Pesadelo, sentimentos e madrugada

- Não... N-não...  Cass... - O sangue ainda quente pingava por entre seus dedos, sabia de onde ele veio, mas ainda assim sentia um medo incomum em relação a isso. A poça vermelha no chão parecia refletir seu desespero. Dean sabia o que viria, conhecia a sensação de caos e pranto. - Castiel... - Dean deu um passo à frente, o corredor escuro parecia não ter paredes, ou sequer teto, já que tudo era tomado por uma escuridão, mas tudo que o caçador via era o corpo no fim. O sobretudo manchado de sangue. A melancolia silenciosa que parecia chegar mais perto a cada passo. O medo que parecia crescer. - Por f-favor... Cass... Não... - Estava perto, a pressão em sua garganta nunca cessava, o calor atrás dos olhos, o sangue pegajoso parecia que nunca sairia, mesmo se ele esfregasse com uma esponja de aço. - Cass... Por favor... Não... Não... Por favor... - Seus murmúrios nunca eram mais que sussurros implorando. - Não morra... Cass... Por favor... - E então, ele alcançou o corpo, caindo de joelhos ao lado dele, com medo de tocar e ver, mesmo por um segundo, que ele estava... Que havia o deixado, que ele não voltaria mais... - Não... Não... - Então ele o puxou pelo ombro, lentamente, seu coração há tanto quebrado, se partiu quando viu. Era Cass. Dos olhos, boca e nariz escorria uma gosma negra, como se ele estivesse a vomitando aos montes, ele não parecia vivo. Não estava ali mais. Dean só se sentiu vazio, mas era um vazio tão grande e avassalador que o destruía, o aterrorizava, o desesperava. Era tão real que Dean nunca esqueceria daquilo.

Quando acordou, foi em um pulo, seus olhos vazavam e ele não se surpreenderia se seu coração estivesse vazando também. Seu primeiro ato foi olhar ao redor. Estava em casa. Bom. Depois tentou normalizar a respiração e acalmar o pranto, mesmo que fosse difícil com ele correndo, correndo e procurando pelo Bunker adormecido.

O Winchester olhou na entrada e na biblioteca, na cozinha, na masmorra, e então foi para os quartos. Olhou o de Sam, e nada. Muitos quartos vazios depois, seu desespero parecia aumentar a cada porta aberta para um lugar vazio.

Então outra porta foi aberta, e como se alguém tivesse pisado no freio, tudo pareceu parar. Lá estava ele, sentado na ponta da cama, observando cuidadosamente o garoto loiro que dormia tranquilamente, respirando fundo e relaxado.

- Oh, olá, Dean? - O Anjo falou, baixinho e confuso, assim que o olhou. Dean limpou o rosto rapidamente, e antes que pudesse fazer algo, ele havia se levantado. - Shh... Ele demorou para dormir, não vamos acorda-lo. - E veio em sua direção.

Antes que ele passasse por si, antes que o próprio Dean ou qualquer coisa os afastasse, o Winchester se jogou contra ele, abraçando o corpo sólido, quente e vivo.

- ...Tudo bem...? - Ouviu Castiel falar, ele demorou a retribuir o abraço, o qual o fez delicadamente, quase como se Dean pudesse quebrar (ou fosse uma bomba prestes a explodir). - Dean?

O chamado apenas fez Dean o apertar mais entre os braços, escondendo o rosto em seu pescoço e tentando conter as lágrimas.

Ele sabia que não era normal ter insônia e ficar quase a noite toda se revirando na cama, tentando abafar pensamentos imparáveis, pensamentos impossíveis sobre um tal Anjo. Dean sabia que era um mentiroso, que não era tão corajoso como diziam. Ele sabia que não adiantava admitir coisas tarde demais.

Era isso. Tinha que ser agora, agora que ambos estavam bem e protegidos, que não havia um fim do mundo os esperando, que não havia nada impedindo, nem suas próprias limitações ou inseguranças.

Não podia permitir que seus pesadelos se concretizassem, nunca.

- Cass... - O nome saiu de forma baixa e rouca, em um tom fraco e apelativo. - Castiel...

- Dean? - O moreno se afastou levemente, olhando diretamente para ele com a cabeça inclinada para o lado. - O que houve?

- N-nada... - O loiro fungou, tendo a clara noção de que estava corando. - Fica comigo, Cass. - Declarou, fechando os olhos e apoiando a cabeça no ombro dele. - Não me deixa.