Por Que O Céu É Azul?

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"Pai, por que o céu é azul?"

Meus pais com certeza não sabiam a resposta daquela pergunta que eu fiz. E ainda sim com casualidade falei aquilo olhando pela janela do carro as ruas de Seoul.

Meus pais sempre disseram que meu jeito de fazer perguntas era incomum. Mas, como explicar o incomum para mim que não fazia ideia em meu descobrimento e aventuramento do mundo o que poderia ou não ser comum?

A resposta é:
Não explicariam.

Todas as manhãs eu acordava cedo, mesmo que minha alma nunca dormisse, em ansiedade. E nessa ansiedade, eu acordava às vezes antes do sol nascer e ia para a varanda sozinho. Pegava algum cobertor, enrolava meu corpo e me equilibrava na grade para ver o espetáculo matinal. Porque eu sentia que podia fazer quase tudo no amanhecer, menos uma coisa:
Perguntas.

Quando eu saia, olhava para baixo e via a rua toda em pura escuridão enquanto sentia o peito arder de friagem pela madrugada dando adeus. E não fazia perguntas. Até que minha mente se esvaia e eu podia ouvir o som dos pássaros vindo. Eu me pendurava bem na ponta da grade: e minha paz se instaurava.
Sentir o dia acordando me dava uma sensação jamais sentida novamente. Na neblina densa o tempo começava a se condensar e a luz tímida do sol invadia o véu acariciando a mim e o mundo com seu calor.
Eu conseguia ver tudo dali: as pessoas em suas vidas comuns, as luzes das ruas se apagando: "Como num passe de mágica!" eu dizia toda vez, e a velha surpresa inesperada virou quase um bordão meu nas mãos dos meus pais e seus amigos, as vezes meu tio Hoseok me imitava sorrindo com o coração: "Como num passe de mágica!"

Fazia isso todos os dias, e todos os dias passando sob o céu azul de Seoul eu via algo novo. Eu não sei sobre o resto do mundo. Mas os momentos de contemplação do amanhecer e do céu por si só, me faziam sentir uma criança pequena. E serviram para me sentir tão mais vivo por ser algo pequeno no universo. Minha paz por ser livre estava ali. Eu sonhava, dentro daquele azul profundo de tristeza, com esse paraíso infinito que era o céu e o sol diários.
No teleférico já havia amanhecido. Eu sentia minha alma leve enquanto percorria o mesmo caminho de quase nunca em Namsan. Finalmente eu chegava na montanha e ia andando descalço pela grama curta misturada a terra úmida. Encontrávamos os amigos de meus pais nos bancos curvos frente as árvores de mensagens. E nunca alguém ficava tão feliz quanto eu quando tocava o chão e via o céu sabendo o que veria a seguir.
A vista de Seoul pelo Parque Namsan era inexplicável. A imensidão que se arrastava pelo céu parecia tomar uma forma pela cidade.
Poucas outras pessoas também ficavam maravilhadas quando o sol nascia no topo da montanha. Havia um guia que, por muitas vezes, se juntava aos idosos que subiam naquele horário: segurava firme em suas mãos, e os idosos, cada um em uma das mãos e braços, seguravam delicadamente o homem para subirem alguns lances de escadas.
O cheiro de umidade fria me envolvia e viciava. O vento soprava. Sei que não estou transmitindo bem a sensação de vivacidade correndo pelo coração nessas visitas ao parque e o amanhecer por si só. Bom, não há nada no mundo que possa soar tão bem quanto a emoção real ao invés da escrita. A visão do Parque Namsan era além de inexplicável, inebriante e opressora. E eu fazia a coisa mais comum possível que faria para todo o sempre: olhava bem minhas mãos pálidas pelo frio, levantava minha cabeça para olhar as árvores, e respirava profundamente o ar da montanha pela minha boca: eu respirava toda vez a montanha, apenas para sentir ela viva dentro de mim.

Passávamos o dia inteiro lá. O sol já ficava no alto, e meus pais continuavam entretidos em sua folga por meus tios: Yoongi, Hoseok, Taehyung e Jimin. Eu tirava minha jaqueta, e ela de alguma forma ficava com o cheiro da manhã. Assim como minhas mãos.

Então sentávamos, juntos, sob as folhas e a grama do parque. No chão a brisa parecia mais agradável em meus cabelos. Eu às vezes sentia que poderia segurá-la com a ponta de meus dedos.

Tomávamos café e ficávamos em silêncio. E quando eu lembrava que em menos de 2 meses eu teria Namsan de novo para mim, eu ficava tão feliz que poderia chorar de tristeza.

Meus pais acreditavam que eu gostar tanto da natureza era por causa de um deles: "Namjoon é mais apaixonado por esse lugar do que por nós dois." Era quase uma profecia eu ser tão ligado àquela cidade e ainda sim não conseguir viver sem aquela montanha.

Existirá alguém nesse universo que possa fazer essa felicidade nunca deixar de voltar? Como viver sem fazer perguntas inocentes sobre como o céu tinge a minha alma e como o sol acalenta a mesma? Isso será para sempre?

Para sempre?

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