"era só algo que eu precisava fazer, soube disso assim que reconheci você entrando no bar, com toda essa aura inalcançável ao seu redor, pensei que poderia te alcançar em parte e por uns segundos apenas, não desejava muito mais que isso."
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-- Pelo menos tentamos - digo com a voz embargada, já havia me dado por vencida naquela discussão após o relato da festa
-- Mas foi uma tentativa falha - termina a ligação ali me fazendo olhar incrédula em direção ao chão, desabando no mesmo em seguida.
Acordo sentindo os olhos úmidos, pisco algumas vezes para afastar as lágrimas junto com o pequeno aperto que sinto no peito, observo o ambiente que estou e percebo ser o sofá de Akira.
-- Puta que pariu, que horas são? E que dia é hoje? - pergunto ao ouvir alguma movimentação na cozinha
-- São vinte e quarenta do dia 23 de julho, eu acho - Hiroshi, o outro morador da casa, responde
-- Vocês já abriram? - questiono indo para onde o garoto estava
-- Já, só vim pegar mais sal - diz levantando para mim o saquinho em sua mão
-- Deuses... Não lembro que horas dormi
-- Ontem, enquanto víamos o filme, lembra?
-- Caralho, isso tudo?
-- É, mas você estava cansada então te deixamos em paz - diz por fim passando por mim e beijando o topo da minha cabeça - Toma um banho e vai ficar com a gente lá, tá' bastante movimentado hoje
assenti em silêncio e caminhei até o banheiro pensando no que ele queria realmente dizer com cansada, bocejo um pouco e abro a porta me deparando com a cena mais macabra que poderia existir: Meu reflexo no espelho.
-- Nada que dormir quase 24 horas não faça com essa sua carinha de cachorro abandonado né Ayame Miyazaki? - não obtenho resposta da eu em minha frente e começo a me despir para entrar no box.
Sinto a água bater em minha cabeça levando parte do meu cansaço junto para o ralo, respiro fundo e penso novamente na cena que minha cabeça não me deixa esquecer. Takeshi, a pessoa cujo entreguei todo meu tempo, esforço e amor, agora estava do outro lado do planeta vivendo sua vida feliz ao lado de seu novo companheiro loiro dos olhos azuis. Isso mesmo, feliz.
Havia sido tão fácil para ele tocar com a vida e seguir sem mim, será que devo perguntar como ele conseguiu? Ah, não, se eu perguntar vou obter a resposta mais óbvia: Sexo.
Aparentemente é a coisa que resolve tudo lá na parte ocidental do globo, tudo mesmo. Vai reprovar de ano em biologia? Vá estudar anatomia com o professor. Não tem dinheiro o suficiente para pagar o uber? O banco do carro não deve ser tão desconfortável. Está com saudade da sua namorada que ficou na sua cidade natal? Teste fornicar com seu colega de apartamento gostoso, vai funcionar.
Mas não é assim que eu resolvo as coisas, eu choro e moro de enxerida na casa dos meus melhores amigos enquanto não tenho coragem de entrar na minha própria casa por conta das lembranças que guardei ali. Porém eu sinto que já passei tempo demais sentindo essa vontade imensa de desistir, está na hora de mostrar pra mim mesma que passar por isso não é um monstro de sete cabeças.
