turning page

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Há uns duzentos anos atrás, Benjamin Franklin compartilhou o segredo de seu sucesso com o mundo, ele disse : “nunca deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”.

Esse é o cara que descobriu a eletricidade, então é normal achar que a maioria das pessoas iriam ouvir o que ele fala, não é mesmo?

No trajeto para o hotel, Sheilla refletia sobre a forma como Marianne havia agido durante todo aquele dia. Nas outras ocasiões que se viram, a oposta não teve a oportunidade de dialogar e desfrutar da companhia da outra como hoje, pois, em todos os eventos que ambas compartilhavam o mesmo espaço, elas também estavam acompanhadas por inúmeras pessoas, e consequentemente, pelos seus respectivos interesses amorosos. Por causa disso, nada grandioso foi conversado durante a década que se passou. Temáticas rasas e assuntos fúteis eram o que elas consideravam como zona de conforto quando estavam na presença uma da outra.

Após o término e o passar dos anos, o perdão se tornou algo subentendido no íntimo de ambas, mas, especialmente hoje, Sheilla não sentia veracidade nisso.

Eu não tenho idéia porque adiamos tanto as coisas, mas se eu tivesse que chutar, diria que tem muito a ver com o medo.

Medo de reviver a dor.

Medo de tomar uma iniciativa, porquê, se você estiver errado? Se você ouvir o que não quer?

Seja lá do que temos medo, uma coisa é sempre verdade: com o tempo, a bola de neve causada por não ter tomado uma atitude, se torna pior do que o medo de agir. Acaba parecendo que estamos carregando um aneurisma gigante, prestes a se romper.

Antes de entrar no elevador, a oposta parou no meio do corredor, e não precisou de muito tempo pra decidir dar meia volta e correr para o estacionamento onde Marianne havia as deixado minutos atrás. A morena buscou as pressas o perfil da loira nas redes sociais para lhe mandar uma mensagem, na esperança dela voltar ao seu encontro para conversarem, mas, quando chegou na portaria, avistou o automóvel da camisa sete parado no mesmo lugar.

Precisou respirar fundo, e só assim, buscar coragem suficiente para seguir o seu coração, que instintivamente a guiava de volta para Marianne.
________

- É... eu posso entrar? - a morena perguntou.

Marianne pensou com curiosidade - quais eventos fora do comum aquele dia ainda seria capaz de proporcionar-lhe?

- Pode... - ela abriu a porta e se acomodou novamente no seu banco. - Aconteceu alguma coisa? - a loira indagou.

- Só queria falar com você. - Sheilla respondeu, também se acomodando no assento. - Podemos conversar?

A loira ponderou e observou o semblante ansioso da outra. Ela olhou no suporte do carro e nada de notificações no visor do seu aparelho celular. Nada de Ellen.

- Claro, Sheillinha. - a ponteira respondeu. - Você tá passando por algum problema? Precisa de alguma coisa?

- Não, está tudo bem, Mari. - sorriu com a preocupação da outra. - Eu... - novamente se estabanou com as palavras.

Como poderia começar a discorrer sobre um assunto que nunca viera à tona ou fora debatido explicitamente?

- Eu queria falar sobre a gente, Mari. - a oposta falou rapidamente, deixando o ar quase palpável, com tamanha tensão exalada pelos seus corpos, e um silêncio constrangedor se instalou no ambiente.

As pessoas possuem cicatrizes.

De todos os tipos e em todos os lugares inesperados.

Elas são como mapas secretos de suas historias pessoais. Diagramas de suas velhas feridas.

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⏰ Última atualização: Aug 05, 2022 ⏰

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