— Nori!
O chamado de Arthur, quando estou indo para o refeitório na manhã seguinte, não me faz interromper os passos. Estou satisfeita — embora cansada — com os exercícios obrigatórios de corrida que insisti em fazer com meu grupo, após uma madrugada conturbada de pesadelos com olhos e línguas e sangue.
— Nori, espera aí— repete ele, vindo se posicionar à minha esquerda.
— O que quer Arthur?
Estou perto dos paralelepípedos que levam ao prédio do refeitório quando ele puxa meu braço para me virar para si. Contenho um grunhido, evitando fazer uma cena.
— Está tudo bem? — Balanço a cabeça, questionando-o sem palavras. — Fiquei sabendo que se machucou. Caiu no banheiro, não é?
Suspiro, sem poder ignorá-lo.
— Estou bem. Foi uma pancada considerável, mas nada a ponto de ter que me preocupar com possíveis sequelas — é minha vaga resposta. Não minto, porém opto por ser evasiva.
— Entendo — assente, mordendo o lábio e dando um sorriso de covinhas. — Tome cuidado. Não é bom ficar perambulando sozinha num lugar onde pode haver acidentes.
— Estou bem — afirmo e abro a boca para dizer que não preciso de preocupação. Entretanto, acabo de notar que ele usou a palavra "sozinha" na frase. Somente quem me encontrou e meus amigos sabem que não tinha ninguém comigo.
Mas que...!
— Estarei bem se continuar me alimentando direito — prossigo, com a respiração acelerada. Era Arthur o cúmplice de Astrid? — Preciso ir ou vou perder o desjejum.
— Espere — pede, colocando a mão em meu braço uma vez mais. Para seu critério, parece tão ou mais desconfortável que eu. — Quero pedir desculpas pelo meu comportamento no outro dia. Quero dizer, eu não queria insinuar nada que te deixasse chateada, foi só... Eu não sei, mas peço que me desculpe.
Sorrio com nervosismo, pois o amargor na língua voltou. Meus olhos, que não identificam meus colegas ao redor — todos estão adentrando o prédio do refeitório — vão para a linha da floresta onde uma comprida sombra se move com cuidado pelas grossas árvores e voltam para o garoto à minha frente, que mexe nas pontas dos cabelos compridos demais.
Estou cercada. Meu instinto grita e implora por uma fuga.
— Tudo bem, deixe para lá. Agora, eu realmente preciso ir.
E, como a bela covarde que sou, deixo-o para trás correndo na direção da segurança da presença dos Cae, sem deixar de notar em nenhum momento que estou sendo observada. E sei que não é por Arthur.
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Artefatos de Sangue
Paranormal"Eu nunca quis ser parte disso. Nunca quis fazer parte dessa guerra. Nunca quis ter que escolher um lado. Mas, por eles, e por mim, eu finalmente queria tentar". Embarque nessa aventura, afogue-se nessa história enigmática e envolva-se num mundo de...