devilish

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o ponteiro enferrujado do relógio se move no mesmo instante em que ouço o bate e volta do sino da igreja.
sinto as entranhas se corroerem num instante enquanto a carcaça desguarnecida jorra e manifesta a vermelhidão de sua alma sob os corpos dançantes.

é uma festa que prende a mente e envolve os globos, sem formalismo algum para que possa terminar. concedida uma vez ao ano, quando as almas ateadas ao inferno chega a beirar a libertina, fantasiando e sussurrando  entre o ludíbrio e a realidade. este é o dia em que o gato preto sai mascarado pelas ruas, com as garras finalmente afiadas, sedento pelo jantar. é hora da caça.

dizem-te a vida toda que o amor integra boa parte da vida e que deves matar por ele. finalmente o sinto, no exato momento em que tua boca busca cegamente pela minha, e unicamente nele. quando seus lábios se comprimem e começam a reclamar, tenho a certeza de que não há nada de bom em você além do que posso palpar.

eu estava errada, o amor não é realmente um sentimento bom; é apenas uma ilusão momentânea que te faz delirar, embebedando-te o suficiente para atirar-lhe ao fundo do poço.
terei que o eliminar.

mas não quero ter de tomar suco de frutas vermelhas gelado pela manhã.  coisas geladas não vão bem para uma pessoa tão abrasadora como eu. sabe bem que mereço mais que isso.

a conta de luz está cara e meu pai assevera de que devo diminuir essa  obsessão repulsa por carne, estou comendo demais.

penso em algo que refresque a mente, mas não ao ponto de deixá-la estupidamente oxigenada. mentes oxigenadas tendem a pensar conscientemente e é o que menos quero.
respiro fundo, tiro um pulmão do tupperware.

vou deixá-lo fora da geladeira, apodrecendo, enquanto provo do prato principal. engraçado, não sei porque ele se parece tanto seu coração.

𝄖 devilish time ✧ red velvet Onde histórias criam vida. Descubra agora