Sapatilhas Douradas - Beauany

aquecimentos dolorosos.

Any Gabrielly

Meu peito subia e descia devido a respiração ofegante. Apesar de treinar todos os dias e sem descanso, ainda sim, eu sentia meu peito arder depois de tanto esforço para dar piruetas sem cessar. Odette era a personagem principal, sendo assim, a que mais dançava consequentemente. A coisa boa de ser a protagonista, era que eu tinha noção total que era boa e que merecia aquele papel. A coisa ruim, era que os trabalhos haviam se multiplicado infinitamente mais.

No momento, estava sentada de costas para o espelho, enquanto as meninas juntavam suas bolsas para ir embora. Pedi para que Joalin não esperasse por mim, já que iria demorar um pouco mais, porque gostaria de treinar um pouco mais. A lua brilhava no céu, enquanto garotas de collant andavam animadas e cansadas pelas ruas de Paris. O coreógrafo loiro bebia um pouco de água de sua garrafa, enquanto olhava para a parede creme. Me pus de pé novamente, após sentir meu coração bater um pouco mais devagar, e o ar conseguir circular melhor por meus pulmões.

— Não se cansa? — Perguntou o de olhos azuis, e eu apenas neguei, voltando a dançar pela academia — Deveria alongar mais suas costas. A postura deve ser completamente impecável, e digo isso com convicção.

— Mais? Estou completamente ereta, Sr. Beauchamp — Falei, girando uma vez, e deixando meu pé escorregar pelo piso de madeira.

— Josh — Ele disse, enquanto se aproximava — Detesto me sentir velho. Posso te chamar de Any também?

— Pra mim, é sinônimo de intimidade chamar um professor pelo primeiro nome. Estou acostumada a chamar minha professora de Srta. Collalto.

— Mas eu não sou Giorgina. Prefiro que me chamem pelo primeiro nome, por favor — Pediu, e quase pulei de susto ao sentir sua mão entrar em contato com as minhas costas — Vamos, fiquei reta.

Obedeci, ficando ainda mais ereta do que costumava, na clássica pose de bailarina. Sua outra mão entrou em contato com a minha barriga, fazendo pressão dos dois lados para que eu ajeitasse ainda mais a minha postura, fazendo até mesmo com que doesse. Olhei para minha imagem no espelho, conseguindo notar seus olhos percorrendo a base da minha coluna, e olhando para o meu rosto. Apesar de parecer besteira de sua parte, eu conseguia notar que minha postura havia ficado mais ereta que o normal, e ela estava impecável. Tenho certeza que se Giorgina estivesse aqui, ela iria parabenizar Joshua por isso.

— Me surpreende que Giorgina não corrija sua postura — Arqueei uma sobrancelha, estranhando seu comentário.

— Não tenho boa postura?

— Você tem. Mas poderia ficar melhor — Ele continuava com as mãos em meu corpo, fazendo pressão.

— Dói — Foi a única coisa que eu disse. Eu o olhei através do espelho.

— Eu sei que dói. Mas fique assim, só mais um pouco — Pediu e eu assenti.

Em determinado momento, suas mãos foram ficando mais fracas na pressão, e quando me dei conta ele já tinha se afastado e eu continuava com a postura que ele havia corrigido. Me virei para ele, e sorri de canto, voltando a fazer meus passos, enquanto Joshua se sentou na cadeira e observou meus movimentos. De vez em quando, eu o encarava novamente, mas quando a parte que eu sabia fazer se encerrou, eu parei de me mover e ele continuou me olhando. Desliguei a música, e bebi um pouco de água.

— Estou indo bem? — Perguntei para ele, que assentiu — Não tem nada para corrigir?

— Na verdade, tem. Mas já está tarde, seria melhor ir para casa.

— Quero logo aprimorar tudo agora, para que amanhã eu não precise parar os ensaios para me corrigir — Falei e ele apenas assentiu, se aproximando.