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MARCO

Milão
28, abril 1997

Ele não sentia mais nada, a dor do desespero já havia passado, o remorso por ter influenciado o irmão a mudar o ramos dos negócios desaparecido e o medo do que poderia acontecer dali pra frente também. Sobrou apenas o ódio e a sede por vingança.

Marco tirou de seu novo terno preto, as chaves de um carro que estava parado na garagem da casa de sua família a muito tempo. Ele nem se quer sabia se ele ainda pegava, ou se estava em boa forma, mas não queria fazer isso se não estivesse com o carro certo.

O carro era uma Mercedes-Benz 190 SL. Foi o primeiro carro que seu pai Vincent comprou com o dinheiro dos negócios. Quando criança, Marco ouviu dele várias histórias de aventuras que o mesmo havia vivido naquele carro. De quantos inimigos tinha deixado para trás, quantos momentos de felicidade e alguns de tristeza, mas que ali dentro também aprendeu a superar.

O carro foi simplesmente o símbolo de Vincent, que ele carregou pela vida inteira. Não importa qual jornal for, em qual país se falasse, sempre iriam associar ele ao carro preto brilhante como a lua. Os dois eram tanto quase que uma coisa só que Vincent morreu nele, ao levar um tiro pouco antes de entrar no carro. Marco nunca esqueceu de nem se quer 1 segundo do que aconteceu, por isso era tão especial pra ele, mesmo que o machucasse.

Então ele marcou no relógio, um temporizador para daqui 2 horas. Assim quer o tempo acabasse, não importava o contexto da situação, ele teria que voltar imediatamente para casa. Assim como tinha falado para seus fratellos.

Por fim, ele ligou o rádio e sumiu na neblina de Milão, que a muito tempo não aparecia. Dirigiu por cerca de 48 minutos até chegar ao seu primeiro destino. Marco já havia perdido 40% de seu tempo, então houve de se apressar.

Ele olhou bem para os dois lados antes de sair, para ter a certeza de que ninguém o seguia. Mas afinal, ele estava em uma rodovia solitária em um dia de muita chuva, qualquer um que aparecesse ali estava procurando tudo, menos ele. Ou será que não?

Ele seguiu de a pé dessa vez, entrou na floresta que cercava a pista onde passavam os carros e de longe pode ver o que procurava, talvez suspeitando se não estava aparente demais para seus meros olhos humanos. Mesmo assim continuou, mas dessa vez correndo para que não tivesse que adiar o plano.

O que havia ali, em mãos erradas podia gerar uma guerra maior do que ocorria naquele momento. No bunker secreto que seu avô havia construído durante a segunda guerra, armazenava armas de todos os tipos. Revólveres, metralhadoras e até algumas bazucas. E já que Fredo costumava guardar suas armas em um cofre especial na casa, Marco iria precisar de sua permissão e senha para pegar uma bala se quer. Então preferiu ir buscá-las em um lugar que não teria a quem pedir nada.

E percebeu quando deu seu primeiro passo para dentro do bunker que seus sapatos já não estavam brilhando, isso lhe gastaria mais tempo ainda. Em suma, ele queria aparecer apresentável para o homem que faria uma visita surpresa. Ou não tão surpresa assim.

Marco acendeu as luzes amareladas com um certo medo do que poderia ter naquele lugar abandonado a mais de uma geração. Mas para sua felicidade nada tinha além de armas, granadas, coletes a prova de balas e uma bandeira da Alemanha Nazista, que Fredo havia rasgado na última vez que visitou o lugar, muito antes da atual guerra começar.

Estava tudo empoeirado, as dezenas de armas organizadas por calibre, sendo do menor ao maior, da direita para a esquerda. Marco demorou cerca de 35 minutos entre a saída no carro até se equipar totalmente. O que correspondia a 53% do tempo total.

Então ele se apressou, pegou as armas e as granadas caso precisasse, e levou de um modo nada discreto até o porta malas de seu carro. Deixou lá as armas maiores eram essas: MP40 e FNAB-43. As granadas eram: Breda 35 e SRCM 35. Por fim, por debaixo do terno uma Magnum 44.

Ele entrou no carro rapidamente e, com a via livre deixou o velho -mas potente- carro chegar até os 160km/h na esperança de concluir o plano antes que o temporizador apitasse.

Diferentemente da viagem de ida, a volta durou menos que 15 minutos/ 82% do tempo total.

Ao chegar lá, parou o carro ao outro lado da rua, numa distância adequada da adega, para que os capangas de Coppola não suspeitassem de sua presença ali. Ele aguardou exatos 12 minutos no carro, observando o tráfego e pensando quais seriam as consequências da morte de Coppola. Talvez cadeia por alguns anos e retirada permanente da elite Italiana. Mas quem liga pra esses italianos safados?

E então quando o temporizador bateu a marca de 10 minutos restantes, percebeu ele que havia chegado a hora. Marco colocou os óculos escuros, aumentou o volume do rádio de forma que fosse possível escutar na rua inteira e saiu do carro.

Marco não se preocupou da forma que iria entrar em La Birra, ele não se preocupou em saber se iria ser pelas da frente, pelos tubos, pela porta dos fundos, janelas ou algo parecido. Mas se preocupou em ser discreto em um primeiro momento. Isso depois dele tirar a MP40 do porta-malas, claro. Mas mesmo assim ele seguiu com as pessoas gritando e correndo na rua o mais rápido que conseguiam. Já estava feito. Só faltava a tacada final.

Ele entrou na adega olhando para trás, e quando virou seu rosto para frente novamente, chegou a uma rápida e óbvia conclusão: ele estava cercado. Todas as armas, de aproximadamente 10 ou 11 homens apontavam unicamente para seu rosto. Ou ele matava Coppola naquele momento, ou era ele quem morria.

Entretanto, ele decidiu agir de forma inteligente. Jogou a MP no chão e a chutou em direção à Coppola.

— Faça você mesmo, se tem coragem. - desafiou Marco.

— O que? Não, claro que não... Ninguém vai te matar aqui, Marco. Estávamos apenas... Nos prevenindo, caso você matasse um de nós. Andem, abaixem as armas! Não estão vendo que ele se rendeu?

— É muita bondade da parte do senhor acreditar em minha lealdade. Vim a mando de meu irmão Al... -mentiu ele - Ah Dio... Acho que falei demais..

— Eu imaginei que veio a mando dele. Você é apenas um ragazzo, Marco. Sabemos que não tem coragem de matar se quer uma mosca. - ele riu- Esperem... Isso é Metallica? - perguntou o velho sobre a música que tocava ao lado de fora.

— Na verdade é Megadeth.

Então dando um susto em si mesmo, em Coppola e no resto dos homens com as armas rendidas, Marco sacou a Magnum tão rápido quando uma luz ascendendo e atirou à sua frente.

Acontece que a bala não atingiu Coppola, e sim seu filho que estava poucos metros atrás. Os capangas responderam dessa vez como uma luz apagando, e realmente apagou. Mas não era luz nenhuma. E sim os olhos de Marco de fechavam mais a cada tiro que ele tomava.

E pouco antes de não haver mais nada, ouviu um apito incessante e agudo que não era um solo de guitarra, muito menos uma ambulância.

Era o temporizador dizendo à ele para voltar para casa.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora