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Era pra ser um dia especial para mim, Foi tudo tão rápido, em um segundo eu estava feliz, me divertindo, criando memórias, as melhores memórias de toda a minha vida, durante todos os meus 24 anos de vida.

No outro? Eu estava lá, caída, machucada, desamparada, mas viva.

viva?

Será que eu estou sonhando?

Olho pro corpo, caído na rua, sinto minha garganta seca, não consigo compreender o que está havendo?

Olho minhas mãos, começo a me desesperar, tem algo errado. Muito, muito errado! Minhas mãos são as minhas mas estão diferentes, estão translúcidas, reluzindo, parece ter um brilho de luar em mim.
Fecho os olhos e conto até dez, pausadamente.

Um.

Não pode ser, deve ser alguma pegadinha de mal gosto.

Dois.

Olho a cena novamente, Peter, está gritando algo para alguém, não consigo entender, não consigo escutar, não consigo falar.

Três.

Estou tremendo, minhas mãos tremem, eu por inteira me sinto trêmula, engulo em seco, vejo Nick se aproximar, ele corre loucamente, ele olha para o corpo ao chão e põe as mãos na cabeça em visível desespero.

E então acontece, dona Mirian, ela corre, olhos arregalados, com o celular no ouvido, lágrimas espessas, faço menção de me aproximar dela, mas permaneço estática não consigo mover minhas pernas, me sinto enraizada ao chão.

Minha mãe, Mirian, coloca o celular no ouvido há sangue nas mãos dela, não consigo entender de onde veio tanto sangue já que não vi ela colocar as mãos em mim em nenhum momento.
Ela consegue contatar alguém do outro lado do celular e eu paralisei no instante em que escutei suas palavras.

— Por favor, venham rápido, a minha filha ela... Ela, foi atropelada, por favor venham rápido, há muito sangue. — houve uma pausa para mim conseguir compreender sua fala. Justamente, a pausa que houve para minha mãe responder o outro lado da linha novamente.

— Eu... Eu não sei, ela se encontra desacordada. — pausa. — Peter, C-Cheque o pulso, o pulso dela Peter, Veja se tem b-batimentos.

Ah mãe... sinto muito! Sinto tanto te fazer passar por esse momento de terror!

Peter não conseguiu, ele não conseguiu checar, ele olhava para meu corpo como se estivesse com medo, medo de não encontrar pulso, como se fosse demais para ele fazer aquilo.

Nesse instante, Nick despertou de seu estado de estupor, ele se ajoelha ao lado esquerdo do meu corpo e toca eu meu pulso, eu sinto o calor de seu toque de onde eu estou.

É fraco, como um formigamento quente, mas eu sinto! E isso me apavora e me dá ânimo ao mesmo tempo! Eu o sinto, quer dizer que ainda há esperança.

Nesse instante ouço Nick falar.

— está fraco, mas tem batimento, apresse-os tia, mande-os correr! — como eu te amo pintinho, tento dizer mais nada sai.

Vejo Peter relaxar ao lado de Nick, e mamãe se agacha ao meu lado dando instruções de onde nós estamos, ela dá informações importantes como o fator RH do meu sangue, se sou alérgica, se já recebi sangue de outra pessoa.

A ambulância começa a soar distante depois de algum tempo. E todos olham para a esquina por onde ela vai passar.

Olho ao redor, e percebo que todos no restaurante estão do lado de fora olhando a cena, todos com olhos angustiados, tem um gosto amargo em minha boca eu sinto a angústia de cada um deles.

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