𝖢 𝖠 𝖯 Í 𝖳 𝖴 𝖫 𝖮 6
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𝖴𝗆 𝗍𝖾𝗆𝗉𝗈 𝖼𝗈𝗆 𝗏𝗈𝖼𝖾̂ ²[...]
Minha visão estava embaçada, o bastante para pensar que precisava usar óculos; espremi os olhos ainda marejados e senti uma última lágrima escorrer, passei a língua pelos lábios que já estavam ressecados e machucados pelas mordidas nervosas. Meu olhar investigou cada canto do cômodo, o quarto estava uma bagunça, um abajur estara caído no chão e me lembrei de tê-lo arremessado com força contra a parede, o que fez minha tia bater à porta, preocupada.
Olhei em direção ao espelho e deparei-me sentada sobre o carpete, com os joelhos na altura do rosto, com os braços entrelaçados nas pernas. Minhas narinas começaram a arder, como se a vontade de espirrar viesse, desaparecendo em seguida, e em seu lugar um soluço rápido se fizesse presente.
Me perguntei em quê horas seria, por quantas horas havia chorado mas o céu escuro denunciava que não passara das 5:00 horas da manhã. Lentamente, me apoiei na cama, assim ficando de pé novamente depois de horas parada na mesma posição. Depois de um longo suspiro, caminhei pelo quarto até a porta, o fechando com cuidado depois de sair, pensei em minha tia e em Dustin, que a essa hora já estavam dormindo.
Pude ver, ainda no andar de cima, a escuridão que se alastrava na sala de estar e pensei nas probalidades de alguém me puxar para o escuro antes de passar a mão pelo corrimão e descer a escada caracol. Mamãe com certeza me assustaria agora, pularia da escuridão e me abraçaria enquanto gritava "buuu", apertei os olhos e resmunguei por eles se encherem de água outra vez.
ー Pare de chorar...pare de chorar...
Já estava na cozinha, abrindo a geladeira e puxando um prato de comida que estava embalado em um saco plástico transparente, me lembrei de não ter jantado e por isso podia jurar querer devorar com o plástico e tudo.
ー Problemas pra dormir?
A voz rouca se fez presente na cozinha, seus olhos estavam caídos e pareciam cansados, Eddie usava roupas maiores que ele, o suéter gigantesco cobria seus braços por inteiro e esboçei um minúsculo sorriso, o garoto passou as mãos pelo cabelo e olhou para o prato em minhas mãos.
ー Está com fome? - começou ele. ー Eu pedi a sua tia para que guardasse, caso sentisse fome de madrugada...e foi o que aconteceu.
ー Não aparenta está tão tarde assim... - digo baixinho, retirando o saco e o jogando no lixo.
ー São 4:00 da manhã.
ー Está me esperando desde então?... - perguntei, contraindo os lábios e me arrependendo da insinuação.
Ele não respondeu, apenas colocou as mãos no bolso do conjunto bobo do suéter que parecia mais um pijama de velho. Começou a falar novamente quando peguei uma colher e aproximei a comida à boca.
ー Não quer esquentar primeiro? - ele se aproximou, com um olhar carinhoso. ー Comida fria dá dor no estômago. - disse, se lembrando das vezes que passou mal por comer macarrão cru.
Munson caminhou até o micro-ondas com o prato nas mãos, pisando muitas vezes em sua própria calça, que assim como a parte de cima, cobria seus pés por completo.
O silêncio tomou conta por uns segundos, quando Eddie se virou e se apoiou na bancada atrás do eletrônico. Pareceu pensar em algo, antes de separar os lábios.
ー Então...como você tá? - começou a encarar meu rosto, o que me deixou levemente tensa. O prato começou a girar dentro do micro-ondas.
ー A minha mãe acabou de morrer, então... - tentei aliviar a tensão soltando uma risadinha, o que piorou. Eddie arregalou os olhos e arrumou a postura em nervosismo.
ー Esqueça isso. - pousei as mãos nos bolsos do moletom, começando a encarar as gotas de água que escorriam pela janela. O silêncio se apoderou novamente e meu coração apertou, sempre odiei o silêncio, ele me fazia lembrar de momentos que eu queria que desaparecessem para sempre.
Lembrei-me do sorriso dela, o som de sua risada exagerada, seu cabelo maluco e desengonçado que ela imitara de uma revista de moda. O som abafado da chuva me fez lembrar do dia em quê brincamos nela, o dia em quê havia pego um resfriado, o dia em quê passamos juntas assistindo filmes.
Meu olhos se encheram novamente e as lágrimas despencaram como um rio, tampei-os com a manga do moletom, que se molharam por tentar impedi-las de cair. Minha cabeça latejava, o nariz começou a suar e os pés começaram a pesar. Apertei os olhos com força quando braços fortes se entrelaçaram em minhas costas e uma cabeça repousou em meu ombro, seu cabelo fez cócegas em minha bochecha e me encolhi, sentindo-me segura mais uma vez.
ー Eu sinto muito, eu não consigo parar de pensar nela...! - supliquei entre soluços, virando-me e segurando em sua roupa com força.
Eddie levou sua mão até os cabelos da garota, onde os acariciou em um ato de consolo. Aproximou seu rosto e transferiu um pequeno beijo silencioso em sua cabeça e se lembrou de sempre receber beijos na infância, sempre que estava triste.
Eles se separaram quando finalmente perceberam que o alarme do micro-ondas apitava sem parar, e que o prato havia se espatifado com a temperatura.
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𝐋𝐄𝐓 𝐌𝐄 𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐘𝐎𝐔𝐑 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓 - 𝙀𝙙𝙙𝙞𝙚 𝙈𝙪𝙣𝙨𝙤𝙣
Hayran KurguTudo muda quando, Emily, prima de Dustin, vêm a cidade de Hawkins a fim de passar suas férias com o primo. Ao passar dos dias, a garota percebe cada vez mais que a pequena cidade não passa de apenas uma cidade pequena e tranquila, e sim de uma peque...