Quatro constelações e um biribinha

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Midoryia

Já estava a pelo menos duas horas fitando o teto do seu quarto em casa, numa tentativa falha de organizar os pensamentos que pareciam tornarem-se mais fungíveis a cada momento que passava.

Já era sexta-feira e mesmo dois dias depois da última reunião com os amigos, Izuku ainda não conseguia processar tudo o que estava acontecendo. Tanta coisa tinha mudado em tão pouco tempo e ele se percebeu sendo tragado por essa correnteza de novidades, refém da própria impotência.

A duas semanas atrás ele estava metodicamente se esforçando para retomar a vida escolar que tinha deixado de lado no fim do fundamental, de uma forma progressiva e previsível. Suas ocupações eram estudar, jogar, alimentar um amor platônico e levar broncas da única amiga por alimentar um amor platônico.

E agora ele estava... não sabia onde exatamente estava, mas era um lugar completamente diferente de antes. Tinha feito amigos, descobriu inimigos e a retomada da vida escolar que tinha planejado no início do ano se mantinha por um fio.

Lembrando dos acontecimentos que compunham a correnteza que o tragava, ele mal conseguia se reconhecer. Estava fazendo reuniões com os amigos para desmascarar um colega que tentava te fazer mal. Tinha mandado Bakugou sair do seu quarto como se não fosse nada, não se lembrava da última vez que fizera algo assim. Tinha beijado... e, não satisfeito, repetia o ato com uma frequência notável, isso, tinha certeza, nunca havia feito antes. Só de pensar em Shoto sentiu as bochechas ficarem mais quentes.

As mudanças ocorreram dentro dele também, assim como fora. Mas foi tão aos poucos e devagar que a ficha demorou a cair.

Mas não tinha sido devagar!

O momento do estopim que desencadeou essa sucessão de fatos era muito claro, foi há apenas onze dias, quando teve aquela primeira e atrapalhada conversa com um príncipe de gelo.

Era tudo tão confuso, sentia-se tão fora do controle. Na verdade, não chegava nem a ser fora do controle, simplesmente não compreendia o que estava se passando. A sensação é que estava agindo no automático.

Todos os seus atos foram guiados por impulsos genuínos e não se arrependia de nada. Contudo, não compreendia a razão por trás desses impulsos. Não compreendia os sentimentos que pareciam brigar dentro de si: raiva, excitação, alegria, ressentimento, euforia, encantamento, tristeza, satisfação, medo e empolgação passando como um fleche em seu peito, um atrás do outro e sem descanso.

Também não compreendia as pessoas que o rodeavam. Embora estivesse feliz com o vínculo que surgia com Ochaco e Shoto, isso ainda era um mundo inexplorado para Izuku, mesmo estando animado por desbravá-lo. Por sua vez, os motivos pelos quais Monoma se encontrava tão determinado a interferir em sua vida estavam muito além de seu conhecimento e não tinha certeza se gostaria de se aprofundar na questão.

E acima de tudo... não compreendia Bakugou.

Não entendia porque ele fora embora de sua vida, nem porque tinha voltado. Não entendia mais o que ele significava para si, ou se seus motivos fariam alguma diferença no final.

As coisas pareciam tão soltas. Como se estivessem à deriva no vácuo, sem atrito para frear ou gravidade para fixar, indo por rotas das quais ele não conseguia vislumbrar o final. E, ao mesmo tempo que isso o enchia de expectativa e curiosidade, também despertava a ansiedade angustiante que habitava seu interior a tanto tempo.

Olhando para o teto branco, Midoriya repassava cada interação e cada palavra buscando por algo que o ancorasse, que oferecesse a solidez necessária para afastar aquela maré de insegurança. Mas, aparentemente, não era esse o dia em que seria agraciado com as respostas para seus anseios.

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