𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒

『Mas eu não disse nada』

Nicole Davis;
2 de janeiro, sexta-feira.

A noite havia sido agradável, a companhia durante toda ela contribuiu muito para que fosse. Ao fim de tudo, acabei adormecendo durante a madrugada com Ayla presa em meu abraço. Com tudo o que aconteceu, não havia como esperar um encerramento melhor para aquele início de noite.

Todo o dia havia corrido como sempre, nada fora do seu comum do que era esperado dentro dos planos de todos os anos de mamãe. E mais uma vez voltamos a adormecer sobre a mesma cama, com a mesma troca de carinho, com a mesma pretensão das vezes já passadas. Era aquilo o que eu queria por mais tempo do que conseguia descrever, talvez fosse para sempre, não sabia o que dizer para definir.

Quando voltei a abrir os olhos em mais aquela nova data no calendário do novo ano, inconscientemente a trouxe para ainda mais perto do meu corpo, apenas para sentir a claridade que invadia a minha janela nos acordar imediatamente.

Devia ser quase meio dia, mas não possuímos nada para fazer durante todo o dia corrido, não haviam motivos o suficiente para nos tirar do quarto, tão pouco da confortável cama. No entanto, mamãe não devia a mesma perspectiva que a gente, muito menos sabia o significado de privacidade. Não nos respeitava como duas pessoas adultas e donas dos nossos próprios narizes. Em seus olhos e saberes, ainda éramos duas crianças presas debaixo de suas asas.

— Mamãe, o que a sra está fazendo aqui? Ainda não havia me decidido se queria acordar hoje – sentindo Ayla se afastar junto do cobertor que acobertava os seus olhos, também cobri os meus com o travesseiro que sobrava entre a gente.

— Eu não quero saber, saíam já dessa cama e vão se aproveitar das vitaminas oferecidas pela luz solar. Não quero saber de ver as minhas filhas doentes por pura preguiça – tomando entre os seus braços tudo o que podia nos servir de auxílio contra os raios ultravioleta que iluminavam todo o quarto, ela disse firme enquanto nos mirava com cara de poucos amigos. Ela não estava brincando, na verdade, estava começando a se irritar.

— Eu já estou indo – deixando um beijo na bochecha de mamãe antes de abandonar o meu "barco", ela disse trazendo à tona um dos sorrisos mais brilhantes de dona Larissa.

Entendendo que havia perdido a batalha antes mesmo de a começar por ter sido deixada a própria sorte, neguei a velocidade em que sua presença deixou de ser sentida naquele espaço e deixei a cama para ajudar Mamãe com todos os cobertores que ela tomou das nossas mãos para impor todo o seu poder sobre a gente. Não achava ser algo muito justo, mas não havia nada que pudesse ser feito a respeito diante todo um conjunto de situações. Dra Alícia estaria sempre do lado vencedor, ela não era louca de ir contra a esposa.

— Vocês estão mais unidas do que jamais estiveram no passado, algo positivo que não passou pela minha mente com tanta firmeza – se sentando ao meu lado quando me deixei desabar sobre a cama mais uma vez, ela me confessou – A verdade é que estavámos esperando uma difícil adaptação devido aos longos anos de separação, sua mãe e eu pensamos isso. Mas não sei como expressar tamanha satisfação por vê-las tão próximas, tão amigas uma da outra. O clima dos primeiros dias se dissipou tão rápido quanto surgiu, e não podia estar mais satisfeita com tudo isso – sorriu apertando minhas bochechas – Minhas crianças juntas depois de tantos anos, como queria ter vivido isso antes.

— Talvez esse seja só o começo, talvez o tempo longe tenha nos trazido mais experiências e por isso uma ligação tão forte tenha se estabelecido – com um sorriso sincero para o que foi dito, abracei apertado o duplo sentido posto apenas para mim. Esse jogo de tabuleiro começava a ficar cada vez mais perigoso, podia sentir.

— Talvez você esteja certa, mas agora vai fazer o que eu falei, saía já desse quarto – praticamente me enxotando para fora, ela logo trancou a porta do quarto atrás da gente, nem mesmo me deixou cuidar da aparência amarrotada que dominava o meu ser.