𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟏𝟎

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Ele era bom com as mãos, sabia quais pontos massagear para me relaxar totalmente. Depois de massagear meus pés, ele resolveu massagear meus ombros, apertava delicadamente e com efeito. Eu me segurava para não arfar com o toque.

- Que tal fazermos um jogo? - Questionou no pé de meu ouvido, fazendo com que um arrepio corresse pelo meu corpo.

- Qual? - Sussurrei.

- Eu te faço uma pergunta e você a responde, depois me faz uma pergunta. - Ele parecia gostar disso.

Parecia gostar de tocar partes do meu corpo, mesmo que fosse superficialmente. Parecia gostar daquele momento. De ficar em meus pés e atrás de mim. De poder me ouvir falar e apenas estar ali.

- Tudo bem. - Aceitei a proposta da brincadeira com consciência de que poderia ser um erro.

- Eu começo. Posso beber mais um pouco do vinho? - Eu não consegui segurar o riso com a pergunta besta. Em resposta, apenas alcancei a garrafa e despejei o liquido na taça, ao entrega-la para a maldição, ele se sentou novamente em meus pés.

- Obrigado. Você é boa com isso. - Elogiou antes de beber um rápido gole da bebida.

- Ainda tenho que melhorar. Mas, agora é minha vez. Por quê você quer se aproximar de mim? - Questionei e cruzei minhas pernas.

Ele ficou em silêncio e olhou para a taça em mãos. O rosado abria e fechava a boca, como se decidisse o que responder, ponderando cada palavra.

- Eu... Apenas quis. Você parecia interessante. É tão bela, é inteligente e forte. É astuta, determinada e não demonstra medo. Tu és tão... perfeita que eu quis me aproximar. - Ele não me olhou nos olhos enquanto respondia. Parecia perdido em outro mundo, em um tempo que não era esse. Mas logo questionou: - Qual é a sua comida favorita?

- Carne de porco. - Respondi sem pensar duas vezes. Minha boca salivou apenas de imaginar as fatias de carne em minha frente.

- A mesma de sempre. - O escutei murmurar.

- "A mesma de sempre"? Você diz as coisas e age como se já tivesse me conhecido, por quê? Tem coisas que você fala que não fazem sentido e que não tem nexo algum. Você me diz para lembrar de algo que nunca aconteceu, diz que sou sua deusa e que tínhamos algo. Por quê?

Ele ficou quieto novamente. Dessa vez ele me olhou nos olhos, mas olhava além de mim. Ele deu um pequeno sorriso e franziu a testa, coçou a nuca e bebeu o resto do vinho.

- Mude a pergunta.

- Eu não vou mudar a pergunta.

- E eu não vou responder essa pergunta. Não agora. - Ele deixou a taça mesa de centro, esfregou o rosto e bagunçou ainda mais o cabelo, um olhar inexpressivo tomou conta de seus olhos vermelhos e suas unhas arranharam a própria pele. - Não é coisa para agora.

- Por quê?!

- Porque você não entenderia! - Esbravejou. Nesse curto período que eu o conheço, em nenhum momento ele gritou comigo e me olhou tão triste como agora. Como se a resposta para aquela pergunta doesse.

- Passo a vez. - Resmunguei e terminei minha taça.

Ele ficou quieto, finalmente olhou para meu quarto, analisou a cama de viúva e as prateleiras repletas de livros.

- Qual seu livro favorito?

- Ele não tem nome. É um livro que não diz o nome na capa, nem nas folhas ou nos registros. - Respondi e enchi nossas taças, finalizando a garrafa.

- Sobre o que ele fala? - O rosado me olhou, interessado na minha resposta.

- Era a minha vez de perguntar.

- Pergunte, mas a minha próxima pergunta vai ser a mesma.

- Todos os registros do mundos dizem que, na era de ouro, por um motivo oculto, você ficou quieto, sem causar um tumulto ou morte. Ninguém sabe o motivo além de você e as almas daqueles que viveram naquela era, mas eu quero ser a única além de você nessa era a saber o motivo. Então eu te pergunto, Sukuna, rei das maldições, por qual motivo você não deu nenhum sinal de vida e depois quase acabou com todos os humanos no mundo? - Ele sorriu e bebeu a última taça de vinho que eu podia lhe servir.

- Eu tinha conhecido algo novo, que não posso experimentar de novo tão cedo. - Respondeu simplista e aumentou ainda mais minha curiosidade. - Minha vez, sobre o que fala seu livro favorito?

- Sobre um amor incoerente entre uma humana e a Morte. A Morte não conseguia matar a humana porque a amava e a humana amava a vida tanto quanto amava a Morte. É uma bela história, eu sempre fico triste quando...

- Ela morre no final e a Morte deixa seu cargo com um anjo para poder procurar a sua alma. - Afirmou.

- Como você sabe?! - Me surpreendi com a resposta, era um fato triste da história, um que não deveria ter acontecido e que, mesmo relendo, uma lágrima cai toda vez.

- Alguém leu para mim uma vez. E esse livro tem um nome sim.

- Qual?

- "Eterno".

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Minha amada deusa sempre teve diversos livros e os amava, lia um por um e me contava todos os detalhes. Mas ela tinha o favorito dela, o "Eterno", um livro que tinha ganhado quando criança e que lia sempre que estava entediada. Mês passado eu a peguei chorando por causa do final, mesmo que ela já soubesse como tudo terminaria.

Dessa vez ela o está lendo para mim, tão empolgada pois eu finalmente iria saber da história. Começamos a lê-lo no meio da manhã, logo após o café da manhã, agora estamos no fim da tarde, o sol já está quase se pondo e a mais nova tenta segurar as lágrimas com as últimas páginas.

- Você quer continuar?

- Sim! Eu estou quase terminando. - Disse ao enxugar as lágrimas e voltar a leitura.

Eu me perguntava se a nossa pequena filha seria tão louca por livros e choraria com os finais tristes assim como a mãe. Seria difícil aguentar as duas chorando por causa do livro, as mudanças de humor e, até mesmo, os nós nos cabelos.

Quando a garota enfim fechou o livro, eu a segurei em meus braços e a acalmei. Ela chorava baixinho com o final trágico de belas palavras e sentimentos que você podia dizer que eram reais.

My queenOnde histórias criam vida. Descubra agora