Caroline

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— Ô mãe, e quando você vai falar pra minha outra mãe que você gosta dela? — Julia Kudiess questionou Gattaz em um tom mais baixo para as outras não ouvirem, a mais velha estava sentada em um dos bancos na lateral da quadra, fingindo que estava calçando os tênis quando na verdade só estava babando em Rosamaria que ria de algo que Gabi havia falado.
— Ah mas a Rosa sabe que eu gosto dela, se ela não soubesse, tá fazendo o que sendo minha amiga? — Caroline riu, desviando o olhar da oposta para a menina ao seu lado.
— Besta. Deixa eu reformular então, quando você vai contar pra minha mãe que é apaixonada por ela? — Julia sentou-se ao lado dela no banco, olhou para Rosamaria e então de volta para a central mais velha.
Carol engasgou com o nada.
— De onde veio isso, Julia? — ela perguntou tentando não deixar o nervosismo transparecer em sua voz, ninguém nunca havia a questionado sobre isso, o comportamento delas sempre foi só brincadeira e todos sabiam.
— Sabe, é muito difícil pra quem vê vocês de fora. — a mais nova colocou a mão sobre o braço de Gattaz, apertando-o carinhosamente.
— Eu não tô te entendendo, viu. Acho que colocaram alguma coisa no teu café hoje, que papo é esse? — Carol tentou desconversar.
— Olha, é muito difícil pra quem vê vocês de fora e não pode fazer nada, eu nunca tinha convivido com vocês duas juntas antes então não entendia quando falavam, mas agora eu entendo. Eu não sei como duas mulheres tão inteligentes, fortes e tudo mais podem ser tão tapadas. Ou sabem o que sentem mas não admitem uma pra outra né, o que é até pior. — Julia falou tudo de uma vez, mantendo a voz baixa e afagando o braço da mais velha, podia ver o desespero tomando conta do olhar de Carol.
— Como assim "quando falavam"? — foi tudo que a central conseguiu proferir.
— Você acha mesmo que ninguém percebia, Carol? Você brinca com todo mundo, mas com ela é diferente. Vocês duas agem diferente quando estão juntas, o ar fica até pesado de tanta tensão que tem com vocês duas no mesmo ambiente. Todo mundo sabe. Todo mundo. Eu sempre só ouvi as histórias e achava que era exagero das meninas, mas dá pra ver claramente que vocês são apaixonadas uma pela outra. — Carol voltou a observar Rosamaria e Kudiess seguiu seu olhar, suspirando. — A gente só não sabia se vocês sabiam que esse sentimento existia, porque pro resto do mundo ele é bem claro.
— A Rosamaria apaixona e desapaixona na velocidade da luz, Juju. Até esses tempos atrás ela tava com a Pedra, agora esses dias mesmo a figurinha descolocou do álbum dela e ela foi pra Grécia com aquela baranga sérvia, e assim vai. Ela não sente o mesmo. — Carol falou lançando um sorriso triste, seu coração doía.
— Ela é apaixonada por você, Carol. Sabe por que vocês não dão certo com ninguém? Porque vocês são apaixonadas uma pela outra, nunca vai dar certo com outras pessoas porque não é com elas que vocês querem estar. — Kudiess se levantou e estendeu a mão para Carol pegar.
— Quem dera as coisas fossem assim, Juju. Mas vocês estão vendo coisa onde não tem. — ela terminou de ajeitar sua meia e se levantou, segurando a mão da mais nova.
O treino não estava rendendo. Gattaz estava no mundo da lua, não conseguia parar de pensar na conversa com Julia. As brincadeiras sobre a central mais nova ser filha dela e de Rosamaria as aproximou muito, antes, só pela brincadeira mesmo, mas com o tempo ela realmente passou a se ver como uma mãe para Julia, o carinho e cumplicidade entre elas aquecia o coração de Caroline, ela levava muito em consideração o que a menina falava, portanto as palavras dela pesavam em sua mente.
Em certo ponto, se irritou consigo mesma, pediu desculpas para as meninas e se retirou da quadra, sabia que não podia se dar ao luxo de perder o treino mas estar lá com a cabeça nas nuvens também não estava sendo proveitoso pra ninguém. Passou em seu quarto, jogou uma água no corpo e colocou uma roupa confortável, decidiu que ia sentar na areia e tirar um tempo pra pensar, longe da mulher de olhos verdes que a tirava do eixo. Jogou um lençol sobre o ombro, calçou seus chinelos, deixou o celular em cima da cama e caminhou até a praia, queria se desconectar para colocar os pensamentos em ordem novamente, aquela conversa a desconcertou e fez uma enxurrada de sentimentos tomarem conta de si. Ela achava que estava escondendo tão, mas tão bem que o sentimento já estava quase indo embora mas a realização de que é cristalino para os outros seu amor por Rosamaria a atingiu de maneiras que nem era capaz de descrever. Era mais fácil lidar com eles quando ela estava há quilômetros de distância.
Estendeu o lençol na areia e deitou-se sobre o mesmo, logo perdendo-se na infinidade azul do céu e no som calmante das ondas. Gattaz amava a fazenda e quando ficasse velha, tinha planos de ir morar nela e administrar de perto, mas não podia negar a conexão que sentia com o mar, definitivamente teria também uma casa na praia para passar alguns meses por ano. Carol nem sabe quanto tempo já havia passado, mas acreditava já ser final da tarde, pensamento vai e pensamento vem, o pânico tomou conta da central.
— Puta merda, se, aparentemente, todo mundo percebe, será que ela também percebe? — sentou-se em um pulo falando baixinho consigo mesma, aflita.
— Tá véia mesmo, né, Caruline? Agora deu pra falar sozinha? — Rosamaria surgiu por de trás, jogando seu chinelo inseparável, Pride da Nike, na areia e sentando-se ao lado de Gattaz, que tomou um susto ao ouvir sua voz.
— Ah Rosamaria, vai procurar o que fazer, vai! — Gattaz falou, rindo.
— Eu procurei o que fazer e acabei de encontrar. Vim ver por que a minha véia tá lelé hoje. O que aconteceu? — ela falou sorrindo, dando um soquinho no ombro de Carol.
— Escuta, ocê veio andando descalça pela areia? Tem medo de bicho geográfico, não? — Gattaz falou, desconversando.
Rosamaria riu.
— É sério, Carol. O que aconteceu? Eu te conheço, tu não tá normal. — a oposta se aproximou mais de Caroline, dando um beijinho em seu ombro descoberto.
— Tanta coisa, Maria. — falou em um suspiro.
— Sou toda ouvidos, pode começar.
— Você já se apaixonou por alguém que não sente o mesmo?
— Já. — foi tudo que Rosamaria limitou-se a responder, desviando o olhar de Carol para o mar imediatamente.
— E que mesmo se sentisse, nunca daria certo?
Rosa assentiu, ainda com os olhos voltados para o mar.
— É muito exaustivo lidar com isso. — Gattaz falou, sua voz realmente transparecia seu cansaço. — Não pela pessoa, ela é maravilhosa. — Gattaz sorriu e Rosamaria agora se mexia inquieta. — Mas por não ser correspondida, sabe? Por nunca poder viver algo com ela, por compartilhar os dias tão de perto e ver essa pessoa com outras, isso dói. Eu fico feliz pela felicidade dela, no fim, é só isso que me importa, que ela seja feliz acima de tudo, mesmo que não seja comigo, mas isso não significa que dói menos saber dos casinhos dela, né? Eu também sou humana, poxa. — Gattaz riu fraco, sem sentir graça alguma.
— Caroline Gattaz, tu tá apaixonada pela Priscila? — Rosamaria falou em tom brincalhão.
— QUE?! Claro que não, Rosamaria! — apressou-se em responder
— Tu tá! — a oposta riu. — Achei que na tua idade esse negócio de se apaixonar por hétero já tinha passado.
— E quem disse que a Priscila é hétero, hein? Ela e Leinha ainda vão se descobrir um casalzão.
— Se não é ela, então quem é?
— Deixa baixo. Vamos? Tá batendo um ventinho gelado e a minha jogadora cara aqui não pode ficar dodói. — levantou-se estendo a mão para Rosamaria.
Elas calçaram seus chinelos e Gattaz bateu o lençol para tirar o excesso de areia, logo estavam caminhando de volta para o CDV lado a lado. Rosamaria fez questão de levar Caroline até seu quarto, "velhos não podem andar sozinhos, Caruline, vai que cai e se quebra?" foi a justificativa dela. Então lá estavam elas, frente a frente, na porta do quarto da central.
— Obrigada pela companhia, Maria. Obrigada por tanto, sem nem precisar de muito. — Carol falou, puxando a oposta para um abraço.
— Você não tem nunca o que me agradecer, Caroline. — Rosamaria escondeu seu nariz na curva do pescoço da central e a abraçou de volta, forte.
— Até a janta! Senta do meu ladinho, hein?!
— Acho que vou deixar vago pra Pri! Hoje não janto aqui, vou dar uma saída. — ela respondeu, mas Carol pôde perceber o tom tristonho na voz da mais nova.
Quando elas se afastaram, Rosamaria deu as costas rapidamente e saiu andando para seu quarto, Carol pensou ter visto o rosto da mais nova molhado mas acabou chegando a conclusão de que devia ser só impressão
Tomou outro banho e ficou deitada na cama respondendo alguns amigos no WhatsApp enquanto esperava dar o horário da janta. Comeu, conversou um pouco com as meninas e se desculpou novamente com elas e com Zé, voltou para o quarto e se preparou para dormir. Estava achando estranho o sumiço de Rosamaria, mas imaginou que a mais nova devia ter ido encontrar algum contatinho. Então deitou na cama, pronta para dormir e deixou o celular no criado mudo ao lado dela. Estava quase pegando no sono quando chegou uma notificação de mensagem da oposta, e ela sabia que era da oposta pois havia personalizado uma vibração em seu celular para sempre saber quando era mensagem da mais nova, ela justificava isso com a desculpa de que Rosamaria morava em um fuso horário diferente, o que tornava difícil de manter uma conversa contínua e que dessa forma ela iria saber quem era quando vibrasse e iria responder, para conversarem normalmente.
Estendeu uma mão para pegar o celular enquanto coçava os olhos com a outra, passou o olho pela barra de notificações e viu que era uma mensagem grande, sentou-se na cama em um pulo, com o coração batendo forte e começou a ler.
A cada palavra lida, seu coração errava uma batida. Ela mal podia acreditar em seus olhos, mal podia acreditar no quão forte seu coração batia em sua caixa torácica, sentia como se ele fosse explodir. Releu a mensagem tantas vezes que perdeu as contas, por fim, colocou o celular sobre a colcha da cama, com um sorriso de orelha a orelha e levantou-se, iria atrás da mulher. Passou pelo salão onde as meninas ainda conversavam alegremente e perguntou por Rosamaria, Roberta informou que ela havia chego há alguns minutos e estava no quarto. Ela assentiu e se direcionou para os quartos, recebendo um sorrisinho encorajador de Kudiess. Caminhou a passos largos até o quarto da mais nova e ao chegar na porta, sentiu toda sua coragem se esvaindo do corpo. Respirou fundo algumas vezes e girou a maçaneta, adentrando o dormitório em seguida.

NOTAS
ces pediram e a inspiração veio, então eu voltei kakaka dessa vez com a visão da Carol, talvez tenha mais capítulos, talvez não e eh isto, aqui só trabalhamos com a incerteza

i love youOnde histórias criam vida. Descubra agora