Capítulo 1

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Johanna pov.


Tem sido uma semana bem pouco produtiva, as ruas de Londres andam tão calmas, tão entediantes, a coisa mais sobrenatural dos últimos dias é a quantidade de barulho que essa minha vizinha do lado faz todas as noites.


- Ei?! Da pra abaixar o volume dessa suruba aí, ou tão enfiando um caminhão de carga em algum buraco seu? Tem gente aqui tentando dormir do outro lado da maldita parede! - Gritei, batendo na parede, que se misturava aos urros da mulher e os barulhos feitas pela cama. Nem sei se ela conseguiu me ouvir, mas resolvi desistir


Não vou me fazer de santa, sinceramente, o  que eu mais queria é uma boa transa que nem essa, mas precisa ser tão escandalosa. Ou ela tá enfiando um mastro de bandeira, ou eu vou ter que exorcizar alguma coisa de dentro dela. Volto a tentar dormir apesar da cantora de opera ao lado


A verdade é que, até pouco tempo atrás, barulhos externos seriam o menor dos meus problemas noturnos. Só de fechar os olhos, já me vinham as lembranças do pesadelo que me atormentava todas noites, aquele maldito portal infernal me puxando pra dentro. A pobrezinha da Astra... Era só uma criança, ela confiava em mim e eu...


- Droga Constantine, já não bastasse todo mundo, você resolveu torturar a própria cabeça. Se controla e vai dormir! - Digo para mim mesma, como se realmente pudesse mandar em meus próprios pensamentos e sonhos


Sonho... Ainda nesse assunto, eu ainda teria que lidar com esses pesadelos se não fosse por ele. Aquele perpetuo marrento, alto e pálido e... Não sei como descrever... uma coisa diferente nele, parecia diferente. Essa tranquilidade nos sonhos foram como minha recompensa por ajuda-lo a recuperar uma coisa dele, que meio que eu tinha e acabei perdendo, mas isso não vem ao caso


Deitei na cama, botei minha cabeça no travesseiro e continuava a pensar nele. Eu lembro de seus olhos no meu escritório, quando falamos sobre Roderick Burgess, sobre o que ele fez sonho passar. Ele tentou disfarçar, mas eu vi, tinha tanta dor nos olhos dele, parecia que começava uma tempestade num céu claro, não posso descrever o que senti ao ver aquela fragilidade, só que me imaginei passando por isso. Ficar trancado no porão de um velho bruxo por mais de um século, isolado do mundo e sendo explorada por quem eu sou. Sem falar de todas as coisas que aconteciam no mundo, que eu sabia que eram minha responsabilidade. Eu iria enlouquecer


Mas, como sou péssima com esse lance de empatia, eu fiquei calada e não fiz nada para ajuda-lo, só mudei de assunto e segui com o trabalho. Depois disso, pode ter sido impressão minha, mas eu senti alguns momentos em que ficamos muito próximos e eu senti uma coisa estranha, uma eletricidade percorrendo meu corpo quando eu senti uma respiração pesada em meu rosto. Foram poucas vezes que meu corpo reagiu de forma tão forte a presença de alguém, se é que isso aconteceu alguma outra vez. Melhor eu deixar de pensar nisso, afinal, ele provavelmente não deve me procurar outra vez.


Ouvi umas fofocas de uns informantes demônios que ele causou uma bagunça lá no inferno, além daquele maluco que enlouqueceu uma lanchonete. Parece que ele já resolveu o problema dos itens dele, agora deve tá no trono dele ou sei lá onde ele passa o tempo. Será que o Sonho dorme? Ele já mora no reino dos sonhos dos outros, não deve fazer sentido dormir lá.


Só sei que, em algum momento desses devaneios, eu acabei dormindo de uma forma bem pesada. Quando dei por mim, estava em pé num campo verde, a luz do sol machucou meus olhos de inicio, mas depois me acostumei.


Nunca fui uma garota de acampamento ou picnic, mas essa paisagem era mesmo muito linda. Tudo verde e colorido, cheio de arvores altas, mato raso e várias flores de diversas cores. Dou uma leve caminhada pelo campo, tentando me localizar onde eu estava. Quando fui assustada por uma voz masculina, grave e profunda. Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.


- Vejo que anda aproveitando bem as noites de descanso que concedi a você. - Disse um homem alto, vestindo uma roupa preta coberta por um sobretudo pesado da mesma cor. Olhei sua pele pálida e lisa, subindo pra seus olhos azuis, brilhantes como estrelas e seu cabelo bagunçado e estiloso ao mesmo tempo


- É impressão minha, ou o deus dos sonhos está me estalkeando? - Respondo ironicamente, com um sorrisinho de lado para provocar ele. Se tem uma coisa que sou boa, é provocar os outros


- Não precisa se preocupar com isso. - Ele me responde, a voz era mantida firme, mas um sorriso contido esboçou em seu rosto. Acho que nunca o vi sorrindo antes... É um sorriso bem bonito, até - Você me chamou aqui.


- Como? Nem tenho seu numero.


- Seus sonhos me chamaram aqui. - Ele explicou calmamente, enquanto se aproximava de mim em passos lentos - Quando foi dormir, seus pensamentos estavam direcionados a mim. Logo, quando adormeceu, eu recebi uma espécie de chamado quando adentrou os meus domínios


- Não vai se achando também. Não fico perdendo o sono babando seu ovo. - Abaixo meu olhar - Você tem ovos, não é? - Queria dizer q foi só brincadeira, mas tinha um pingo de curiosidade genuína nessa pergunta 


- Não vejo porque tal pergunta é necessária, mas sim. Eu tenho. - Ele responde seriamente, e eu tive que conter um pequeno riso - Parte de ter uma forma humanoide, é contar com todas as partes de um humano, no meu caso particular, de um homem.


- Eu só estava... É... - Penso numa desculpa - Estava pensando que nunca tive a oportunidade de agradecer por me livrar daquele pesadelo. Não quer dizer que eu não tive outros, mas pelo menos pude ter umas boas noites de sono.


- Eu cumpri minha parte do nosso trato. Além disso, você não merecia ser atormentada por tais lembranças. Pode ter acontecido uma tragédia, mas não quer dizer que você deva sofrer com isso toda sua vida. Eu senti que precisava te aliviar desse fardo, esse foi só o jeito que eu encontrei.


- E eu só posso te agradecer. Eu posso não ter o costume de dizer esse tipo de coisa, mas... Muito obrigada. Se quiser me pedir um favor, qualquer dia, sabe onde me encontrar. Você meio que controla o lugar que eu fico por um terço da minha vida.


- Vou me lembrar disso, senhorita Constantine. E você está sempre bem vinda a se refugiar no meu reino. - Ele se virou e deu dois passos se afastando de mim, me deixando sozinha no campo verde. Foi quando o chamei


- Espera aí! - Gritei e ele parou, se virou pra mim e me encarou com aqueles olhos penetrantes - Já que eu to aqui, você também. Será que rola um tour pelo tão magico palácio do rei dos sonhos? Sempre ouvi tantas histórias sobre ele, quero ver com meus próprios olhos.


De inicio, ele pareceu sério, como se eu tivesse o ofendido ou passado de algum limite. Na minha cabeça era justo, já que ele mesmo já tinha visto de perto o lugar onde eu moro. Se bem que, comparar aquele muquifo com um palácio de um perpetuo já é sacanagem. Eu já estava me preparando pra um esporro ou algo pior, provavelmente bem pior, mas fui surpreendida com sua expressão de abrindo. Pelo que eu pude entender, ele apenas parou para considerar se ele se importava com o meu pedido, aparentemente não viu problema


- Você me auxiliou de forma fundamental com minha areia, não apresenta nenhuma ameaça a ninguém do sonhar. Suponho que uma breve visita não deve fazer mal

Sonhe um Sonho comigo // Morpheus x Johanna ConstantineOnde histórias criam vida. Descubra agora