Sam e eu fizemos o terceiro andar do lugar o nosso escritório de estudo particular, sendo visitadas por ninguém mais que Samuel, uma vez, e Neena na outra, pouco antes de sua missão especial ter início e ela ter que sair dos domínios de Samuel. Este lugarzinho peculiar é a parte do cômodo que fica logo após o buraco que a sala de reuniões está, uma das saletas de estudo que se dividem entre sequências de estantes em cada andar, sendo o fim da demarcação da biblioteca, três andares acima do solo do térreo — é o ponto mais isolado e escondido dos olhares alheios, sem nenhum tubo de ventilação medieval, inclusive.
Observo a mesa lá embaixo, distante, onde está a pequena fonte curiosa que me intrigou no primeiro dia. Quando estou muito cansada e contrariada pela falta de respostas, aquela pequena fonte de água é o que me acalma, como se, apesar de ser minha grande inimiga, a água também fosse a única resposta que realmente preciso.
Fitando as prateleiras que nos rodeiam, eu tento recuperar o ânimo para voltar às páginas e páginas dos livros daqui, lembrando-me que ao menos eu tenho autorização para explorá-las.
Este espaço em específico é proibido para quase todos, tudo deste último andar sendo proibido para quem não é um Cae reconhecido pelo grupo e com acesso especial dado por Samuel em pessoa. Isso, essa permissão para investigar a história Cae e seus segredos, de uma maneira meio desconcertante, é importante para mim. Sam, ao me incluir em suas pesquisas, tem me feito sentir especial de um jeito bom; é como se eu tivesse encontrado uma irmã mais velha que não sabia que tinha.
Estou mesmo surpreendida por Samuel ter aceitado nosso acordo silencioso e ter-me deixado ficar aqui com Sam, fazendo e procurando coisas que não deveriam sair do meio Cae, descobrindo detalhes sobre sua história que não deveriam estar ao alcance de qualquer um.
Os cantos de meus lábios sobem com este pensamento.
— O que acha deste?
Volto-me para Sam, inclinando sobre uma das três pequenas mesas que ocupa o pequeno salão fechado por todos os lados por prateleiras, saindo da exclusiva entrada e saída que é a abertura entre as estantes a Norte. Meu corpo se debruça sobre uma pilha de livros para enxergar o que ela mostra.
Meus dedos passeiam pelo mapa estelar que Sam apresenta, correndo pelos pontos de luz interligados por traços feitos por mãos humanas — não temos uma ideia específica do que estamos procurando. Nem ela nem eu sabemos ler mapas e mesmo assim continuamos a tentar entender o que fiz.
Não sou a única que acredita que meu desenho não passa de uma inutilidade.
— Eu acho que não — digo, por fim. Ela suspira. — Essas três estrelas estão no lugar errado e esta aqui nem deveria estar aparecendo.
— Certo, vou continuar procurando.
Eis o que temos feito nos dois dias que passamos neste cômodo: procurar. Victoria sugerira chamarmos Müller para ajudar-nos, mas ele tinha saído da Reserva para fazer contato com o Nono Acampamento Cae. E, mesmo estando a mero um portal — Argh! — de distância, é considerado pouco seguro nos contatarmos assim para algo tão importante e que deve permanecer em segredo para a maioria. Em especial se considerarmos que, por algum motivo que não me foi explicado, teríamos que sair da Reserva e ir para as terras que rodeiam a cidade, para o portal ser aberto; as terras em volta da mansão bloqueiam esse tipo de magia.
Bufo, folheando o livro de História da Astronomia do Século XXII, mirando com vagar as imagens que são ilustradas aqui e ali.
A verdade é que eu não sei bem o que estou fazendo. Eu não queria estar ajudando-os e usando habilidades que deveria não ter para isso. E, no final, eu quero. Quero ajudar a desvendar o enigma, quero encontrar as respostas que nem os Cae têm, quero saber por que me sinto atraída desta maneira pelo mistério que os envolve e porque isso me fez ficar quando tudo o que aprendi é que se importar é perigoso, e se importar com algo tão grande como a segurança de todo um povo pode ser letal. Quero compreender o que me fez ser atraída por essa gente que me instigou a permanecer com eles ao invés de ir embora como deveria; a sugestão de uma saída estratégica aparece de vez em quando em minha mente, durante a noite, quando o silêncio é minha solitária companhia.
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Artefatos de Sangue
Paranormal"Eu nunca quis ser parte disso. Nunca quis fazer parte dessa guerra. Nunca quis ter que escolher um lado. Mas, por eles, e por mim, eu finalmente queria tentar". Embarque nessa aventura, afogue-se nessa história enigmática e envolva-se num mundo de...