O que não me mata é melhor correr

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Ao chegar em casa, os pensamentos de Lilian ainda estavam na revelação de James. As palavras dele haviam ficado impressas em seu cérebro como se estivessem coladas por algo muito poderoso. Ela sabia que não iria ignorar aquela informação, sabia que iria contar à Emmeline assim que tivesse a oportunidade, mas precisava pensar em uma forma de fazê-lo sem que James descobrisse e, como consequência, perdesse a confiança do garoto.

Ela subiu as escadas que levavam ao seu quarto e se enfiou dentro do chuveiro. Precisava de um bom banho quente antes de ir jantar com o pai e a irmã que, milagrosamente, estavam em casa no mesmo horário.

Debaixo da água quase fervendo, Lilian voltou a pensar nas palavras de James e no impacto que elas teriam em Emmeline e... Foi então que percebeu. Emmeline acreditaria na traição de Lucius?

Ela ainda conseguia ver a cena de uma das brigas dos dois que presenciara no fim de janeiro, antes das aulas do segundo ano começarem.

Era manhã, pouco mais das dez, e Emmeline convidara as amigas e Lucius para tomar banho de piscina no prédio em que morava. Mary e Marlene brincavam na água, então não perceberam quando a amiga pegou o celular do namorado para ver as horas, porque não conseguia achar o seu próprio. Lilian, no entanto, estava tomando sol e pôde prestar atenção à toda a cena que se seguiu.

Ela pôde ver o rosto da amiga, segundos antes muito animado, ficar tão vermelho quanto seus fios ruivos. Emmeline virou a tela do celular para Lucius, sentado na mesa em uma pose tão displicente que beirava a arrogância.

― O que significa isso? ― Lilian ouviu a amiga perguntar, apesar da distância. A voz dela estava tremida. ― Você baixou o Tinder?

― Sim, eu te disse ― Lucius respondeu como se sua atitude fosse muito comum. ― Vai fazer drama por causa disso agora?

O tom de voz do garoto era o mesmo que ele usava para conversar sobre o tempo ou sobre o final chato de um filme, era o tom de quem estava entediado com o assunto. Lucius parecia ignorar completamente as lágrimas que teimavam em sair dos olhos de Emmeline, como se elas não fossem nada além de parte de uma cena ensaiada anteriormente. Lilian estava indignada e prestes a levantar de seu lugar e se meter na briga dos dois.

― Nós estamos em um relacionamento monogâmico! ― Emmeline finalmente explodiu, atirando ao chão o celular do namorado. As lágrimas agora chegavam facilmente às suas bochechas. ― Você está me traindo!

O segundo grito dela foi ainda mais alto que o primeiro e impediu Marlene e Mary de ignorarem a cena.

― Eu baixei essa merda para fazer amigos! ― Lucius levantou-se gritando e deu um soco na mesinha da piscina. A essa altura, Marlene já estava saindo da piscina com os olhos semicerrados. Percebendo os olhos voltados para ele, o menino abaixou o tom e acrescentou: ― Você está fazendo uma cena. Não é melhor discutirmos isso em um lugar privado?

Emmeline, com lágrimas nos olhos, balançou a cabeça concordando e seguiu o namorado. Marlene ainda se preparou para impedir, mas Mary segurou o braço da amiga, impedindo-a. As três, então, continuaram na piscina tentando ignorar a cena que haviam acabado de presenciar.

Lilian até teve vontade de falar algo naquele momento, mas Lucius havia gritado de maneira tão agressiva que ela teve medo de causar uma briga pior ainda. Então, calou-se, assim como as outras duas.

Nos dias que se seguiram, ela e Marlene tentaram trazer à tona aquela manhã na piscina, mas Emmeline sempre mudava de assunto e, uma hora, elas desistiram. Sua amiga continuou namorando Lucius, como se ele nunca tivesse pisado na bola.

Ao sair do banho, Lilian sentia-se perdida. Era óbvio que Emmeline não iria acreditar nela. Se depois de ver o Tinder instalado no celular de Lucius ela não tinha terminado com ele, não seria agora que o faria, apenas porque o rapaz que ficava com sua amiga havia dito que ela estava sendo traída.

Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora