Serendipity | Violet Baudelaire

CAPÍTULO II

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SERENDIPITY
Capítulo II
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Em algum momento da vida — na verdade, muito cedo — um livro pode lhes cair nas mãos e vocês hão de notar que a primeira frase pode revelar o tipo de história que será lida. Por exemplo, um livro que comece com "Era uma vez
uma família de esquilos espertos que viviam dentro de uma árvore" provavelmente conta uma história repleta de animais falantes que se envolvem em toda a sorte de travessuras. Um livro que comece com "Emily sentou-se e olhou para a pilha de panquecas que sua mãe lhe havia preparado, mas ela estava tão ansiosa com o acampamento das bandeirantes que não tinha sequer vontade de comer" provavelmente conta uma história repleta de garotas que riem à toa e se divertem sem parar. E se vocês gostam de travessuras ou de diversão, já sabem que livro escolher e podem simplesmente deixar de lado os que não lhes interessam. Mas este livro começa com a frase "Coraline acordou assustada com a figura assustada de sua irmã alegando ter envolvido um barulho assustador do lado de fora", vocês já podem concluir que a história que se segue será muito diferente da de Emily ou da família de esquilinhos marotos. Isso pela simples razão de que a vida de Coraline, Quigley, Duncan e Isadora Quagmire é muito diferente da vida da maioria das pessoas, principalmente no que diz respeito ao grau de infelicidade, horror e desespero após a virada drástica que sofreram em uma única noite.

— Talvez tenha vindo de fora. Provavelmente aqueles gatos entraram em nosso lixo novamente, as latas são de alumínio e devem ter feito o barulho quando tombavam — Supôs Coraline piscando algumas vezes, tentando afastar o sono e focar no que Isadora estava dizendo. — Não há nada lá fora, Isa. Não precisa se preocupar.

— Se não há nada lá fora, então o que foi aquele barulho? — Questionou Isadora olhou para sua irmã com olhos suplicantes.

Isadora hesitou por um momento, mas então finalmente se levantou e pegou a mão de Coraline — Tudo bem. Podemos pelo menos dar uma olhada lá fora, por favor?

Coraline apertou a mão de Isadora com firmeza — Claro

Coraline se levantou da cama, determinada a investigar a fonte do som misterioso. Um novo mistério talvez a fizesse esquecer do que seus pais estavam escondendo. Ela pegou uma lanterna em cima da cômoda e a acendeu, lançando um feixe de luz pelo quarto. Quando Coraline e Isadora estavam prestes a sair do quarto e andar pelo corredor a frente, um som ainda mais assustador se fez presente.

Coraline se encolheu fechando os olhos ao som de um novo estrondo enquanto sentia Isadora agarrar seu braço com força. Ao abrir os olhos soltando um gemido, fechou-os rapidamente devido a uma luz ofuscante e a uma lufada de vento quente. Então teve a visão de todo o corredor coberto por fumaça. Nuvens de fumaça escuras, maçantes, mas ferozes, enchendo a sala e depois o resto da casa. E por fim seus pulmões. Ela tossiu violentamente enquanto a fumaça queimava seus olhos, sua irmã se encontrava no mesmo estado.

— Coraline? Isadora? — A voz de Howard soou alto no corredor — Vocês estão bem?

— Pai? — Isadora engasgou fracamente, tentando se orientar — O que está acontecendo?

— Não há tempo! Temos que sair daqui! — Gritou Sr.Quagmire com urgência agora na frente das meninas junto com Duncan segurando sua mão. Coraline cambaleou como uma bêbada tentando encontrar seu equilíbrio antes de segurar a mão de sua irmã. Sua cabeça estava doía, era difícil respirar…

— Enquanto a Quigley?! E a mamãe?! — Coraline perguntou preocupada. Uma terrível sensação na boca de seu estômago gritava de que isso não ia acabar bem, fazendo-o odiar a sensação, pensamento e toda a situação que estava.

— Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Vou encontrá-los — Assegurou Howard em meio a correria

Coraline apertou involuntariamente a  mão de sua irmã ao chegar no trecho totalmente iluminado pelas chamas mais brilhantes e quentes que já tinha visto, não é como se já tivesse estado dentro de um prédio em chamas antes, mas ainda assim. A visão era de tirar o fôlego.

Literalmente.

Em meio a tosses ofegantes, a sensação queimante em suas gargantas como se suas traqueias começassem a cozinhar sob a temperatura, o calor era tão intenso que poderiam jurar que a pele estava derretendo do meu corpo. Ou isso era suor?

— Por aqui!— Sr. Quagmire gritou os guiando pelas escadas em direção à porta da frente. As chamas caíram perto de suas pernas enquanto corriam para o centro da sala tentando escapar.

O Sr. Quagmire abaixou-se para tentar abrir a porta, as dobradiças rangendo por todos os entulhos que já estavam na porta — Apenas confiem em mim e façam o que eu digo. Vocês vão lá para fora. Vou buscar seu irmão e sua mãe. Voltarei com eles. Tudo vai ficar bem, eu prometo. — Tranquilizou notando os olhares gritantes de medo que seus filhos carregavam. Definitivamente não estava tudo bem e que não ficaria bem tão cedo.

— Sejam corajosos como vocês sempre são, meus pequenos aventureiros. Eu amo vocês — Sr. Quagmire deu um rápido abraço em seus filhos, antes de guiá-los em direção à pequena fresta que conseguiu abrir, certificando que os três pisaram na superfície sólida do concreto.

Coraline olhou para trás a tempo de encontrarem seu pai correndo em meio às chamas, deixando-os em uma escuridão espessa e misteriosa que provavelmente nunca esqueceria

Imediatamente, respiraram fundo algumas vezes, principalmente para se acalmarem. Era tudo que podiam fazer agora. Estavam em choque demais para distinguir alguma coisa, a única coisa que os restavam era esperar que seu pai voltasse com sua mãe e Quigley.

"Eles vão voltar?" Pensou Coraline, seu estado atual era de uma grande tremedeira, lágrimas quentes escorriam por sua face, seu coração batendo loucamente contra sua caixa torácica enquanto sentia sendo puxada para o outro lado da rua junto com seus irmãos. Se sentia desesperada e angustiada.

— Vai tudo ficar bem, certo? — A voz de Duncan soou ao seu lado no meio daquela situação assustadora, sua voz estava áspera e trêmula. Seu estado é semelhante ao de suas irmãs.

Esta seria a hora ideal de irem embora e fingir que o resto da história é feliz e vitoriosa, que a Sr. Quagmire saiu daquela casa em chamas acompanhado pela sua esposa e seu outro filho. Porque se ainda insistir em ficar, estará ciente da série de desventuras infelizes vividas pelo quadrigêmeos Quagmire após aquele terrível incêndio.