsionada pela dor das lembranças. Porém, a menção do nome "Neverland" chamou a atenção de Michael. Em 88 ele ainda estava adquirindo o rancho... acho que nem a família toda sabia direito.

_ Neverland? Você disse, Neverland? O rancho que...

_ Sim... - interrompi - o rancho que você comprou, ou está comprando... uma família... um homem vai te acusar de um crime horrível, isso vai acabar com você. - eu não conseguia falar... pode parecer ridículo, mas era algo tão absurdo, tão distante de Michael que parecia que a palavra simplesmente não saía da boca!
Michael me olhava... ele queria mais detalhes.

_ Lucy... me conta direito... por favor... - Michael me pedia.

Eu não sabia exatamente quando ele tinha conhecido o garoto... então decidi arriscar.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora