× Capítulo Dezoito ×

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— Marília... E-eu não vou fazer isso! —
Protestei e a mais nova revirou os olhos.

— Ah, qual é, Maraisa? Isso vai te animar! — Assegurou ela abaixando-se e apanhando uma latinha de spray, logo a entregando para mim. — Confie em mim.

Marília aproximou-se do muro velho e então começou a pintá-lo com o spray rosa. A mais nova escrevia frases e fazia alguns desenhos. Eu apenas observava suas ações, incerta sobre o que iria fazer.

— Maraisa... Eu não vim aqui para fazer isso sozinha. — Ditou. — Olha só... Você sabe por que as pessoas picham os muros?

— Por puro vandalismo?

— Não. Elas picham os muros por que querem extravasar. Elas querem colocar pra fora tudo aquilo que está oprimido, recluso... É algo ilegal, mas fazem mesmo assim, por que, do contrário, eles não irão agüentar guardar tudo aquilo para si. — Instruiu. — Você também está assim, Maraisa. Você está tentando guardar algo que você não irá suportar. Por isso, coloque tudo que está entalado aqui — Tocou meu peito com o indicador. ― pra fora.

Assenti e direcionei-me para o muro a nossa frente, e então comecei a pichar tudo aquilo que eu guardava. Frases, desenhos, símbolos, xingamentos... Tudo.

Marília pareceu orgulhosa do meu trabalho, e logo juntou-se a mim, pichando ao meu lado. Passamos muito tempo assim, tanto é que só me dei conta quando a tinta spray acabou, e eu fui obrigada a largá-la no chão.

Marília e eu nos afastamos do muro para
podermos observar a nossa "obra". Não ficou ruim. Ficou colorido, espontâneo... E então eu entendi o porquê das pessoas fazerem aquilo. Realmente era revigorante. Eu me sentia mais leve...

— É, ficou muito bom... — Comentou a loira. — Memories?

— O quê?

— Memories. — Repetiu, apontando para a minha área do muro. Por que escreveu isso?

— E-eu não sei... N-não estava prestando
atenção em nada...

— Bom, deixa pra lá. Ainda temos que assinar nossa obra. — Disse ela e aproximou-se do muro, logo pichando um "MP" e um "MM".

— Maraisa Pereira e Marília Mendonça?

— Exato. Se descobrirem, ficaremos famosas. — Disse e eu ri baixo.

— Ou podemos ser presas por vandalismo.

— Eu não me importaria em ser presa com
você. — Deu a ombros, e eu ri baixo. — Bom, vamos indo. Ainda temos outro lugar para ir.

— Onde?

— A escola.

— Marília... Você não quer pichar o muro da escola, quer?

— É claro que sim. Danilo merece uma lição. — Disse ela e entregou-me uma máscara preta, que cobria a metade inferior do meu rosto; e logo colocou a sua também.

— A surra que Gustavo deu a ele não foi
suficiente?

— Não. Humilhação pública é melhor. —
Disse ela, retirando de sua mochila mais duas latinhas de spray. Uma azul e outra vermelha. — Okay, seja criativa, mas não escreva nada que possa nos incriminar. Não haja como uma namorada vingativa, haja como um estudante qualquer que não concorda com a atitude de Danilo.

Assenti, e juntas nos aproximamos do muro
branco da escola. Chacoalhei a latinha de
spray vermelho, dando início à frase "Danilo é um idiota". Após pichá-la de uma forma chamativa, observei as frases de Marília, que consistiam em "Você não a merece", "Ela é boa demais para você" e "Fique longe dela, seu babaca".

memories. - malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora